QUEREMOS VACINA NO BRAÇO E COMIDA NO PRATO!

20 de abril : Dia nacional de luta e conscientização

Contra a fome, o congresso nacional tem que votar e aprovar o Auxílio de R$600 até o fim da pandemia

Ação unitária reunindo centrais sindicais, movimentos sociais ligados à Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo e ainda centenas de organizações da sociedade civil engajadas na Campanha Renda Básica que Queremos e na Campanha Fora Bolsonaro pretende chamar a atenção do país na próxima terça-feira, dia 20 de abril para a urgência do Congresso Nacional restituir o auxílio emergencial de R$600 e adotar medidas para acelerar o processo de vacinação através do SUS, para todas as pessoas.

A condução dos dois temas pelo presidente Jair Bolsonaro é criminosa. O governo deixou o país para trás na fila mundial das vacinas, o que permitiu o aumento no número de casos e de mortes por covid-19 e adiou o fim da pandemia no Brasil. Depois de quatro meses sem apoio à sobrevivência da população mais pobre, o novo auxílio proposto pelo governo atende menos pessoas, por menos tempo e com um valor que não compra nem meia cesta básica.

Este documento tem por objetivo detalhar nossas orientações para as ações a serem desenvolvidas pela militância sindical e popular.

Mutirão nacional de colagem de cartazes e lambes

Essa é nossa iniciativa prioritária para esse dia 20 de abril.

Sindicatos, partidos, movimentos e entidades devem providenciar a reprodução e colagem dos cartazes que sintetizam nosso desejo mais urgente para todo o povo brasileiro: VACINA NO BRAÇO E COMIDA NO PRATO.

As artes sugeridas estão disponíveis em diversos formatos, inclusive para reprodução em gráfica, no link: https://bit.ly/3mPqTa1

Outras ações

As centrais sindicais produziram um panfleto que será reproduzido e distribuído em todo o país, nos locais de trabalho e terminais de transporte. A arte está disponível aqui: https://bit.ly/3mPqTa1

Sugerimos a todos os sindicatos e ativistas que tenham acesso a um projetor que realizem um projetaço usando sua criatividade e as artes sugeridas para esse dia de ação na noite do dia 20 de abril.

Ação nas redes sociais

É muito importante darmos ampla visibilidade ao nosso esforço de marcar as cidades com nosso protesto.

Se você participar de qualquer uma das ações sugeridas, vir nossos cartazes ou projeções, fotografe, filme e poste nas suas redes sociais e da sua organização.

Para que todos nós possamos ver e saber que estamos engajados no mesmo movimento use a hashtag #VacinanoBraçoeComidanoPrato nas suas postagens.

Isso é muito importante também para que a nossa rede de comunicação colaborativa possa repercutir todas as ações realizadas nesse dia.

 

Campanha Fora Bolsonaro

Campanha Renda Básica que Queremos

Frente Brasil Popular

Frente Povo Sem Medo

Centrais Sindicais:

CUT

Força Sindical

UGT

CTB

Nova Central 

CSB

CGTB

Intersindical Central

Pública

 

A Associação dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ASUNIRIO) manifestou em nota pública à entidade, na quinta-feira, 15, seu apoio à campanha do Sintufrj “Vacina no braço, Comida no prato: Fora Bolsonaro”, lançada no dia 9 de abril. A ação do Sindicato despertou a ira de apoiadores bolsonaristas que ameaçam depredar a sede da entidade.   

Confira a nota na íntegra:

 

 

A economista Juliane Furno desmistifica fakes news que expõem negativamente os serviços públicos no Brasil com o objetivo de cooptar a adesão da população para a reforma administrativa proposta pelo governo Bolsonaro. O vídeo feito por ela encontra-se à disposição dos interessados em seu canal no Youtube:

 “Queremos desmitificar essa ideia de que o Estado é excessivamente grande no Brasil e que o conjunto do servidor público é um problema que precisa ser solucionado com mais corte de salário e de servidores. Em última instância é o corte do serviço público, porque no Brasil esse serviço depende muito do profissional servidor público que o exerce”, explica Furno. 

“Hoje serviços públicos são gratuitos (ensino, saúde, segurança entre outras pr4stações de serviços à população outros), mas amanhã, se a reforma administrativa for aprovada, terão de ser pagos, pois o Estado irá deixar de prestá-los. É o que propõe no fundo a Proposta de Emenda Constitucional nº 32, a chamada PEC da Reforma Administrativa que está em tramitação no Congresso Nacional”, avisa a economista.

