Carros de trabalhadores com adesivos da campanha de Lula são vetados; veículos com alusão à campanha de Bolsonaro, não

Felipe Mendes
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

 

Trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras denunciaram para sindicatos da categoria episódios de discriminação eleitoral em ambientes de trabalho da empresa. Segundo as entidades, veículos particulares de trabalhadores com adesivos da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm tido acesso vetado a algumas unidades, enquanto eleitores do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL) não passam por qualquer constrangimento.

Um trabalhador que atua na Replan, refinaria de Paulínia (SP), conversou com o Brasil de Fato sob condição de anonimato após fazer denúncias às entidades sindicais. Ele disse que chegou a ter o acesso vetado nesta terça-feira (25). Após conversar com agentes de segurança interna, conseguiu entrar para trabalhar, mas disse que aguarda ser notificado pela direção da empresa.

Segundo o trabalhador, as abordagens começaram na última semana. Ele contou que o segurança da unidade, cumprindo ordens “de certa forma até truculenta”, reconheceu que carros com bandeiras do Brasil, que têm sido usadas como símbolo da campanha de Bolsonaro, não seriam abordados, já que não seria possível saber se se tratava de manifestação de campanha.

Após dialogar com os agentes e entrar para trabalhar, o funcionário disse que teve contato com setores internos, como o de recursos humanos, e que não havia clareza sobre de onde partiram as ordens. Após o contato com o sindicato, ele relatou ter entrado para trabalhar com o mesmo veículo sem sofrer qualquer incômodo durante a última semana. Porém, a cobrança voltou a acontecer nesta terça.

Ainda de acordo com o trabalhador, instâncias internas da empresa informaram que a decisão foi pautada no Código de Conduta Ética da companhia. Procurada pelo Brasil de Fato, a Petrobras confirmou.

“É de amplo conhecimento de todos os empregados da Petrobras a vedação expressa no Código de Conduta Ética da companhia de que colaboradores não podem promover ou participar de atividades ou propaganda político partidária nas dependências da empresa ou em seus canais de comunicação”, informou a empresa, em nota. Consultada sobre as denúncias de que eleitores de Bolsonaro não sofreram constrangimento, a Petrobras não voltou a se manifestar.

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O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, afirmou que “proibir a entrada de automóveis com adesivos de somente um candidato trata-se de característico caso de odioso assédio eleitoral, em benefício de outra candidatura. O que serve para Chico, serve para Francisco”.

Segundo a FUP, casos como esse já tinham sido registrados no contexto do primeiro turno da eleição, mas se tornaram mais comuns às vésperas do segundo turno. Episódios de assédio foram registrados em refinarias e edifícios administrativos da Petrobras em diversas partes do país. Houve denúncias na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo, em Pernambuco e no Rio de Janeiro, além de São Paulo.

Refinaria de Paulínia (REPLAN). Petrobras. Paulínia (SP). 24.06.2014. Foto: Marcos Peron | Virtual Photo

Ex-deputado disparou 50 tiros de fuzil contra agentes da PF, que quase foram assassinados e clima é de revolta com o fato de Bolsonaro ter protegido um bandido de alta periculosidade, diz a jornalista 

Redação CUT/Gibran Mendes | Editado por: Marize Muniz

O presidente Jair Bolsonaro (PL) é o culpado pela tentativa de assassinato dos agentes da Polícia Federal (PF) que foram recebidos com 50 tiros de fuzil e granadas pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) quando tentaram cumprir uma ordem de prisão no domingo (23).

A afirmação foi feita pela jornalista Míriam Leitão, em sua coluna publicada no jornal O Globo desta terça-feira (25).

Para Mirian, os decretos presidenciais que escancararam a compra de armas e munições servem como estímulo para casos como o do último domingo, quando dois agentes federais saíram feridos por estilhaços de granadas.

Após mais de 40 decretos de Bolsonaro, brasileiros compram 1.300 armas por dia

“O caso Roberto Jefferson jogou um holofote sobre uma parte tenebrosa do governo Bolsonaro. O incentivo a que seus aliados se armem levou o Brasil a uma situação explosiva. Há um milhão de armas nas mãos dos integrantes dos clubes de trio. O total de pessoas nos CACs é mais do que o efetivo de todas as PMs somadas”, diz a jornalista em sua coluna.

Ainda de acordo com a jornalista as armas liberadas não são para defesa pessoal, tampouco para coleção, pois tratam-se de equipamento antigos nestes casos.

Ela ainda criticou o Exército e a própria polícia pelas falhas na fiscalização. “Esse submundo da loucura armamentista teve em Roberto Jefferson um exemplo. Ele não poderia ter aquelas armas todas, dos fuzis com mira a laser a granadas, nem poderia sequer ser CAC. Pelas normas da sua regulamentação, o Exército teria que ter cassado a licença de Jefferson. Falhou a polícia que permitiu aquele arsenal e falhou o Exército que não tirou a licença”, destacou. Se de um lado Bolsonaro facilita o acesso às armas, do outro, desestimula a fiscalização pelos órgãos de controle.

A coluna de Mirian Leitão ainda traz análises de especialista em segurança pública que criticam duramente as medidas de Jair Bolsonaro. A própria Federação dos Delegados da Polícia Federal, em nota, posicionou-se sobre o tema afirmando que a prisão de Roberto Jefferson foi “flagrante por crime hediondo” e exige que a Polícia Federal esclareça os “protocolos adotados no planejamento, na execução e no gerenciamento da crise”.