“Vocês são um bando de malandros”, disse pastor lobista a prefeitos

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Arilton Moura e Gilmar Santos são acusados de cobrar propina de até R$ 40 mil para destravar demandas dos municípios no MEC

atualizado 05/04/2022 16:43

Geraldo Magela/Agência Senado

O prefeito Kelton Pinheiro (Cidadania), de Bonfinópolis (GO), afirmou, nesta terça-feira (5/4), que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos cobraram propina de R$ 15 mil para viabilizar a construção de uma escola com 12 salas, orçada em R$ 7 milhões, na cidade.

O gestor municipal participou de audiência na Comissão de Educação do Senado Federal. A sessão foi convocada após as denúncias de um suposto esquema de favorecimento no Ministério da Educação.

Pinheiro conta que a oferta ocorreu em almoço convocado pelos pastores junto a prefeitos que estavam em Brasília para uma agenda do MEC com o então ministro, Milton Ribeiro. Segundo o chefe do Executivo de Bonfinópolis, os aliados do pastor Gilmar Santos tinham “desconto” no valor da propina cobrada para destravar as demandas municipais.

Conforme narrado aos senadores, cabia a Arilton fazer as ofertas. “O pastor Arilton chegou na minha mesa e me abordou de uma forma muito abrupta e direta: ‘Olha, prefeito, vi que, no seu ofício, o senhor pede a escola de 12 salas. Essa escola deve custar uns R$ 7 milhões. Mas é o seguinte: eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, você faz a transferência para a minha conta. Para depois não cola comigo, porque vocês, políticos, são um bando de malandros, não têm palavra’. Aquilo me deu ânsia de vômito”, relatou aos parlamentares.

R$ 40 mil por escola

A versão foi endossada pelo prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza (PP). Segundo Souza, o valor exigido dele era superior, em torno de R$ 40 mil. A cobrança teria ocorrido em 18 de março do ano passado, durante um almoço com os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, em Brasília.

Também participaram do encontro o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Lopes da Ponte.

A dupla de religiosos não tem cargo formal no ministério, mas tinha livre trânsito na pasta e intermediava as demandas municipais junto a Ribeiro – que deixou o comando da pasta após a divulgação de áudios atribuídos a ele. Nas gravações, o então chefe da pasta federal afirma dar “prioridade” no repasse de verbas do FNDE aos “prefeitos que são amigos do pastor Gilmar Santos”.

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O gestor narra que teria se irritado com a convocação da reunião, uma vez que foi comunicado pela equipe técnica do MEC que seu município não poderia ser ajudado. Ele, então, teria se exaltado e deixado o local, momento em que foi interceptado por um homem, que o convidou para almoçar com os pastores e demais prefeitos.

De acordo com José Manoel, foi nessa ocasião que os religiosos ofereceram a propina para destravar a instalação de uma escola profissionalizante no município.

“O pastor Arilton me disse: ‘Prefeito, você sabe muito bem como funciona, né? Não dá pra ajudar todos os municípios, mas eu consigo te ajudar com uma escola profissionalizante. Eu faço um ofício agora, eu coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da igreja evangélica’”, relata. “Eu então bati nas costas dele [Arilton] e falei que para mim não serviria”, completou.

Propina em ouro

Mais cedo, o prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), também relatou ter recebido uma oferta de pagamento de propina para destravar demandas do município no MEC. Em um almoço convocado pela dupla de religiosos, teriam sido cobrados, segundo ele, R$ 15 mil e 1 kg em barra de ouro para viabilizar o repasse de verbas do FNDE.

“O pastor Arilton Moura convidou todos os prefeitos para um almoço em um restaurante e disse que seria por conta dele. Foi quando o pastor Arilton virou para mim e quis saber minhas demandas; apresentei para ele e ele me disse: ‘Você vai me arrumar os R$ 15 mil para mim [sic] protocolar as suas demandas e, depois que o recurso já estiver empenhado, você, como sua região é de mineração, vai me trazer 1 kg de ouro’”, detalhou Braga aos senadores.

O chefe do Executivo da cidade maranhense relata que se recusou a cumprir com a oferta e que, após o episódio, os recursos não foram liberados ao município. Ele também disse que os valores apresentados pelo pastor a fim de destravar demandas na pasta foram divulgados a todos os prefeitos presentes no almoço.

 

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