Juliane Furno é mestra em Desenvolvimento Econômico pela  Unicamp, onde também cursa doutorado em Desenvolvimento Econômico no Centro de Estudos em Economia do Trabalho e Sindicalismo (Cesit). Sua linha de pesquisa é em Economia Social e do Trabalho. 

Essencialidade em risco

Segundo Furno, a PEC 32 está voltada apenas para o Poder Executivo, cujo alvo são os trabalhadores dos serviços públicos essenciais, como saúde e educação.

“A PEC 32 é mais uma tentativa de desmontar e reduzir o tamanho do Estado para os serviços sociais, ou seja, tentam pintar uma imagem de que o servidor público é excessivamente privilegiado no Brasil enquanto foca justamente no Executivo, onde principalmente os trabalhadores são da saúde e da educação, trabalhadores dos estados e municípios. Aqueles servidores que prestam serviço essencial e que têm uma remuneração muito mais baixa em relação àqueles que costumamos pensar quando se fala em servidor público de carreira, supostamente mais privilegiado”, detalha. 

Seis fake news contra os servidores

No vídeo “Reforma Administrativa e as fake news sobre os servidores públicos!”, que reproduzimos em parte aqui, Juliane Furno desmistifica as mentiras disseminadas contra os servidores públicos para justificar a proposta do governo Jair Bolsonaro de reforma administrativa. Confira:  

1-Salários altos e muitas vantagens

“Essa reforma só vale para o Poder Executivo. O real problema do serviço público, no que tange aos altos salários e vários benefícios, está nos Poderes Judiciário e Legislativo, e também  nas Forças Armadas. É onde, pasmem, a reforma administrativa não se aplica”.

2-Gastos com saúde e educação são inferiores ao gasto com servidores

“Matéria veiculada no Jornal Nacional informou que o gasto no PIB era de 13,7% com salários de servidores; 3,9% em saúde e 6% em educação. Aqui já tem um problema que é uma dupla contagem. Gasto com servidores públicos e gasto com saúde e educação não se separam, porque parte fundamental do gasto em saúde e educação são os salários dos servidores.

O montante pago em salário nada mais é do que o próprio gasto em saúde e educação, porque a educação e a saúde precisam de estrutura física sim, mas o mais importante é a existência do professor e do médico do setor público. Então não é possível separar gasto com saúde e educação do gasto com pessoal no Brasil”.

3-Brasil é o país que mais gasta com servidores no mundo

“O total do gasto com servidores no Brasil é de 13% do PIB, segundo dado da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas não calculam apenas os ativos, juntam no cálculo servidores aposentados. 

Utilizam também uma operação contábil intraorçamentária – a receita vinculada da Previdência Social do PIS/Cofins – para dizer que é um gasto a mais do governo. 

O próprio Banco Mundial, em um estudo chamado “Ajuste Justo”, mostra que o total dos servidores públicos no Brasil e o tamanho do Estado não são excessivamente grandes.

Um outro estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico composta por 35 países do qual o Brasil faz parte), que se chama “Panorama das Administrações Públicas”, mostra que o Brasil tem um total de 12% dos trabalhadores no serviço público. Isso é bem inferior à média dos serviços públicos com relação aos trabalhadores no total da própria OCDE que está em torno de 20%”.

4-Servidores ganham muito

“Isso não é verdade. A maioria dos servidores públicos no Brasil está ou nos estados ou principalmente nos municípios, ou seja, são trabalhadores que em sua maioria estão alocados em áreas como saúde, educação e segurança e recebem uma média salarial muito baixa, em torno de 3 mil reais.

Muita gente fala que o prêmio salarial é muito maior no serviço público do que no setor privado. Eles alegam que essas ocupações pagam muito menos quando exercidas no setor privado.

Em primeiro lugar, esse prêmio salarial é quase inexistente justamente onde mais se concentra os trabalhadores públicos, que é na saúde e na educação e é em nível municipal. Então, esses trabalhadores, no nível básico, costumam receber nos municípios menos do que é pago na iniciativa privada, por esses mesmos serviços.

Além disso, a diferença de remuneração tem relação com o fato de que a escolaridade no serviço público é muito maior do que na iniciativa privada. Na União, 75% dos servidores na ativa têm graduação ou pós-graduação, enquanto no setor privado isso chega a 10%.

Por fim, o mais problemático da diferença de remuneração entre o setor público e o privado se justifica pela precariedade que é o mercado de trabalho privado no Brasil. O salário dos brasileiros é muito baixo e não dá para nivelar por baixo esse padrão do salário da remuneração do servidor público.

