“Quem defenda a universidade luta pela democracia”. A frase da faixa resume o sentimento que une a comunidade universitária, neste momento de fragilidade da UFRJ frente aos ataques covardes do governo às instituições e ao povo brasileiro

Quinta-feira, 11 de agosto de 2020: mais uma data que entrará para a história de resistência e luta da UFRJ. Por iniciativa das entidades representativas dos trabalhadores e estudantes que compõem a comunidade universitária da UFRJ – Sintufrj, Adufrj, DCE Mário Prata, Associação dos Pós-Graduandos (APG) e Attufrj (associação dos terceirizados) – a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito” foi lida, em várias vozes, sob os pilotis do Centro de Tecnologia (CT), no campus do Fundão.

O ato político de leitura do documento pela UFRJ, às 11h30, foi sincronizado com manifestações idênticas realizadas na USP, onde nasceu a Carta, e em mais de 20 universidades federais país afora. E foi seguido à sessão especial do Conselho Universitário que debateu a crise orçamentária nas instituições federais de ensino superior, em consequência dos cortes nos orçamentos dessas instituições pelo governo Bolsonaro, e que ameaça o funcionamento da UFRJ a partir de setembro.

“Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular” – este foi um dos trechos da Carta lido pelo coordenador-geral do Sintufrj, Esteban Crescente. A leitura do documento foi iniciada pelo presidente da Adufrj, João Torres. Também participaram desse momento solene a representante da APG, Natália Trindade, e do DCE Mário Prata, Dulce Adriele.

Manifestações

Servidores técnico-administrativos e professores, estudantes, militantes políticos e representantes de organizações da sociedade civil organizada se manifestaram no ato. Dirigentes de Centros Acadêmicos de vários cursos registraram repúdio aos cortes de verbas para a UFRJ, que afetam as políticas estudantis e se refletem nas péssimas condições dos ambientes das instalações e infraestrutura das unidades acadêmicas. E convocaram para o ato que se realizaria no fim da tarde no centro da cidade.

Na sua saudação ao ato político, Denise Pires de Carvalho afirmou que os reitores das 20 universidades nomeados pelo governo federal não têm legitimidade para dirigirem a instituição, lutar pela democracia e por um país menos desigual, e lembrou a intervenção sofrida pela UFRJ, em passado recente, quando também foi impedida de dar posse aos eleitos pela comunidade universitária, e homenageou Horácio Macedo, o primeiro reitor eleito pós ditadura militar. “Seguiremos, assim: sempre falando alto pela democracia”, concluiu.

“Nosso país tem uma tradição de opressão que não é fácil. No século XIX havia excesso de terras e escassez de mão de obra. E o que as elites fizeram? Criaram uma lei (a Lei de Terras) e incentivaram a utilização de mão de obra assalariada dos imigrantes europeus. O que se faz nesse país no momento é combater as políticas sociais”, comparou o vice-reitor, Carlos Frederico Rocha.

O presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professor do Instituto de Física da UFRJ, Ildeu Moreira repetiu o manifesto da instituição em defesa das eleições “… Repudiamos qualquer tentativa no sentido de violar ou de tumultuar o processo eleitoral”, e concluiu: “Sem democracia e sem a participação de todos e todas, a vida social se empobrece”.

“Este ato em unidade de ação mostra que não vamos nos intimidar pelos que querem sufocar as vozes das universidades”, disse o deputado federal do PSol, Glauber Rocha. A candidata da UP ao governo do Rio, Juliete Pantoja, apontou que “Bolsonaro que lidera mais de 19 bilhões de orçamento secreto para se manter no governo com o apoio do Centrão e dos generais golpistas”.

O diretor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, Carlos Bolonha leu trecho da moção aprovada na Congregação da FND na defesa das eleições: “…Com a criação da Justiça Eleitoral e com a implementação do processo eleitoral eletrônico, o sistema eleitoral brasileiro superou a ocorrência de fraudes, garantindo o sigilo do voto e expandindo o exercício da cidadania”.

O representante técnico-administrativo na Congregação do Instituto de Biologia, Francisco de Assis, lembrou os 2.021companheiros mortos de 2019 a 2021, segundo informações colhidas na PR-4, e se referiu ao ex-reitor Horácio Macedo como “pai da educação e dos técnico-administrativos, que defendeu e fortaleceu a universidade em plena ditadura”, e acrescentou: “Aqui produzimos pela sociedade e esse deve ser o princípio da nossa luta”. Ele defendeu que haja mais democracia interna na UFRJ para que a categoria amplie sua participação nos espaços institucionais.

 O coordenador do Sintufrj Fábio Marinho reiterou “a importância de retirar Bolsonaro da presidência”, mas alertou que “o fascismo não se derrota nas urnas”, clamando pela organização e mobilização com “agenda de luta nas ruas”. O servidor do CT Jessé Moura, parabenizou as entidades pela organização do ato e conclamou a Reitoria a liderar caravanas da comunidade universitária para manifestações no MEC, em Brasília.

“Essa universidade é fonte de democracia e centro de debate, mas esse governo é contra a inteligência. Por isso, a Lei de Diretrizes Orçamentária para 2023 não será calculada com base na inflação, porque Bolsonaro quer engessar o orçamento. Democracia sempre, ditadura nunca mais”, falou o ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich,

NA DEFESA DA UNIVERSIDADE E DA DEMOCRACIA todos os segmentos da comunidade universitária da UFRJ participaram do ato político no pilotis do Centro de Tecnologia (CT).
UMA DAS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES da rede federal de ensino, trabalhadores e estudantes que fazem a UFRJ sabem da importância da democracia para a prosperidade da educação e da ciência
DIRIGENTES do movimento organizado de técnicos, docentes e estudantes que atua na universidade leram a Carta