Os profissionais de enfermagem promoveram mais uma manifestação nacional nesta segunda-feira, 3 de outubro, para exigir o pagamento do piso salarial da categoria. No Rio de Janeiro, pela manhã, houve ato unificado de toda a enfermagem do Estado, com interdição de parte da Avenida Presidente Vargas, em frente ao Rio Imagem, e também interdição da área da Praça da República, na altura do Hospital Souza Aguiar.

Por vota das 11h os trabalhadores chegaram sofrer repressão por parte da polícia militar, mas a direção do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro (SindEnfRJ) – que, em conjunto com o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado do Rio (Satem-RJ) organizou o ato -conseguiu apaziguar a situação e negociou a continuidade do protesto.

Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem continuaram o protesto que seguiu em direção ao Hospital Souza Aguiar, onde realizaram assembleia. Eles exigem também a criação de um plano de cargos carreiras e salários na saúde municipal.

“Estamos desde 7h nessa luta pelo piso salarial, exigindo a suspensão da liminar do ministro Roberto Barroso que adiou a implantação do piso, para para pressionar pela aprovação das fontes de custeio no Congresso e estabelecer um plano de cargos carreiras e salários do município. Então o prefeito Eduardo Paes, Roberto Barroso e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, têm de contribuir para que a enfermagem brasileira seja valorizada”, declarou a presidente SindEnfRJ, Líbia Bellusci.

Manifestaçao da enfermagem na rua Barroso enfrente ao hospital Badin na Tijuca.
Rio de Janeiro, 21-09-22.
Fotos de Elisângela Leite

 

Três olhares de especialistas sobre a perigosa conjuntura que ameaça os trabalhadores, as universidades e a sociedade

O professor Francisco Carlos Teixeira (UFRJ/UFF e UFRRJ) que acompanha por dever de ofício (é historiador e cientista político) desde os anos 1970 a política brasileira, confessa nas redes sociais a sua perplexidade: “não esperava uma maré de extrema direita tão forte e tão dura emergindo das urnas nesse 1º turno”.

Em tom de alerta, o professor afirma que “(…) não se trata simplesmente de um resultado eleitoral: se trata do avanço da barbárie sobre a sociedade brasileira”.

Em outro trecho, Teixeira aponta um caminho. “Cabe investir fortemente na educação em cada momento, em cada minuto, em cada discussão, em cada debate. Será arriscado, será difícil, será violento. Mas, mais violento serão os anos de fascismo que se abaterão sobre nós”, sustenta.

Do contrário, adverte o professor, “a floresta, o serrado, o pantanal serão destruídos. Os povos indígenas odiados por Bolsonaro serão abandonados a sua própria sorte e, em seguida, declarados extintos”.

Francisco Carlos Teixeira no áudio que distribuiu logo após o 2 de outubro invoca a pandemia como prova de como uma prova “de como eles (Bolsonaro e companhia) tratam o povo brasileiro”.

”Isso seguirá. A cultura brasileira será transformada numa sequência de programas de auditório cruéis e terrivelmente conservadores. E enfim, se abaterá sobre nos mesmos na universidade, que serão transformadas em escolas ideológicas do fascismo. É o momento de pegar na mão com força, sem medo e com muita esperança. A luta é contra o fascismo que avança sobre nós”, finaliza.

Perseguição

Numa entrevista ao portal da CUT – à jornalista Rosely Rocha e publicada em 24 de setembro –

a historiadora e professora da USP, Maria Aparecida de Aquino, afirma que “o governo de Jair Bolsonaro flerta com o fascismo ao, por exemplo, promover cortes orçamentários que destroem políticas em áreas como a educação e a cultura, além de induzir seus seguidores a abominar e criticar quem pensa diferente do que o presidente prega”.

Ela considera, no entanto que “no Brasil ainda há resistência por parte de entidades civis e de representantes de outros poderes a esse regime (o fascismo)”.

Mas alerta “que a população fique atenta aos movimentos de perseguição e tentativas de retirada de direitos e liberdade, e que não se cale diante de atos autoritários”.

