Depois de greve, presidenta do Sindicato dos Metroviários de SP é ameaçada de morte

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Três ameaças foram enviadas para Camila Lisboa por mensagens privadas de perfis de extrema direita no Instagram

Gabriela Moncau
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 

Desde a última sexta-feira (24), quando a greve dos metroviários de São Paulo foi encerrada, a presidenta do sindicato, Camila Lisboa, passou a receber ameaças de morte. Até esta terça-feira (28), chegaram ao menos três, todas vindas de perfis de extrema direita no Instagram, por mensagens privadas.

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo também recebeu um e-mail ameaçando um ataque à sua sede. Além disso, a entidade afirma que imagens de dirigentes atuando durante a paralisação e de seus perfis em redes sociais estão sendo veiculadas em grupos bolsonaristas, “com xingamentos e mensagens de ódio contra a greve”.

“As ameaças que recebemos não são de passageiros indignados porque não pegaram metrô. Carregam um discurso político de criminalização da greve e de defesa da privatização do transporte sobre trilho, como é o discurso do governador [Tarcísio de Freitas]”, denuncia Lisboa, defendendo que o governo do Estado se pronuncie a respeito. “Houve movimentações características do ‘gabinete do ódio’, foi uma ação orquestrada”, aponta.

:: Greve do Metrô: o dia em que São Paulo quase teve catraca livre, mas Tarcísio impediu:: 

O sindicato registrou um boletim de ocorrência eletrônico sobre o caso e deve reafirmá-lo na quarta-feira (29), com uma ida presencial junto com parlamentares e apoiadores à Delegacia de Crimes Cibernéticos.

Segundo Lisboa, medidas de proteção foram tomadas e vão se intensificar, mas, até o momento, foram tomadas por “apoiadores da luta” e não por autoridades. O sindicato cobra que o “Poder Público e a Justiça” tomem providências em favor da proteção dos dirigentes sindicais e da investigação, apuração e responsabilização dos envolvidos nas ameaças.

Em nota, a entidade afirma que as ameaças à presidenta carregam “grave conteúdo misógino (ódio a mulheres) e racista, característica da extrema direita” e que elas não irão lhes calar. “A categoria metroviária seguirá sua luta por direitos, por um transporte público de qualidade e pela catraca livre”, anunciam.

“Qualquer pessoa pode ter a opinião de que não era certo fazer a greve, mas ninguém pode ameaçar o direito dos trabalhadores e da entidade sindical que conduziu a greve dos metroviários. Não pode ser que os trabalhadores e as entidades sindicais sejam inibidos e perseguidos porque optaram por lutar”, salienta Camila.

A greve dos metroviários foi um dos primeiros embates diretos com Tarcísio de Freitas (Republicanos) desde que ele assumiu o governo de São Paulo, no início do ano. Tarcísio é abertamente bolsonarista – no início do ano, em entrevista à Jovem Pan, reafirmou não ter “vergonha nenhuma” de sê-lo.

A greve 

Camila Lisboa foi uma das principais figuras públicas da categoria durante a quinta (23) e a sexta-feira (24) em que a greve impactou a cidade de São Paulo e recebeu cobertura da mídia. Deflagrando a paralisação às 0h da quinta-feira, os metroviários reivindicaram o pagamento do abono salarial, a revogação de demissões por aposentadoria e novas contratações.

Mais que isso, expõe Lisboa, a paralisação aconteceu por uma piora nas condições de trabalho “e o desrespeito com o qual somos tratados pelo governo nos últimos anos. Uma hora explode a indignação da categoria.”

Como alternativa de mobilização que pressionasse o governo do Estado a atender as demandas sem prejudicar a população, o sindicato propôs que a categoria trabalhasse com efetivo de 100%, desde que a população não pagasse a tarifa da passagem.

O governador Tarcísio de Freitas anunciou – inclusive no seu Twitter – que aceitava a proposta e as catracas seriam liberadas. Mas com os grevistas posicionados em seus postos de trabalho, a empresa estatal não deu a autorização operacional para os trens circularem. O Metrô e o governo disseram que haveria catraca livre ao mesmo tempo em que acionavam a Justiça para proibi-la – e assim conseguiram, na manhã daquela quinta-feira (23).

Diante do que caracterizaram como “golpe” e “traição”, os metroviários seguiram de braços cruzados até a manhã do dia seguinte (24) quando, em assembleia acirrada, optaram por aceitar uma proposta da empresa que acatava parte das reivindicações.

Ao final, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) se comprometeu a pagar R$ 2 mil pelo abono salarial dos anos 2020, 2021 e 2022 (os trabalhadores pediam R$7,5 mil); a instituir o Programa de Participação nos Resultados de 2023; e a não punir ninguém por participar da greve.

“A categoria agora se reorganiza, discute como foi o processo, até porque tem novas batalhas pela frente na campanha salarial e, principalmente, na luta contra os processos de privatização e de desmonte do transporte público”, avalia Narciso Soares, vice-presidente do sindicato.

Para ele, a categoria está “se sentindo mais fortalecida, inclusive por ter mostrado quem mente para a população, quem realmente não quer o melhor transporte do público e prefere dar dinheiro para os grandes empresários”.

“A indignação segue, é justa e aumentou com essas ameaças”, expõe Camila Lisboa. “Se for preciso fazer uma greve geral no estado de São Paulo para impedir as privatizações do Tarcísio, nós vamos fazer”, enfatiza.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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