A marcha da insensatez

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O apequenamento do Brasil e da democracia assombra pela velocidade dos acontecimentos. O turbilhão de notícias preocupantes acende uma luz de alerta. O agravamento da crise política, a ausência de propostas para o enfrentamento da crise econômica e a verborragia ideológica empregada como cortina de fumaça e, ao mesmo tempo, fio condutor da política do governo colocam riscos severos de retrocessos para a democracia e de piora das condições de vida dos trabalhadores.

A tragédia de Brumadinho ganha contornos desesperadores pela conhecida posição de Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Em dezembro, já eleito, o presidente criticou o que chamou de “indústria das multas ambientais” e acusou fiscais do Ibama de excesso de preciosismo.

Em Davos, o presidente surpreendeu.

E não foi positivamente: seu discurso de 6 minutos, quando tinha direito a usar 45, foi uma compilação de tuítes genéricos: não apresentou um plano, uma estratégia, limitando-se a comentários rasos, um convite aos presentes para gozarem as férias no Brasil e uma promessa de fazer reformas e privatizar, sem dizer quais ou o quê. E ainda desmarcou uma coletiva internacional para se livrar de perguntas incômodas.

É que, nesse mesmo dia, o escândalo envolvendo Flavio Bolsonaro incendiou o noticiário. Senador eleito no pleito de 2018, Flavio empregou no seu mandato de deputado estadual a mãe e a esposa de um foragido da Justiça, chefe da milícia de Rio das Pedras e do grupo de extermínio Escritório do Crime e suspeito de participação no assassinato da vereadora Marielle Franco.

Além disso, Flavio prestou homenagens a milicianos na Alerj e defendeu as milícias durante a CPI que investigou as organizações criminosas.

As denúncias somam-se ao escândalo envolvendo o PM Fabrício Queiroz, motorista e segurança do parlamentar.

Enquanto isso, retrocessos na Lei de Acesso à Informação e a proposta de mudança das regras de investigação do COAF apontam para uma equação de solução simples:

menos transparência é igual a mais corrupção. Retrocesso aberrante, que reduz a possibilidade de a sociedade monitorar os gastos públicos e enfraquece os instrumentos de investigação. A coincidência com o escândalo protagonizado por Flavio é tão escandalosa.

A saída para a mudança da pauta encontrada pelo governo foi mergulhar fundo no conflito ocorrido na Venezuela. Preocupante: ao invés de investir esforços diplomáticos para buscar a paz, o governo atuou como incendiário, tomando lado na disputa, aumentando o risco de um confronto armado em um país vizinho e gerando instabilidade no Continente. É mais uma vez a verborragia ideológica sendo utilizada de forma irresponsável como tábua de salvação de um governo confuso e ainda sem rumo.

A desistência de Jean Wyllys do mandato parlamentar conquistado nas urnas em 2018 indica que a democracia vai mal. Jean, ameaçado de morte, revelou não ter mais condições de viver em semiconfinamento e sem ter a sua segurança garantida pelo Estado. A reação de Bolsonaro e de seu filho Carlos nas redes sociais foi repulsiva. Comemoraram a decisão do desafeto político como se não fosse responsabilidade do próprio governo zelar pela segurança de Jean, mandando às favas o compromisso com a democracia e o livre debate de ideias.

Assistimos ao desenrolar dos fatos com grande preocupação: em momentos de crise prolongada, as elites sempre impõem aos trabalhadores o pagamento da fatura. É fundamental unir a categoria, reforçar a ação sindical, preparar os trabalhadores para defender-se dos ataques que virão.

Já tivemos uma pequena prova do que o governo nos reserva nos últimos dias, com o Ministério da Economia fazendo manobras mil para descumprir vitória do Sintufrj na Justiça e manter o corte ilegal dos adicionais ocupacionais. Com a marcha da insensatez comandada pelo governo ganhando força, as reformas e privatizações prometidas em Davos colocam na mira os nossos empregos e direitos.

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