 

DITADURA NO BRASIL Durante 21 anos o país viveu mergulhado nas sombras de um regime sem liberdade, de tortura e perseguições, sequestros e assassinatos. Isso não pode voltar

Fantasia

Ex-reitor da UFRJ, o professor Roberto Leher também foi às redes sociais emitir opinião logo depois do debate da TV Globo, no dia 29. Sob o título “O dito padre e o movimento da extrema-direita golpista”, Leher fez algumas considerações das quais reproduzimos algumas

“1. O dito padre #Kelman é a ponta do iceberg do braço bolsonarista-extremista e disposto ao Capitólio no Brasil. Não deveria ser visto como folclore. A questão de fundo, a meu ver, não é somente seu pertencimento à Frente Integralista Brasileira.

  1. Desde que que frações bolsonaristas passaram a trabalhar para deflagrar uma crise que pudesse comprometer o processo eleitoral, abrindo vias imprevisíveis, Roberto Jefferson foi elevado ao lugar de organizador dessa opção. Kelman é Roberto Jefferson. E Roberto Jefferson é Bolsonaro. Embora sem o talento e visibilidade de Steve Bannon, pode articular milicias, clubes de armas e outras frações para engendrar a crise da via eleitoral.
  2. Desde 2021 o PTB vem agregando tais forças da extrema-direita.
  3. Ao se fantasiar de padre, o agente de Roberto Jefferson objetivou criar a imagem de que, fora Bolsonaro, os outros são capazes de agredir até mesmo um “padre” e o próprio cristianismo, buscando justificar a legitimidade das ações da extrema-direita fascista.

 

 

 

 

 

 

Apesar de não ter ganho proporção, mais um incêndio em laboratório evidencia reflexos do sucateamento das universidades públicas

Um incêndio atingiu um dos laboratórios do sexto andar do bloco A do Centro de Tecnologia (CT), no Instituto de Química, no início da madrugada desta segunda-feira, dia 3. Mas ficou restrito à sala onde começou, conforme os coordenadores do local, porque extinguiu-se sozinho. Os danos só foram constatados pela manhã.

Não houve vítimas e nem afetou salas vizinhas (uma delas, de aula). Ao chegar, usuários constataram sinais de fuligem para fora da sala ainda trancada (ela é vedada) e, quando abriram, se depararam com o cenário de escuridão e fuligem que tomou móveis e equipamentos.

Os bombeiros estiveram lá em seguida, e, embora não houvesse mais sinal de incêndio, o laboratório permanece fechado. A Defesa Civil era aguardada para avaliar a segurança estrutural. A origem ainda está sendo apurada.

Outro incidente ajudou a aumentar a apreensão: o CT ficou sem luz pela por mais de uma hora, por problemas em subestações (que não teve a ver com o incêndio). Houve pessoas presas por alguns minutos no elevador do bloco A, socorridas pelos bombeiros que já estavam no local.

Câmera filmou

Na sala A622, de 75 metros quadrados, funciona a Central Analítica da Graduação, um laboratório de investigação de estruturas químicas e nanotecnologia. Serve diversos centros da UFRJ e instituições externas.

Embora a câmera interna tenha partes derretidas, o cartão de memória foi salvo: as últimas imagens registram o início do incêndio à meia-noite, com clarões intermitentes, fumaça pelo teto e respingos incandescentes saindo da direção onde fica o aparelho de ar-condicionado.

 

Danos ainda serão inventariados

INCÊNDIO no laboratório no 6º andar do prédio do CT no Fundão.

Pierre Esteves, Leandro Soter e Simon Garden, professores do Departamento de Química Orgânica, são coordenadores do laboratório. Embora não saiba o certo o que causou incêndio, contam que o aparelho de ar-condicionado é antigo, mas que foi feita manutenção. Eles esperam a sala ser liberada para, limpando a fuligem, ver o que pode ser salvo e que aparentemente nada pegou fogo.

Pierre explica que o laboratório tem equipamentos raros e caros alguns até ainda sem uso, avaliados em torno de R$2,5 milhões. Ele relaciona o que chama de alguns pequenos milagres, como o fato de, além do fogo ter se extinto sozinho ou de ninguém ter se ferido, de não ter atingido o cilindro de CO2 que, apesar de vazio, poderia explodir.

Os professores comentam que, mesmo com precauções com segurança e manutenção, um fato como esse poderia ter consequências piores e relacionam, entras as razões possíveis, a infraestrutura antiga num prédio de 60 anos e um laboratório que “funciona como uma ONG”, porque vive de doações, entre outras consequências do sucateamento das instituições públicas.

Apontam ainda que não é razoável um laboratório de experiências no sexto andar do prédio junto com salas de aulas. “O laboratório não está malcuidado, mas precisamos de uma casa nova”, reivindicam.