Para encerrar, é claro que o serviço público paga um pouco mais do que o setor privado. Porque a gente quer justamente que o povo seja atendido pelos melhores profissionais. Por isso é importante não perder os bons professores para o setor privado. E  por isso o setor público no mundo paga relativamente mais do que no setor privado”.

5-Gastos com pessoal cresceu exorbitantemente, necessário então reduzir o número de trabalhadores e salários dos servidores públicos

“Isso também não é verdade. De fato, houve um aumento no montante do gasto com salários que cresceu bastante nesse último período, isso porque teve aumento na contratação de trabalhadores. Está ligado com a responsabilização de estados e municípios que passaram a ter sobre os serviços públicos essenciais com a Constituição de 1988.

As despesas com serviço público no nível federal, por exemplo, estão estabilizadas em relação ao PIB há pelo menos 20 anos. E isso está bem abaixo do limite permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

6-Servidores são preguiçosos e se aproveitam da estabilidade

Não é verdade que os servidores públicos não possam ser demitidos no Brasil.

Existem mecanismos de controle e avaliação, que inclusive podem levar a exoneração. A diferença é que isso precisa passar por um processo judicial e não pode ficar à mercê da escolha do chefe.

É muito importante que exista a estabilidade, porque ela garante que os serviços tenham continuidade, independentemente do governo de ocasião. Ela blinda os servidores públicos de algumas chantagens políticas. É isso que permite o livre pensar nas universidades, que os servidores sigam autuando empresas que desrespeitam o meio ambiente ou que usam o trabalho análogo ao escravo. 

Um exemplo é a barragem do Fundão, em Minas Gerais, operada pela empresa Vale do Rio Doce. Pesquisadores da UFMG, justamente pela estabilidade e liberdade de pensamento e exercício crítico da ciência, já tinham alertado para os riscos de rompimento”.

 

 

 

Em meio a mais grave crise sanitária, econômica e política, cujo saldo são milhares de vítimas atingidas pela Covid-19 e/ou pela miséria que se agrava no país, não se pode deixar passar o negacionismo trasvestido de ciência. A campanha do Sintufrj “Vacina no braço, comida no prato: Fora Bolsonaro!”, denuncia essa situação de desespero que se abateu sobre a população brasileira e exige providências do governo federal neofacista.

No dia 12 de abril, o governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, criou um comitê de apoio científico para políticas públicas de enfrentamento à Covid-19, e nomeou o infectologista e professor da UFRJ Edimilson Migowski para presidi-lo. Entre os 10 médicos e cientistas participantes, ao menos seis já se posicionaram publicamente favoráveis a tratamentos precoces contra a doença, como o uso de remédios sem eficácia comprovada, e contra restrições, como o lockdown para conter o avanço do cortonavírus.  

Edimilson Migowski, por exemplo, tem utilizado suas mídias sociais para defender o uso do vermífugo nitazoxanida como  tratamento precoce de sintomas da Covid-19. A guerra contra a ciência e o bom senso mundial o especialista trava desde a chegada da pandemia no Brasil. Em outubro de 2020, ele realizou  a live “A ditadura da medicina baseada em evidências”, com a participação do médico Guili Pech (também integrante do comitê do governador) e, em março deste ano, em seu perfil no Instagram divulgou outra live, cujo título era “Lockdown é para gestores incompetentes”.

UFRJ nada tem a ver com isso 

Interpelada pela imprensa, a Reitoria reafirmou que Edimilson Migowski se posiciona por ele próprio, que a UFRJ não compactua com suas crenças, que não houve indicação da UFRJ para o governo do Estado do Rio, que o docente não é médico na UFRJ e que a instituição não tem protocolos com medicação precoce em seus hospitais.

“Não preconizamos o uso de medicamentos que ainda estão em testes, sejam estes pré-clínicos ou clínicos, em quaisquer fases da Covid-19. Todos os estudos clínicos coordenados por pesquisadores da UFRJ devem, antes, ser aprovados pelos Comitês de Ética em Pesquisa e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa”, diz o texto de uma nota divulgada pela UFRJ no dia 18 de março, antes da nomeação de Migowisk para o comitê do governador. 

Comitê reproduz Bolsonaro

O comitê de apoio científico instituído pelo governador do Rio  defende e dissemina as ações inconseqüentes do presidente da República Bolsonaro no trato da pandemia, condenadas pela ciência e que já custaram vidas. Enquanto isso, o Estado do Rio acumula 40 mil óbitos por Covid-19, uma das mais altas taxas de mortalidade em consequência do coronavírus no país. 

