CUT cobra regulamentação de Lei de auxílio para pessoal da saúde, vítimas da Covid

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Lei que estabelece ajuda financeira para trabalhadores da saúde com sequelas por causa da Covid-19, conquista do movimento sindical, está em vigor, mas o governo de Jair Bolsonaro ainda não regulamentou

Publicado: 29 Julho, 2021 – 13h36 | Última modificação: 29 Julho, 2021 – 14h21 | Escrito por: Rosângela Fernandes/CUT-RJ e André Accarini

ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL

Edição: Marize Muniz

A CUT e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS) cobram do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) a regulamentação da Lei 14.128/2021, de autoria do deputado Federal Alexandre Padilha (PT-SP), que prevê compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e trabalhadores de saúde que tiveram Covid-19 e ficaram impedidos de continuar trabalhando por causa de sequelas.

O texto do Projeto de Lei de Padilha (PT-SP), elaborado com a contribuição de entidades como a CNTSS, ligada à CUT, foi aprovado pelo Congresso em março deste ano, após intensa mobilização da categoria mas, apesar de a lei já estar valendo, ainda é necessária a regulamentação pelo governo para que os profissionais possam requerer o benefício.

Para o presidente da CUT-Rio e presidente da CNTSS, Sandro Cézar, é importante que as entidades sindicais se mobilizem para fazer valer a lei e as compensações começem a ser pagar.

“As entidades sindicais e de representação desses profissionais devem ser organizar para fazer petições públicas a serem apresentadas às autoridades municipais, estaduais e federais cobrando o direito a compensação financeira e sua implementação com urgência”, diz o dirigente.

Todos os sindicatos do país devem se empenhar na cobrança da regulamentação da lei para que as indenizações comecem logo a ser pagas

– Sandro Cézar

De acordo com o presidente da CNTSS e da CUT-Rio, é papel dos sindicatos orientar tanto os trabalhadores que sofrem com as sequelas da Covid-19, como as famílias dos profissionais de saúde que perderam suas vidas nessa pandemia. Ao familiares também têm garantido o direito à ajuda financeira.

O texto da Lei prevê uma compensação a ser paga pela União, de R$ 50 mil, em uma única parcela. Em caso de morte, a indenização pode ser paga aos familiares dos trabalhadores.

Direito à dignidade

Os profissionais de saúde, desde o início da pandemia têm colocado suas próprias vidas em risco para salvar a vida de outros milhões de brasileiros e brasileiras e muitos, acabaram contraindo a Covid-19. São médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, técnicos de laboratórios, agentes comunitários que não conseguiram mais voltar ao trabalho tanto por sequelas físicas como psicológicas ou por óbito.

De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, até março de 2021, 484.081 desses trabalhadores já haviam sido infectados. Somente este ano, até o mês de junho, quase 113 mil profissionais de saúde foram diagnosticados com a doença. Os dados apontam ainda um total de 470 mortes até março – uma a cada 19 horas.

As profissões mais afetadas foram técnicos e auxiliares de enfermagem (29,5%), seguido dos enfermeiros (16,9%), médicos (10,6%) e agentes comunitários de saúde (5,3%).

A pasta estima de que existam no país 6.649.307 trabalhadores que atuam no segmento da saúde. A taxa de infecção desses profissionais é de 7,3%, contra 5% da população em geral.

“O SUS perdeu muitos trabalhadores da saúde experientes, seja porque perderam suas vidas ou porque ficaram com sequelas que os impedem de retornarem ao trabalho nos serviços de saúde. O projeto garante indenização a quem teve as sequelas e aos familiares dos trabalhadores da saúde em caso de morte no enfrentamento à pandemia”, explica o deputado federal, Alexandre Padilha.

Para ele, a indenização é o mínimo que o Estado pode fazer para reconhecer o esforço dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde do país.

A lei é nossa, é fruto da luta dos sindicatos, da CNTSS, da CUT e da nossa atuação como deputado

– Alexandre Padilha

Como médico infectologista, Padilha diz ainda que a pandemia não se encerrará com a redução dos casos confirmados ou das mortes. “Ela continuará e seus efeitos serão duradouros. Para enfrentar esses impactos, necessitamos de políticas públicas que enxerguem o brasileiro como cidadão de direitos, e não apenas como números e custos”, ele diz.

Tramitação

O projeto já havia sido aprovado pelo Congresso quando, em março deste ano, Bolsonaro, em mais uma atitude de desprezo aos trabalhadores e à vida, vetou a ajuda financeira.

Em 17 de março, após a Câmara derrubar os vetos, o Senado confirmou a decisão por 73 votos a 1 e o projeto virou lei – foi promulgada no dia 26/03 e já publicada no Diário Oficial da União. Agora, aguarda a regulamentação.

Para Sandro Cezar, a derrubada do veto é foi uma vitória importantíssima da classe trabalhadora contra esse presidente desumano. “A derrubada foi simbólica já que o veto de Bolsonaro revela aquilo o que ele sempre foi: alguém insensível, sem nenhuma preocupação com a vida das pessoas, e com o trabalhador”.

“Esse trabalhador, na verdade é aquele que não pode ficar em distanciamento social durante toda a pandemia, que tem que ir ao encontro da pessoa com vírus e é aquele que está hoje vacinando a população contra a Covid-19 em cada unidade de saúde do SUS em todo o Brasil. Esse é o trabalhador que ele está perseguindo”, acrescenta o dirigente.

Riscos iminentes

Os números de profissionais vitimados pela Covid-19 podem aumentar ainda mais com a circulação da variante Delta, que surgiu na Índia, já fez cerca de 170 vítimas no Brasil e tem um potencial de contágio maior que outras cepas.

Os Estados Unidos, por exemplo, anunciaram no dia 26 de julho que vão manter restrições como proibições a viagens internacionais por causa do aumento de casos provocados pela variante.

A Europa também se prepara para o enfrentamento à nova cepa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela será responsável por 90% dos casos no continente até o fim de agosto.

Entre os profissionais de saúde, enfermeiros e técnicos em enfermagem foram os que mais morreram por Covid-19 no mundo.

Mônica Armada, Presidenta do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro, afirma que a categoria sempre esteve na linha de frente do atendimento e mesmo com a precariedade em Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s), com jornadas de trabalho exaustivas e baixíssimos salários se manteve junto aos pacientes para enfrentar essa pandemia.

“Essa importante lei vem ao menos amenizar o dano causado a esses profissionais e aos familiares dos que deram suas vidas pela vida do outro! Uma vitória para os profissionais de saúde! Agora, precisamos que ela saia do papel”, ela diz.

 

 

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