Covid-19: “Não é para abrir. É para fechar mais”, alerta epidemiologista da UFRJ

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Roberto Medronho observa que “nenhum país do mundo flexibilizou na ascendência da curva”

“Não é para abrir. É para fechar mais”. O alerta é do epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, Roberto Medronho, diante da flexibilização do isolamento social pelos governos. “Nenhum país do mundo abriu na ascendência da curva; eu tenho muito medo que exploda”. As autoridades, segundo ele, deveriam esperar: “É hora da gente dar uma boa segurada para quando liberar, (a situação) está mais tranquila”,

Medronho coordena o Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 GT da UFRJ, que recomendou a adoção do Lockdown (bloqueio total) para o município e o Estado do Rio de Janeiro. “Isso significa que é para aumentar ainda mais o nível de isolamento social. Mas, a prefeitura e o governo estadual, pressionados por questões econômicas e políticas, resolveram adotar o sentido contrário do que estamos propondo”, lamenta.

O especialista prevê que a flexibilização terá como impacto o aumento do número de casos e de óbitos, e postergará ainda mais o “momento de retorno a um nível de atividade próximo do normal.”

“Espero que autoridades estejam corretas, embora tenha certeza que não estão tomando decisões baseadas na ciência, mas em interesses econômicos e políticos. Isso pode trazer mais sofrimento, mais mortes. Eles não pensam é que um povo adoecendo e morrendo não recupera nenhuma economia, nem aqui e em nenhum outro lugar do mundo”.

 

Com relação a UFRJ, que tem autonomia universitária, Medronho acredita o retorno total às atividades presenciais somente ocorrerá quando houver realmente segurança para os técnicos-administrativos, docentes e alunos.

A flexibilização, segundo Medronho, é a mais clara expressão do desprezo que os governos e a elite econômica têm para com o povo. “Espero que nossa elite econômica, em sua maioria discriminatória, preconceituosa, resultado de uma sociedade marcadamente escravocrata e que nunca se preocupa especialmente com o povo negro, não pela vontade dela, mas pela luta do povo, deixe de ficar morando de frente para o mar e de costas para o Brasil”, apontou o professor.

“No mundo, e nós, no Brasil, vamos ter que refletir profundamente sobre que mundo é esse que estamos vivendo e qual mundo queremos. Não será a última pandemia que viveremos, principalmente se não mudarmos nosso modo de produção, de organização social, o nosso modo de vida”, ponderou.

Retorno às aulas

Ainda não dá, segundo Medronho, para prever quando poderá haver aulas presenciais e nem em grandes anfiteatros. Principalmente com o afrouxamento do isolamento social, cuja tendência, alertou, é que haja um repique da Covid-19, prolongando ainda mais a volta à normalidade.

Na avaliação do epidemiologista, a volta das atividades acadêmicas só de forma remota. “E, quando voltarmos, é muito provável que não seja como antes da pandemia, com salas de aulas lotadas e aglomerações acontecendo na hora do almoço, como fila nos bandejões, todo mundo sem máscara. Nada disso será possível. Talvez (a normalidade) possa ir retornando aos poucos, num mix de modo remoto e presencial, com as pessoas tomando o devido cuidado com relação ao uso de máscara e a higiene das mãos”.

Medronho é favorável a instalação do ensino remoto o mais depressa possível “para que possamos estar em contato com os alunos, discutindo questões, inclusive, sobre a pandemia, e entender como ela afeta diversas áreas da ciência. A volta remota de atividades acadêmicas permitirá que possamos, através do conhecimento, elaborar propostas mais precisas para nós e toda a sociedade”.

Mas, ele defende que a universidade tem que garantir suporte para que todos os alunos tenham acesso aos conteúdos remoto.

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