Bolsonaro é contra o isolamento social e favorável ao kit criminoso de tratamento preventivo à Covid. Em março, a OMS publicou diretriz em que pede fortemente que a hidroxicloroquina  não seja usada como tratamento da doença. 

Mesmo assim, a imprensa brasileira tem noticiado o uso da substância acompanhado de desfechos trágicos. Como foi o caso da paciente de 33 anos que morreu com a Covid após nebulização de hidroxicloroquina, em Manaus (27 dias após o parto). Segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas, o procedimento foi de iniciativa de uma ginecologista paulistana que atuou por cinco dias na maternidade em que a paciente estava internada. Uma sindicância foi aberta pela secretaria para apurar o caso e a médica foi afastada. 

Simulação no IPPMG indignou comunidade

Em 22 de março de 2012, o Conselho Universitário da UFRJ aprovou uma moção de repúdio a qualquer tentativa de associar seu corpo técnico-administrativo a práticas escusas. 

A iniciativa da bancada técnico-administrativa foi motivada pela  repercussão da reportagem no Fantástico da TV Globo, no dia 18 de março. Um repórter se passou por gestor de compras do IPPMG, que na época era dirigido por Eduardo Migowski, para desmascarar empresas envolvidas em licitações fraudulentas. 

“É um absurdo a irresponsabilidade de quem tomou a atitude de usar o hospital como cenário porque não expôs só o IPPMG e seus funcionários, mas a UFRJ e seus trabalhadores” – afirmou a direção do Sintufrj no editorial do jornal da entidade, na ocasião. 

Segundo a moção, o caráter de simulação apresentado na reportagem induzia a conclusões generalizadas, levando a acreditar que aquelas são práticas correntes do IPPMG ou da UFRJ, colocando sob suspeição todo o corpo de servidores.

Os técnico-administrativos do IPPMG exigiram que Edimilson Migowisk se explicasse publicamente porque franqueou o hospital para a simulação, colocando a população contra o serviço público e seus servidores. A Decania do Centro de Ciências da Saúde e a Reitoria não foram informadas por ele sobre a reportagem.

 

 

 

Julgamento deve continuar nos próximos dias para definir se a incompetência implica na anulação da suspeição de Moro

Redação: Brasil de Fato | São Paulo (SP) |15 de Abril de 2021

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos a 3, na tarde desta quinta-feira (15), pela manutenção da decisão do ministro Edson Fachin no Habeas Corpus (HC) 193.726, que reconheceu a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) para julgar as ações penais da Lava Jato contra o ex-presidente Lula (PT).

Com isso, o petista mantém seus direitos políticos e a possibilidade de se candidatar à Presidência em 2022. As ações penais que estavam no Paraná deverão ser encaminhadas a Brasília (DF), conforme determinou Fachin no último dia 8.

Os votos divergentes foram de Kassio  Nunes Marques, Marco Aurélio Mello e Luiz Fux. Formaram a maioria, os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Tofolli, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

Suspeição

O plenário do Supremo deve decidir na próxima semana se a incompetência implica na anulação da decisão da 2ª Turma sobre a suspeição ou parcialidade do ex-juiz Sergio Moro, como propõe Fachin.

Também fica pendente a confirmação de qual foro receberá as ações que estavam em Curitiba.

O relatório de Fachin

O relator Edson Fachin começou a apresentar seu voto por volta das 14h25.

Logo ao início do pronunciamento, adiantou que considerava improcedente o recurso da Procuradoria-Geral da República (PGR) que alegava competência da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) para julgar as ações contra Lula.

Fachin citou o ex-ministro Teori Zavascki e disse que segue o entendimento consolidado pelo plenário ao reafirmar a incompetência da Vara de Curitiba.

“A homologação de acordos de colaboração premiada não constitui critério para definição de competência”, disse. 

Ao citar outro colega, Dias Toffoli, Fachin reforçou: “Os fatos que geraram a Lava Jato são relacionados à Petrobras. Independentemente de algumas pessoas serem acusadas aqui e ali, isso não pode transformar a 13ª Vara Federal de Curitiba em um juízo universal.”

O voto durou cerca de 1h30. Em seguida, a sessão entrou em intervalo regimental de 30 minutos.

Nunes Marques não quer anulação

O segundo a votar foi Kassio Nunes Marques. O ministro, nomeado por Jair Bolsonaro, citou informações já desmentidas pela Justiça sobre os casos “triplex do Guarujá” e “sítio de Atibaia”.

