Braga Netto é chancelado como vice; para cientista político, escolha sinaliza baixa possibilidade de outras alianças

Cristiane Sampaio
Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Bolsonaro foi o centro da convenção do PL, que ocorreu no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, reduto eleitoral do ex-capitão – Mauro Pimentel/AFP

Em um evento que confirmou o seu nome como candidato à reeleição pelo PL neste domingo (24), no Rio de Janeiro (RJ), o presidente Jair Bolsonaro (PL) deu a senha do que pode estar por vir nos próximos capítulos da disputa eleitoral no país. O ex-capitão, que foi o centro das atenções na convenção nacional da sigla, fez novas bravatas em ataques ao Poder Judiciário e convocou a base bolsonarista a se engajar nos atos do próximo 7 de Setembro.

“Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Interessa para todos nós. Não queremos o Brasil dominado por outra potência, e temos outras poucas potências de olho no Brasil”, disse, ao se referir aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Nós somos maioria, nós somos do bem, nós temos liberdade para lutar pela nossa pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez”, esbravejou, convocando os apoiadores para os protestos na data, que, pelo andar da carruagem, tendem a reeditar o ato ocorrido no ano passado, quando os discursos antidemocráticos também deram o tom de condução das massas bolsonaristas.

Para Paulo Niccoli Ramirez, professor de Filosofia e Política da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (FESPSP), o discurso sinaliza que o presidente seguirá atacando “todos aqueles que possam tirá-lo do poder”, sejam as urnas eletrônicas, os governadores ou o STF, entre outros personagens com os quais o ex-capitão tem vivido embates ao longo dos últimos anos.

“Isso vai mostrando pra gente que, como o Bolsonaro convoca seus apoiadores a marcharem no 7 de Setembro, ele joga mais lenha na fogueira com o objetivo de criar instabilidade à democracia. Ele tenta não só atacar as instituições que, de forma civilizada, conseguem limitar o poder dele, como também quer destruí-las. E como destruí-las? A partir de alusões ao golpe de 64”, analisa.

Mulheres

Também teve realce no evento a tentativa do presidente e de lideranças do PL de evidenciarem a participação de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama, na convenção. Ela subiu ao palco ao lado dele e foi a primeira a discursar logo após o ex-capitão ensaiar algumas poucas palavras e mencionar uma passagem bíblica em alusão à “mulher virtuosa”.

Michelle mencionou o que chamou de “projeto de libertação da nação” em uma fala marcada por diferentes menções a elementos religiosos e também por uma referência à facada que atingiu Bolsonaro em 2018. “Quando eu cheguei na Santa Casa e vi meu marido na maca, eu olhei para o teto do hospital e falei ‘o Senhor tem controle de todas as coisas’. Essa nação é rica, é próspera. Ela só foi mal administrada. Deus ama essa nação.”

O destaque dado a Michelle vem no momento em que o presidente tenta atrair o eleitorado feminino, segmento em que ele é preterido pela maioria, segundo têm apontado os levantamentos de opinião. Pesquisa Datafolha de um mês atrás mostrou, por exemplo, que o atual chefe do Executivo perde para o ex-presidente Lula (PT) no grupo das eleitoras mulheres em todas as faixas salariais analisadas em termos de intenção de voto.

Já no que se refere à rejeição propriamente dita, entre aquelas com renda de até dois salários, Lula é repelido por 25%, enquanto Bolsonaro o é por 60% do grupo. No segmento das que recebem entre dois e cinco salários, o petista tem 37% de rejeição, e o ex-capitão, 56%. Por fim, no segmento das mulheres com mais de cinco salários, Bolsonaro mantém os 56%, enquanto o ex-presidente conta com 41% de rejeição.

“A fala da Michele é uma tentativa de atrair especificamente o eleitorado feminino conservador, mesmo porque ela indicou dois elementos fundamentais. Primeiro, o aspecto religioso, dizendo que, mais do que uma luta política, é uma luta pela ‘libertação’. Ela afirmou que o Brasil pertence a Deus e, num outro aspecto, ela tenta atrair o eleitorado feminino, que, querendo ou não, foi muito atacado pelo governo Bolsonaro nos últimos quatro anos”, observa o professor Ramirez.

