No campo e na cidade, mulheres se unem contra o machismo e a fome; veja como foi o 8 de março

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Mulheres das cinco regiões do país promoveram atos, ocupações e inauguraram centros de acolhimento

Redação/Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 8 de Março de 2022 

Em Feira de Santana (BA), marcha reuniu movimentos populares que seguiram para ocupar a Câmara de Vereadores – @levantepopular

Mulheres de mais 40 cidades, em todas as regiões do Brasil, marcharam nesta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher. O lema “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!” deu o tom dos protestos, que não ficaram apenas no discurso. 

Além de ocuparem ruas dos centros urbanos, mulheres integrantes de organizações populares articularam a pauta feminista com ações políticas concretas no campo, fortalecendo a luta em favor da terra, da agricultura familiar e contra a violência de gênero.

Casas de acolhimento são inauguradas

Pela manhã, em Recife (PE), o Movimento de Mulheres Olga Benário (MMOB) ocupou um imóvel abandonado para a criação de uma Casa de Referência para mulheres vítimas de violência. Batizado de Centro de Referência Soledad Barrett, o local já está de portas abertas para receber mulheres que rompem com o ciclo da violência e precisam de abrigo.

O MMOB inaugurou, também, a Casa de Referência da Mulher Almerinda Gama no centro do Rio de Janeiro (RJ). A iniciativa surge da primeira ocupação organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário no estado. O imóvel estava vazio havia mais de oito anos, sem cumprir função social, segundo o movimento. 

“Com esta ação, o Movimento Olga Benário chama atenção para os números alarmantes de violência de gênero, que apesar de subnotificados já se mostram muito superiores à capacidade de atendimento das ferramentas oferecidas pelo Estado”, disse o movimento em nota.

Câmara e Secretaria estadual ocupadas 

Em Porto Alegre (RS), mais de 200 agricultoras ocuparam, na manhã desta terça-feira (8), o pátio da Secretaria Estadual de Agricultura em Porto Alegre. Elas cobram ações do governo do estado para amenizar os impactos da estiagem no Rio Grande do Sul. Já ocorreram conversas com representantes do governo estadual, mas pouco foi feito até aqui, assinalam as mulheres.

“As nossas famílias ainda estão sofrendo com a estiagem. Por isso estamos aqui novamente. Nós precisamos de ajuda urgente, diante de tantos prejuízos causados pela seca”, diz Silvia Reis Marques, produtora e dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Rio Grande do Sul (MST-RS).

Agricultoras cobram ações do governo do estado para amenizar os impactos da estiagem no Rio Grande do Sul / Foto: Maiara Rauber

Ainda na capital gaúcha, assentadas e acampadas do MST doaram 4 toneladas de alimentos da reforma agrária. O destino são as cozinhas comunitárias da periferia de Porto Alegre. 

A Câmara de Vereadores de Feira de Santana (BA) também foi ocupada pela marcha que saiu da prefeitura da cidade. A ação ocorreu durante uma sessão solene promovida pelo Legislativo municipal. Mais cedo, o ato na cidade baiana teve início com café da manhã feito a partir da produção das trabalhadoras rurais. A mobilização teve a presença de movimentos sociais, partidos políticos, trabalhadoras do campo e da cidade e estudantes.

Em SP, manifestantes queimam boneco de deputado 

Na avenida Paulista, símbolo de São Paulo (SP), manifestantes queimaram boneco do deputado estadual Arthur do Val (ex-Podemos), autor de comentários misóginos sobre refugiadas ucranianas.

Mulheres do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) também realizaram ação em repúdio às falas machistas do parlamentar. Em frente à sede do Podemos em São Paulo (SP), cobraram uma posição do partido, além da cassação do mandato.

Em áudios gravados pelo parlamentar em viagem à Ucrânia, Arthur do Val afirmou que mulheres ucranianas são “fáceis, porque são pobres”, entre outros comentários misóginos e machistas. 

Manifestantes queimam boneco do deputado estadual Arthur do Val, autor de comentários misóginos sobre refugiadas ucranianas / Elineudo Meira / @fotografia.74

Brasília

O Dia Internacional da Mulher foi lembrado em Brasília (DF) por meio de uma marcha popular que tomou parte da Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso Nacional. 

Diferentes pautas estamparam faixas e cartazes de manifestantes que bradaram por respeito, dignidade e políticas de atenção às necessidades dessa fatia populacional, que representa mais de 52% do contingente do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O papel do Poder Legislativo foi lembrado, por exemplo, pela conselheira tutelar Thelma Mello, que atua no Plano Piloto da capital federal. Ela cobrou a derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Projeto de Lei (PL) 4968/19, que prevê distribuição gratuita de absorventes para mulheres pobres, detentas e estudantes de baixa renda de escolas da rede pública. 

“De cada cinco jovens, uma falta as aulas todos os meses por não ter absorventes, e é um absurdo a gente ter um país deste tamanho com condições de subsidiar esse que é um item básico e o governo Bolsonaro, esse genocida, vetar o projeto”, criticou. 

O 8 de março no campo 

Também na Bahia, cerca de 100 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Botafogo, área improdutiva de 313 hectares no município de Jussari (BA), com objetivo de promover a reforma agrária. A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, com o lema: Terra, trabalho, direito de existir.

Outra propriedade improdutiva, a fazenda Frutelli, foi ocupada por 500 mulheres em Itabela (BA). A propriedade é pertencente à empresa falida Frutelli culturas Tropicais, que tinha como principal atividade econômica o cultivo de banana, hoje abandonado. O ato denunciou a falta de crédito para as trabalhadoras rurais, o feminicídio, o uso abusivo de agrotóxicos e a fome no Brasil. 

Em Estreito (MA), a manifestação foi para denunciar os impactos da Usina Hidrelétrica do Consórcio Estreito Energia sobre famílias de pescadores. Muitas delas ficaram sem casas após a abertura de comportas do empreendimento. Os manifestantes reivindicam ainda uma assembleia coletiva com as famílias afetadas, com acompanhamento e apoio do MST. 

Impactos de grandes empreendimentos também motivaram protestos no assentamento Sabiaguaba, em Amontoada (CE). Mulheres, jovens e crianças protestaram, sobretudo, contra prejuízos à agricultura familiar provocados pela instalação de parques eólicos. Além do MST, participaram do ato o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), com o apoio do Projeto ECO Icaraí.

Pernambuco e Ceará

No centro de Recife, 5 mil mulheres participaram da marcha, que abriu o calendário de manifestações de rua em 2022 e marcou a volta dos atos feministas após dois anos de hiato. O 8 de março de 2020 havia sido a último antes da pandemia da covid-19.

Na capital pernambucana, mulheres começaram a se concentrar às 15h no Parque Treze de Maio, bairro de Santo Amaro. Às 17h, saíram em caminhada até o Pátio do Carmo, onde o ato se encerrou por volta das 19h. No encerramento, houve intervenção em que foram lidos nomes de mulheres vítimas de feminicídio e transfeminicídio.

No Ceará, atos aconteceram nas cidades de Crato, Santa Quitéria, Amontada e Fortaleza. Na capital, Em Fortaleza, a concentração foi na Praça do Ferreira, no Centro da cidade. O ato seguiu em cortejo pelas ruas da cidade e a programa se encerra com ato cultural em homenagem a Elza Soares.

Em Santa Quitéria, participaram integrantes do MST, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), do Levante Popular da Juventude, indígenas e sindicalistas. Cerca de 250 mulheres ocuparam a Praça do Bradesco, onde denunciaram a da exploração da mina de urânio e fosfato do grupo Itataia.

Edição: Rebeca Cavalcante

 

 

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