Depois de mencionar que o STF já havia reconhecido a competência da 13ª Vara Federal anteriormente, Nunes Marques também citou denúncias envolvendo “empresas na região metropolitana de Curitiba”, ressaltando a proximidade com o juízo.

Até o procurador Deltan Dallagnol, segundo mensagens vazadas da Lava Jato, considera esse elo “capenga”.

Por fim, o ministro do Supremo disse ainda que “a gravidade da incompetência territorial, que não reconheço, é mínima.”

“A eventual incompetência territorial, apontada pelo relator, não resultou em prejuízo à defesa”, afirmou Nunes Marques, ignorando que Lula ficou preso por 580 dias. Para ele, os atos não podem ser todos anulados em razão da eventual incompetência.

Para Moraes, competência garante neutralidade

Com o placar empatado em 1 a 1, era a vez do ministro Alexandre de Moraes.

Antes desse voto, Cristiano Zanin, advogado de Lula, pediu a palavra e lembrou:

“Segundo o próprio Sergio Moro, já declarado parcial pela 2ª Turma, este juízo jamais afirmou que valores obtidos pela OAS nos contratos com a Petrobras foram usados para pagar vantagem indevida ao ex-presidente.”

Alexandre de Moraes iniciou seu voto ressaltando a importância do princípio do juiz natural.

“O que está sendo julgado aqui é o princípio do juiz natural, uma proteção garantida pela Constituição Federal que é minha, nossa, de toda a sociedade”, afirmou.

“O juiz não pode escolher o que vai julgar, nem as partes podem escolher quem vai julgar. Isso garante neutralidade do Judiciário e segurança da sociedade contra o arbítrio estatal”, completou o ministro.

Feitas essas considerações, Moraes desempatou o placar para 2 a 1 pela incompetência da Vara de Curitiba:

“Uma alegação genérica de que há uma organização criminosa que atua em várias frentes, sem identificar uma relação específica caso a caso, não serve para fixar competência”, argumentou.

A única discordância de Moraes em relação ao relator Fachin é sobre o envio das ações para a Justiça Federal em Brasília. O ministro também não vê competência naquele juízo para assumir as ações contra Lula.

Weber se baseia na colegialidade

A ministra Rosa Weber ampliou o placar para 3 a 1, concordando com o relatório de Fachin.

“Não identifico elementos que debilitem a decisão monocrática do relator. Há uma relação muito distante entre as condutas imputadas e sua repercussão sobre o patrimônio da Petrobras”, disse.

Para Weber, devem ser anulados apenas os atos decisórios, e não a totalidade dos processos, ao serem transferidos a Brasília.

Votos em tempo recorde

Na sequência, o ministro Dias Toffoli fez um voto ágil. Em menos de dois minutos, disse concordar com o relator Fachin e ampliou o placar para 4 a 1.

Após proposta de adiamento da sessão, os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Carmen Lúcia e Luís Barroso também adiantaram seus votos, em concordância com o relator.

Quando a maioria já estava formada, o presidente da corte, Luiz Fux, decidiu votar também, integrando a minoria e fechando o placar em 8 a 3 pela incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula.

Edição: Vinícius Segalla

Com a decisão do plenário, Lula pode se candidatar em 2022 – Miguel SCHINCARIOL / AFP

 

 

 

Redução da proteção ao trabalhador não resolveu problema do desemprego e fez regredir a qualidade de vida no país

Daniel Giovanaz. Brasil de Fato | São Paulo (SP) |15/4/2021

Terceirização irrestrita. Reformas trabalhista e da Previdência. Fim do Ministério do Trabalho. O impeachment de 2016, da então presidenta Dilma Rousseff (PT), abriu caminho para uma destruição em série dos direitos trabalhistas no Brasil.

Passados cinco anos, a promessa de geração de vagas de trabalho não se cumpriu, e as condições de vida dos trabalhadores brasileiros só pioram. Nesta semana, o Brasil de Fato publica uma série de reportagens acerca do impeachment, abordando o contexto da época e seus desdobramentos até os dias de hoje. Veja, na coluna à direita, as reportagens já publicadas.

A situação já era dramática antes da pandemia, que agregou contornos de crueldade. Os trabalhadores sem carteira assinada e “por conta própria”, que se tornaram maioria em 2017, foram os mais atingidos, e hoje dependem de um auxílio emergencial que não banca nem metade da cesta básica.