O pesquisador realça ainda que, apesar das diferentes menções às mulheres, o tipo de discurso de Michelle e Bolsonaro não abarca questões como os direitos do segmento. “Em nenhum momento se falou nisso, se falou em ascensão das mulheres ao mercado de trabalho, nas mulheres negras, o segmento que talvez seja o que mais sofre [com a desigualdade], por exemplo. Mais do que uma convenção política, a presença da Michelle transformou o evento num ritual religioso de quinta categoria.”

Vice

O encontro também marcou a confirmação do nome do general Braga Netto como candidato a vice na chapa encabeçada por Bolsonaro. A presença do militar, o mesmo que respondeu pela intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018, na chapa formaliza a intenção dos bolsonaristas de garantirem espaço político para as Forças Armadas em um eventual segundo mandato do ex-capitão.

O professor Paulo Ramirez observa que a escolha de Braga Netto também reduz as chances de costuras com outros grupos políticos por parte de Bolsonaro. “Geralmente, a escolha de um vice é um aceno de um presidenciável com outras facetas, como é o caso do Lula, que estendeu a mão ao Alckmin, o que mostra um direcionamento ou uma busca de votos junto à centro-direita, por exemplo. No caso do Bolsonaro, estamos vendo que isso não vai acontecer.”

Pastores evangélicos mais radicais e militares que defendem algum tipo de ruptura institucional são os grupos que evidenciam e resumem basicamente a corrente de apoio ao ex-capitão neste momento. “E o Braga Netto representa exatamente os militares que vão por esse caminho”, registra Ramirez.

Edição: Cris Rodrigues

 

Nesta segunda-feira, 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e, no Brasil, o Dia Nacional da Tereza de Benguela – uma líder esquecida pela história. A nossa rainha! 

Por falta de registros, não se sabe exatamente quando e onde Tereza veio ao mundo. Pode ter sido tanto na África, quanto no Brasil, o que se sabe é que a história brasileira agradece pela existência dessa grande mulher. Tereza viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou Quariterê. 

Atualmente, o Quilombo do Quariterê estaria localizado no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, há 548 km da capital Cuiabá. Era um local de difícil acesso, o que era bom para a construção de um território que abrigaria escravos e indígenas fugitivos. 

O Quilombo de Quariterê foi o maior do Mato Grosso, e contava com negros nascidos na África e no Brasil, indígenas e mestiços, e sofreu muitos ataques de bandeirantes entre 1730 e 1795, a mando da capitania regional. Em um desses ataques o quilombo foi destruído. Há registros de que alguns quilombolas conseguiram fugir e restituíram o local. No entanto, os ataques não cessaram e em 1795 o quilombo foi dizimado. 

A vida de Tereza mudou quando seu marido foi assassinado pelos soldados do estado e ela se tornou a chefe do quilombo. Também chamada de rainha, Tereza foi um exemplo de bravura e eficiência. Ela criou um parlamento para decidir em grupo as ações da comunidade. Os quilombolas viviam do cultivo do algodão, milho, feijão, mandioca e banana, e também da venda dos excedentes produzidos. 

Além desses cuidados, Tereza comandava a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo. Ela manteve um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas, e muito inteligentemente, Tereza transformou os ferros, que eram usados contra a comunidade negra, em instrumentos de trabalho 

Parecia que tudo que a rainha Tereza tocava dava certo, e não foi à toa que, no Brasil, em 2 de junho de 2014 o dia 25 de julho foi instituído o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra pela Lei Nº 12.987. Tereza também foi homenageada em 1994 pela escola de samba Unidos do Viradouro com o enredo “Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal”. 

Não se tem registro de como Tereza veio a falecer, mas há duas versões muito conhecidas. A primeira seria que, por volta de 1770, ela teria cometido suicídio depois de ser capturada a mando da Capitania do Mato Grosso. A outra versão é que, por volta da mesma época, a rainha tenha sido assassinada e sua cabeça exposta no centro do quilombo. Independente de como foi a sua morte, Tereza lutou até o fim para proteger o seu povo que fugia da escravidão. Ela com certeza foi uma heroína que infelizmente a história resolveu apagar  

Com informaçãos do site Universo Preto