Entenda o que está em jogo na invasão da Ucrânia pela Rússia

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Conflito bélico no leste europeu envolve temas como o desenho da segurança na Europa, separatismo e energia

Militares da Ucrânia protegem quarteirão com prédios do governo Kiev nesta quinta-feira (24) – Sergei Supinsky / AFP

Para além das ações e discursos das últimas horas, que viu o exército russo entrar em território ucraniano, o conflito militar entre Rússia e Ucrânia envolve temas estratégicos como os limites da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), separatismo na Ucrânia e também a governança e distribuição de recursos energéticos.

OTAN

A Rússia alega que a Otan, e o país com maior poderio bélico da aliança militar, os Estados Unidos, romperam um trato firmado após a Guerra Fria de não se expandir para além de seus limites quando da queda do Muro de Berlim.

A Otan e os EUA, por sua vez, negam esse acordo e desde o fim da União Soviética têm admitido países do leste europeu, inclusive ex-repúblicas soviéticas, na aliança militar.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pede garantias de que a Ucrânia não entrará para a Otan, de que armas não serão posicionadas perto das fronteiras de seu país e também que a aliança retorne para níveis de “capacidade e infraestrutura para o nível de 1997”.

A Otan e os EUA negam retornar aos seus níveis do século XX, mas o presidente da França, Emmanuel Macron, e o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, concederam em declarações recentes que a Ucrânia deverá ficar fora da aliança militar.

“A Rússia se move conscientemente em direção a um conflito com o Ocidente, tenta conseguir do Ocidente que ele mude as regras do jogo em diversas esferas e busca reconstruir a ordem europeia que se formou após a Guerra Fria”, afirmou o analista-sênior do International Crisis Group para a Rússia, Oleg Ignatov, em entrevista ao Brasil de Fato na quarta-feira (23).

Qual o papel das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk?

Outro elemento central para o conflito é o status das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. Ao anunciar a “operação militar” contra a Ucrânia, Putin disse que a Ucrânia comete um “genocídio” contras os russos étnicos do local.

A movimentação separatista na região começou após o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia, quando estas regiões se proclamaram independentes do governo de Kiev e adotaram uma Constituição própria. No mesmo ano, a Rússia anexou a Crimeia, até então parte do território ucraniano.

Putin reconheceu os separatistas nesta semana e os limites territoriais dessa decisão são importantes. As posições controladas pelos rebeldes pró-Rússia são menores do que as fronteiras dos distritos de Donetsk e Lugansk em suas constituições oficiais pela visão ucraniana.

Putin já afirmou que reconhece os limites das Constituições das autodeclaradas repúblicas e que poderia discutir a questão fronteiriça com Kiev, mas é improvável que as autoridades ucranianas aceitem essa negociação, já que seria uma cessão razoável de território.

O conflito na Ucrânia entre os separatistas e as forças estatais de segurança já causaram cerca de 14 mil mortos.

Gasoduto interrompido

Rússia e Alemanha construíram um gasoduto de 9,5 bilhões de euros, cerca de R$ 54 bilhões, para no final da obra deixá-la com a torneira fechada. O Nord Stream 2 liga o oeste da Rússia, passando pelo Mar Báltico, até o nordeste da Alemanha, mas teve sua certificação suspensa por Berlim após a Rússia reconhecer os separatistas ucranianos.

A Rússia é responsável pelo fornecimento de cerca de 40% do gás natural da Europa e, assim como os europeus dependem do gás russo, a venda dessa comoddity também é central para a economia de Moscou.

“Bem-vindo ao admirável mundo novo, onde os europeus muito em breve pagarão 2.000 euros por 1.000 metros cúbicos de gás natural”, disse o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev.

Edição: Arturo Hartmann

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