Histórico

A substituição de Dilma Rousseff pelo vice Michel Temer (PMDB) – “com o Supremo, com tudo” – deu condições para aplicação de uma agenda econômica que ficou latente por 20 anos.

“As questões que aparecem na reforma trabalhista [de 2017] começaram a ser introduzidas nos anos 1990, no governo Fernando Henrique [PSDB]”, recorda José Dari Krein, doutor em Economia Social e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 “Na época, não foi alterada a legislação pré-existente, mas houve mudanças em elementos centrais da relação de emprego, sobre as formas de remuneração, contratações atípicas, precárias, e também sobre flexibilização da jornada de trabalho”, completa.

No final daquela década, o setor empresarial já pressionava, por exemplo, pela prevalência do “negociado sobre o legislado”.

A ideia era que os patrões pudessem estabelecer condições diretamente com o empregado, sem a obrigatoriedade da participação ou mediação de entidades sindicais. O argumento – que nunca foi comprovado na prática – era que essas condições encareciam a mão de obra, impediam a geração de empregos e limitavam a produtividade.

O início dos governos PT, com um ciclo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e dos níveis de emprego e renda, esfriou essa demanda empresarial por quase uma década.

Da mesma forma, quando a economia brasileira começou a sentir os primeiros efeitos da crise mundial, as pressões recomeçaram. Já no governo Dilma, ocorreram retrocessos trabalhistas, como cortes no valor do abono do PIS e do seguro-desemprego.

Além da desoneração das folhas salariais, a agenda empresarial forçou a desvalorização da moeda e a diminuição da taxa de juros com o pretexto de estimular investimentos no país.

A adoção de parte dessa cartilha por Dilma não surtiu efeitos positivos, e o PIB brasileiro encolheu 7,5% em dois anos. O mau desempenho econômico caiu como uma luva para setores da oposição, derrotados na eleição de 2014, que buscavam a todo custo um pretexto para substituir o governo.

Ponte para o futuro abismo

Segundo os entrevistados, o impeachment de 2016 foi resultado de insatisfações de parte da elite política – insatisfeita com o diálogo de Dilma com o Congresso – e econômica, que exigia cortes mais drásticos no gasto público e redução nos custos com mão de obra.

O documento “Ponte para o Futuro”, do PMDB, materializava já em outubro de 2015 o pacto de Temer com esses interesses. A primeira medida, em dezembro de 2016, foi a aprovação da Emenda Constitucional (EC) 95, que congelou os investimentos em áreas como saúde e educação por 20 anos.

“Essa aprovação marca uma mudança concreta de projeto de país, que abre caminho para todas as reformas que vêm a seguir”, afirma Patrícia Pelatieri, coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“Boa parte da tragédia que a gente vive hoje tem a ver com as escolhas políticas feitas a partir de 2014, e muito aprofundadas a partir do impeachment de 2016”, acrescenta a pesquisadora.

Para Pelatieri, os retrocessos na legislação trabalhista devem ser lidos como parte de uma agenda que envolveu, além do “Teto de Gastos”, privatizações, mudanças na política de preços da Petrobras e desfinanciamento da agricultura familiar, elevando o preço dos alimentos e propiciando a volta da fome.

Rasgando a CLT

Se 2016 foi difícil para os trabalhadores brasileiros, as mudanças introduzidas no ano seguinte se mostraram ainda mais devastadoras.

Em março, o Congresso aprovou a “terceirização irrestrita”, mesmo quando se trata da atividade-fim das empresas em questão. Todos os entrevistados ouvidos pela reportagem enfatizaram o agravamento da precarização a partir dessa medida.

Era o prenúncio da reforma trabalhista, aprovada em julho.

“Ela tramitou em tempo recorde. Em seis meses, foram introduzidas mais de 200 modificações na legislação”, ressalta a economista Marilane Teixeira, assessora sindical na área de trabalho e gênero e integrante do Fórum Permanente em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização.

Só na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), foram 130 alterações. Nenhuma delas ampliou direitos dos empregados, frente aos empregadores.

“A legislação deveria dar conta de proteger o elo mais frágil da relação capital-trabalho, que é o trabalhador. A reforma trabalhista faz uma inversão dessa lógica. Ela tem objetivo de cortar custos relacionados à contratação, remuneração, intervalos entre jornadas, deslocamento, saúde e segurança”, enfatiza Pelatieri.

