Bolsonaro usou Amazonas para ‘experiências’ de imunidade de rebanho e cloroquina, diz vice-governador

Compartilhar:

Alinhado com Bolsonaro, governador do Amazonas desconsiderou isolamento para expor população ao vírus. “Genocídio declarado”, denunciam lideranças

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (sem partido) afirma que, após pressão do presidente Jair Bolsonaro, o estado adotou uma “experiência” em busca da chamada imunidade de rebanho contra a covid-19. Atendendo desejo do presidente, alegando querer evitar problemas econômicos, o governador Wilson Lira (PSC) não decretou medidas de isolamento e permitiu que a população circulasse livremente. O objetivo seria de expor as pessoas ao novo coronavírus ao máximo.

O resultado foi trágico: Manaus viveu dois momentos de colapso de seu sistema de saúde. O primeiro, entre março e abril de 2020 e um segundo, no início de 2021, quando faltou até oxigênio hospitalar, causando mortes de pacientes por asfixia. A mortalidade no Amazonas é a maior do Brasil, mais de 315 vítimas por 100 mil habitantes; em todo o país, essa relação é de 118 para 100 mil. Se fosse um país, o estado teria a maior taxa de mortalidade de todo o mundo. “Quando houve envolvimento do governador na operação, a estratégia foi mostrar alinhamento com Bolsonaro. Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho”, disse Almeida Filho à Folha de S.Paulo.

A estratégia é considerada criminosa por cientistas. Colocar vidas em risco em larga escala pode ter levado, inclusive, a uma mutação do coronavírus. Manaus é creditada como celeiro da cepa P1 do vírus, uma variante que se dissemina com maior velocidade e com indícios de que seja mais mortal. Com o surgimento da P1, detectada pela primeira vez no Japão, o Brasil passou a ser visto pelo mundo como uma ameaça, conforme comunicado da Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir daí, a imensa maioria dos países do mundo fecharam as fronteiras com o Brasil.

Morte e cloroquina

Em andamento, a CPI da Covid investigas possíveis crimes de Bolsonaro contra o povo brasileiro, por sua gestão da pandemia. Em três dias de depoimentos, iniciados na segunda-feira (4), já ficaram evidenciadas e documentadas ações do presidente e de integrantes de sua família para atrapalhar o combate à covid-19. Até o momento, as acusações foram centralizadas na ideia de imunidade de rebanho e na indicação de medicamentos ineficazes contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina.

Desde o início da pandemia, em março do ano passado, Bolsonaro e seus seguidores insistem em indicar o “tratamento precoce” contra a doença. Existe, porém comprovações científicas de que cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina não funcionam contra a covid-19. Além disso, podem provocar efeitos colaterais graves, como paradas cardíacas e hepatites medicamentosas. Da mesma forma, não existe tratamento preventivo contra doenças provocadas por vírus.

Hoje (6) também foi divulgada pelo jornal O Globo a informação de que a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, esteve na capital do Amazonas, sob comando de Bolsonaro, para pressionar a adoção do “kit covid” pelo sistema público de saúde à população local. A investida ocorreu em janeiro, pouco antes do colapso por falta de leitos e insumos básicos, como oxigênio. A “Capitã Cloroquina” também foi convocada para depor na CPI da Covid.

Convocação

Os fatos sobre o Amazonas levados à luz hoje repercutiram intensamente nas redes sociais e também na CPI da Covid. Foi aprovado um requerimento de autoridades amazonenses para comparecer ao Senado. O senador Humberto Costa (PT-CE) foi um dos que pressionou para o chamamento. “Houve uma aliança para que em Manaus fosse feita a experiência da imunidade de rebanho. Ou seja, não fazer nada para que as pessoas se contaminassem em grande escala. Assim, ninguém gasta dinheiro com oxigênio, teste, vacina e hospital. Por isso, também peço para ouvir o vice-governador do Amazonas. Isso caracteriza dolo eventual. Arriscou-se provocar essa tragédia”, disse Costa, durante oitiva da CPI com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Repercussão

Diferentes lideranças e nomes relevantes da sociedade civil se manifestaram sobre a CPI e também sobre as ações danosas de Bolsonaro. “Vice governador do Amazonas confirma: Bolsonaro e seus aliados impuseram a “imunização de rebanho”, que levou Manaus ao colapso. É genocídio declarado”, sentenciou o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.

A ex-deputada federal que foi candidata à vice-presidência em chapa com Fernando Haddad (PT) em 2018, Manuela D’Ávila, compartilhou a indignação. “O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho, confirmou que Bolsonaro e Wilson Lima usaram Manaus como experimento para testar ‘imunização de rebanho’, levando a cidade ao colapso e matando centenas de pessoas. GENOCÍDIO!”

A deputada federal Fernanda Melchiona (Psol-RS) endureceu o discurso e pediu a detenção do presidente. “Bolsonaro deveria sair algemado do Palácio do Planalto neste exato momento! O vice-governador do AM confirmou que o presidente e o governador Wilson Lima combinaram de usar Manaus como exemplo de “imunidade de rabanho” e isso levou à morte de centenas de pessoas”, disse.

 

 

 

COMENTÁRIOS