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Coordenadora da Câmara de Políticas Raciais sustenta que um dos compromissos do trabalho de heteroidentificação é justamente combater o racismo no país

As denúncias veiculadas pela mídia comercial contra decisões adotadas pela Comissão de Heteroidentificação da UFRJ foram rechaçadas pela reitora Denise Pires de Carvalho na sessão do Conselho Universitário (Consuni), na quinta-feira, 13.

Dias antes, a universidade publicou nota pública explicando como é feito o procedimento por características físicas e o direito a recurso do estudante considerado não apto.

A comissão de Heteroidentificação analisa os autodeclarados pretos e pardos aprovados para ingresso este ano nos cursos de graduação da instituição.

A coordenadora da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ, Denise Góes, foi incisiva ao rebater as acusações de racismo de candidatos considerados não aptos para ingresso pelo sistema de cotas étnicas.

“A comissão tem o compromisso inclusive com a luta pela erradicação do racismo no Brasil. E a lei de cotas vem corroborar com o acesso dos negros ao ensino superior. Por isso, não podemos ser acusados de racistas. Numa sociedade em que o racismo se manifesta pelo tom da pele e não através da origem da pessoa, o critério fenotípico tem que ser reafirmado para esse acesso”, sustentou.

No Consuni
A reitora fez uma longa explanação sobre o processo em curso de heteroidentificação dos autodeclarados pretos e pardos, respondendo a questionamentos de vários conselheiros no Consuni.

“Este era um compromisso da atual Reitoria com a pauta da diversidade e da inclusão, especificamente com as cotas étnicas que infelizmente estavam sendo fraudadas na nossa universidade. Iniciamos a montagem da Comissão de Heteroidentificação porque a lei de 2012 não era cuidada na UFRJ, enquanto todas as instituições estaduais e federais já tinham suas comissões. Portanto, estamos atrasados”, disse a reitora.

Recursos serão aceitos
Toda forma de recurso, segundo Denise Pires, está sendo analisada. Ela pediu tranquilidade à comunidade universitária, acreditando que haverá muitas manifestações contrárias nas mídias sociais e entrevistas nos jornais. A reitora também esclareceu que o processo de matrícula dos alunos é em março.

20% faltam na apresentação

Nos primeiros três dias o número de faltosos entre os convocados a se apresentar à Comissão de Heteroidentifcação chegou a mais de 20%. O que indica, segundo a reitora, que muitos não acreditavam que a UFRJ agiria com seriedade implantando a comissão, pois na opinião dela “não é normal mais de 20% de faltosos”. E concluiu dizendo que “nós passamos a ser uma instituição que vê com seriedade a lei de cotas”.

Total de aferidos
Denise Góes informou que em quatro dias de trabalho (três no Fundão e um em Macaé) foram analisados quase mil candidatos, mas a comissão ainda não tem o levantamento completo dos candidatos considerados aptos e não aptos.

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Núcleo de unidades fundadoras tem origem nos tempos do Império, mas a UFRJ floresceu na República 

Na primavera deste ano de 2020, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) faz 100 anos. O decreto de fundação da instituição foi assinado pelo presidente Epitácio Pessoa em 7 de setembro de 1920.

O documento sacramentava a reunião da Escola Politécnica e das faculdades de Medicina e Direito do Rio de Janeiro para formar a Universidade do Rio de Janeiro, lançando as bases do que viria se tornar a maior instituição pública de ensino superior do Brasil.

Uma nova etapa da história da universidade se deu já no primeiro governo de Getúlio Vargas. Dois anos antes do início da ditadura do Estado Novo, o então ministro da Educação e Saúde Pública do governo Vargas, Gustavo Capanema, formou, em julho de 1935, uma comissão encarregada de estudar sua ampliação.

Em 1937, a instituição passou a denominar-se Universidade do Brasil, reunindo 15 escolas ou faculdades e 16 institutos, alguns já existentes, além do Museu Nacional.

Precursores
O curso mais antigo entre as unidades fundadoras da UFRJ é o de engenharia, precursor da Escola Politécnica, que fez 225 anos em 2017. Já a Faculdade Nacional de Direito completou, em 2020, 190 anos.

Em 2018, foi a Faculdade de Medicina, oriunda da antiga Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, que completou 210 anos. A Escola de Belas Artes, de 1816, e o Museu Nacional, de 1818, também comemoraram o bicentenário.

Em 1965, com a reforma universitária, a Universidade do Brasil transformou-se na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela tem uma estrutura similar à de um município de médio porte. Formou uma sucessão de personagens notáveis como Osvaldo Aranha, os escritores Jorge Amado e Clarice Lispector, o arquiteto Oscar Niemeyer, os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, entre muitos outros.

EPITÁCIO Pessoa
GUSTAVO Capanema
GETÚLIO Vargas                                      

UFRJ em números

  • 3ª melhor universidade da América Latina
  • 5 áreas de estudo entre as 100 melhores do mundo  
  • 224 cursos de pós–graduação stricto sensu
  • 455 estudantes em intercâmbio 
  • 665 estudantes estrangeiros
  • 52.622 estudantes de graduação
  • 4.232 professores
  • Mais de 9.000 técnicos-administrativos
  • 9 hospitais e instituições de atenção à saúde
  • Mais de 1.700 projetos de extensão
  • 52 unidades
  • 1.456 laboratórios
  • 45 bibliotecas
  • 13 museus
  • 13 prédios tombados 

 

Nota de repúdio

Nós, da congregação, do conselho diretor e dos programas de Pós-graduação do IFCS (PPGF, PPGLM e PPGSA) repudiamos a nota do CNPq, na qual se anuncia o projeto de transformar a distribuição de bolsas em editais e chamadas públicas organizados pelo órgão, estipulando como critérios noções vagas como “inovação” e “projetos vinculados a modalidades e temáticas de áreas prioritárias e estratégicas para o MCTIC”. Nosso temor é que as humanidades acabem sendo profundamente prejudicadas, pois, o seu caráter de inovação não é facilmente mensurável. No entanto, não há inovação sem pensamento crítico, característica patente da produção acadêmica em ciências humanas. Além disso, preocupa-nos o futuro dos nossos cursos de pós-graduação: seja porque não terão autonomia na distribuição de bolsas, a partir das análises internas à área de mérito; seja porque, sem bolsa, nossos alunos dificilmente poderiam cursá-los. Conclamamos nossa comunidade universitária para rejeitar, terminantemente, os termos dessa proposta injusta, pouco inclusiva e sem uma visão global da consiliência entre saberes.

Março das mulheres, greve geral da educação e congresso do Sintufrj. Confira a agenda do mês.