Tic-tac

Para o professor José Dari Krein, um dos elementos mais importantes dessa reforma é a gestão do tempo. “O aspecto central da reforma é viabilizar o mercado de trabalho flexível, ampliar a liberdade do empregador de gerir a força de trabalho de acordo com o que é mais conveniente com o seu negócio, no tempo e no espaço”, analisa.

“Aumentar a liberdade da empresa significa diminuir a possibilidade de o trabalhador organizar sua vida pessoal. Porque ele passa a estar muito mais tempo em função do trabalho do que antes da reforma”, acrescenta o especialista.

O chamado “trabalho intermitente”, previsto na reforma, radicalizou essa situação. “Nessa modalidade, o trabalhador deve estar à disposição da empresa para o que ela precisar, do jeito que ela quiser. Chegando ao cúmulo de o trabalhador ter que pagar multa quando não atende essa solicitação”, explica a pesquisadora do Dieese.

Os contratos intermitentes, uma das principais apostas da equipe econômica de Temer para geração de empregos, representaram 19% das novas contratações com carteira assinada no Brasil em 2019, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Já do total de brasileiros com carteira assinada, apenas 1% possuem contratos intermitentes.

Entre os contratos existentes, cerca de 1/4 nunca se concretizaram. Ou seja, o trabalhar nunca foi chamado pela empresa. “Em 2019, 25% dos contratos intermitentes não tiveram uma hora de trabalho, nem rendimento. Não saiu da gaveta”, afirma Pelatieri.

O fracasso dessa modalidade não significa que a reforma não produziu efeitos negativos. Em paralelo à liberação dos contratos intermitentes, foi aberto um leque de outras opções flexibilizadoras.

Trabalhadores terceirizados têm mais risco de acidente em frigoríficos, diz sindicalista / MPT-RS/Divulgação

Vínculos que antes feriam a CLT, como a contratação de empregados via Pessoa Jurídica (PJ) ou Microempreendedor Individual (MEI), foram legalizados imediatamente, empurrando milhões de pessoas para a situação de informalidade ou de “trabalhador por conta própria”.

Dos 6 milhões de empregos prometidos pela equipe de Temer, foram gerados menos de 1 milhão, até o início da pandemia.

Sindicatos e Justiça do Trabalho no alvo

Em outras palavras, Temer ofereceu opções “mais vantajosas” para os empregadores do que a carteira assinada, deixando milhões de trabalhadores vulneráveis.

“O que ele fez foi substituir o trabalho formal, o assalariamento, com direitos e proteção social, pelo trabalho por conta própria, informal, favorecido por outras duas grandes medidas adotadas na reforma trabalhista: o enfraquecimento dos sindicatos e da Justiça do Trabalho”, interpreta a economista Marilane Teixeira.

O fim do Ministério do Trabalho, o desinvestimento nos órgãos de fiscalização, e a extinção da contribuição sindical obrigatória mostraram que “a ideia era, de fato, desmontar e desestruturar a organização dos trabalhadores” – nas palavras de Pelatieri, do Dieese.

:: Leia também: “Lista suja” é divulgada, mas desmonte freia combate à escravidão na pandemia ::

O “negociado sobre o legislado” também passou a vigorar, como queria parte do setor empresarial desde os anos 1990. Ou seja, o resultado da negociação entre patrão e empregado, em condições evidentemente desiguais, pode se sobrepor ao texto da lei.

Para completar, a partir da reforma, o empregado que entrar com ação trabalhista e perder, no tribunal, fica obrigado a pagar os custos processuais da empresa. O objetivo, segundo Krein, era “inibir as pessoas a reclamarem seus direitos”.

Dois anos após a reforma, o número de ações trabalhistas caiu 32%.

Reforma da Previdência

A cereja desse bolo, com gosto amargo para os trabalhadores, era a reforma da Previdência. Para Teixeira, o governo Temer só não conseguiu aprová-la porque 2018 era ano eleitoral.

“Parte dos parlamentares não quiseram se indispor com a sociedade diante de uma reforma absolutamente contrária aos interesses da classe trabalhadora, e cujos prejuízos eram ainda mais evidentes do que na trabalhista”, avalia.

A pesquisadora lembra que o argumento mais usado pelos setores favoráveis à reforma era falso. “A gente demonstrou, em vários estudos e publicações, que o sistema de Seguridade Social nunca foi deficitário. E, mesmo a Previdência em si, só registrou déficit no momento da crise, em que houve queda na capacidade de arrecadação do Estado”.

Coube a Jair Bolsonaro (sem partido), apoiador do impeachment, sancionar a reforma da Previdência em 2019 – com regras mais favoráveis para militares, que conformam sua base de apoio.

A idade mínima para aposentadoria de mulheres passou de 60 para 62 anos, com regras específicas para trabalhadores rurais, policiais e professores.

No setor privado, mesmo com a idade mínima, antes era possível escolher entre aposentar-se por idade ou por tempo de contribuição. Aposentando-se por idade, era necessária uma contribuição mínima de 15 anos. Quem quisesse se aposentar abaixo da idade mínima poderia fazê-lo, desde que somasse 30 anos de contribuição, no caso de mulheres, e 35 anos, no caso de homens.

Com a reforma, essa opção tornou-se impossível. Mesmo quem já contribuiu pelo tempo mínimo não pode aposentar-se antes da idade mínima.

Na prática

Para ilustrar como esse conjunto de mudanças é perceptível no chão de fábrica, o Brasil de Fato selecionou um setor específico, com alto índice de acidentes e adoecimentos: os frigoríficos.

Antes das reformas, os parâmetros de bancos de horas eram definidos em assembleias, com a participação dos sindicatos. Hoje, a negociação se dá diretamente entre patrão e empregado.

“O banco de horas é gerado quando a produção está em alta. Nesse período, com jornadas mais longas, a atividade é mais penosa e há mais adoecimentos”, explica José Modelski Júnior, secretário-geral da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac).

“Não adianta nada, depois, o trabalhador ter folgas acumuladas no banco de horas, porque os problemas já foram causados. Principalmente, lesões por atividade repetitiva, que é a maior causa de adoecimentos no setor de frigoríficos”, acrescenta.

Modelski cita ainda os impactos da terceirização da atividade-fim no setor.

“Tem empresas que fornecem trabalhadores para os frigoríficos, para a indústria metalúrgica ou têxtil, sem distinção. Eles recebem menos e não têm treinamento, portanto, têm maior índice de acidentes”, relata o sindicalista.

As pressões constantes da classe empresarial, pela redução do tempo de intervalo e pela flexibilização de normas de segurança, coincidem com o afastamento do sindicato das negociações.

“São todos itens que ajudam, para as empresas, a reduzir custos e aumentar o lucro, mas que impactam diretamente na saúde e nos salários”, lamenta Modelski. “Tem empresas que passaram, simplesmente, a se negar a dialogar com os sindicatos. E isso tudo é consequência desse processo que vem desde o impeachment, que a gente percebe que continua e se aprofunda.”

Pandemia e perspectivas

A explosão do trabalho informal e por conta própria não significa maior liberdade para os empregados, segundo Krein.

“É estratégia de sobrevivência. As pessoas precisam se virar, ter alguma renda. Por isso, vemos cada vez mais pessoas no semáforo vendendo pano de prato, vendendo bala. Não tem emprego, e a reforma só agravou esse problema”, analisa o professor da Unicamp.

Para Marilane Teixeira, a pandemia joga luz sobre uma realidade que os governos Temer e Bolsonaro tentavam invisibilizar. “O governo percebeu, de repente, que um número enorme de trabalhadores, diante da necessidade de isolamento, perdeu a renda imediatamente, porque não tinha nenhum tipo de proteção social”, lembra.

“Então, 100 milhões de pessoas tiveram que buscar o auxílio emergencial, que só foi concedido pelo governo após muita pressão, e ainda em valor inferior ao que pretendia a oposição”, enfatiza a pesquisadora.

Patrícia Pelatieri, do Dieese, acrescenta que a pandemia teria efeitos econômicos menos devastadores se o mercado de trabalho brasileiro não estivesse tão desestruturado.

“Com empregos mais protegidos, a crise pandêmica seria menos grave”, diz. “Os mais impactados são jovens, mulheres, negros, trabalhadores sem carteira e idosos acima de 60 anos, que foram empurrados de volta ao mercado de trabalho pela reforma da Previdência”.

Para José Dari Krein, o atropelo da legislação trabalhista não acabou. Propostas como a Carteira Verde e Amarela, em que o trabalhador abre mão de parte dos direitos em nome da preservação do emprego, segue no horizonte do ministro Paulo Guedes, da Economia.

“A lógica da reforma continua na agenda do governo Bolsonaro. Ele tem declarado com insistência que o mercado de trabalho ideal, em sua visão, é aquele próximo à informalidade, sem direito nenhum, em que o trabalhador individualmente negocia seu contrato com o empregador, em condições evidentemente desiguais”, finaliza.

Edição: Poliana Dallabrida