Jornada dos Movimentos Negros Contra a Violência Policial pede fim da violência de estado e justiça por Mãe Bernardete

Redação
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ)
Representantes de diversas entidades ligadas ao movimento negro realizam atos nesta quinta-feira (24), nas cinco regiões do país, contra a violência policial. A mobilização acontece em dezenas de estados, nas cinco regiões do país (confira a lista com horários e locais ao fim deste texto).

A mobilização nacional foi convocada depois de uma série de chacinas, entre julho e agosto, com pelo menos 32 mortes na Bahia, outras 20 em São Paulo e 10 no Rio de Janeiro. Os protestos lembram ainda a liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico, que foi executada a tiros na última semana, dentro do terreiro Ilê Axé Kalé Bokum, onde era ebomi, na região metropolitana de Salvador (BA).

“Nos insurgimos nas ruas de diversas cidades brasileiras contra as chacinas, mortes e execuções que ocorrem sob a anuência do Estado e têm vitimado até mesmo crianças. O sentimento de vingança e o pretexto da guerra às drogas não podem ser usados como desculpas para matar. Não existe amparo na constituição e na Lei para pena de morte no Brasil”, diz nota assinada por dezenas de entidades do movimento negro e outros representantes da sociedade civil.

O dia 24 de agosto é simbólico para organizações do movimento negro, pois marca o aniversário de morte do abolicionista e advogado Luiz Gama, morto em 1882. Os atos desta quinta marcarão o início de uma jornada de lutas que terá atividades até 20 de novembro, dia da consciência negra.

“Os últimos anos de condução do país aprofundaram a presença do neofascismo na sociedade brasileira e uma das principais marcas talvez seja a fascistização das polícias. Sua herança segue disputando a sociedade. No Brasil, o fascismo e o racismo andam de mãos dadas. Precisamos seguir combatendo”, apontam as entidades.

As entidades ligadas ao movimento negro lançaram também uma carta com onze reivindicações ao Estado e às instituições brasileiras. São elas:

1 – Que o Superior Tribunal Federal proíba operações policiais reativas (com caráter de vingança) a assassinato de policiais  e operações invasivas e em comunidades sob pretexto do combate ao tráfico de drogas, com base no precedente da ADPF 635 das Favelas e nas proposições da ADPF  973 das Vidas Negras;

2 – Ao Congresso Nacional, Lei Federal que torne obrigatório e regulamente câmeras em uniformes de agentes de segurança pública, em todos os níveis (guardas municipais, polícias estaduais e federais), além de agentes de segurança privada em todo país;

3 – Plano Nacional de reparação para familiares e vítimas do estado, bem como para seus territórios, pelo Governo Federal;

4 – Ao Governo Federal, a federalização de todos os casos em que o resultado da incursão policial caracterize assassinatos, execuções e/ou chacinas e massacres;

5 – Ao Congresso Nacional e ao STF, a construção de uma política de drogas que seja fundamentada em evidências científicas, na garantia dos direitos humanos e individuais, na redução de danos, na promoção da educação e da saúde pública, sua descriminalização, colocando definitivamente um fim a guerra às drogas, que segue justificando chacinas contra vidas negras e pobres em todo país;

6 – Ao Congresso Nacional e ao STF que coloquem limites às abordagens policiais para que não sejam racistas e discriminatórias a partir da criação de critérios objetivos para a “fundada suspeita” (instituição de um Sistema Nacional de Abordagem Policial);

7 – Ao STF, ao Congresso e ao Governo Federal, o fortalecimento dos mecanismos de prevenção combate e rigorosa punição à tortura, como as audiências de custódia presencial e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, resgatando inclusive as 29 recomendações da Comissão Nacional da Verdade de 2014.

8 – Ao Congresso Nacional, a revogação da Lei de Drogas  11.343/2006, o fim dos homicídios decorrentes de oposição à ação policial e a desmilitarização das polícias;

9 – Ao Congresso Nacional e ao STF, que imponham métodos de controle externo à atuação policial e a responsabilização e cobrança ao papel constitucional dos Ministérios Públicos no que diz respeito à limitação da atuação violenta das polícias.

10. Suspensão de qualquer investimento em construção de novas unidades prisionais, e  proibição absoluta da privatização do sistema prisional, sem prejuízo de uma solução imediata às superlotações dos presídios brasileiros, dado o gravíssimo aviltamento à dignidade humana.

11. Pelo reconhecimento dos terreiros como espaços do sagrado e pela Titulação dos territórios quilombolas no Brasil; Proteção e garantia da vida aos defensores de direitos humanos quilombolas e de matrizes africanas! Basta de racismo religioso! Titulação, já!

PROTESTO DENUNCIA chacina no Guarujá

Conversas interrompidas por longos abraços de ex-colegas que há muito tempo não se viam e gostosas risadas se repetindo. Isso é o que ocorre todo mês na reunião do Sintufrj com os aposentados e pensionistas, e não foi diferente nesta quarta-feira, 23. Os aniversariantes de julho e agosto foram festejados com suco e o famoso bolo de glacê de noiva que somente a coordenadora Ana Célia tem a receita.

Na pauta, o X Encontro Nacional da Fasubra de Aposentados(as), Aposentados(as) e Pensionistas, dias 15, 16 e 17 de setembro, em Brasília, cujo tema escolhido para este ano foi “Viver é ter respeito, liberdade e amorosidade!” A representação do Sintufrj no evento será de oito delegados(as), entre efetivos e suplentes, e coordenadores sindicais.

Entre os assuntos que serão discutidos no encontro estão a reestruturação da carreira — assunto que tem dominado os debates em toda a base da federação –, plano de cargos e salários, planos de saúde privados, decretos e projetos de leis que podem prejudicar os aposentados e pensionistas.

Negociação com

o governo e Ebserh

“Sejam muito bem-vindos!”, saudou os cerca de 40 presentes no Espaço Cultural do Sintufrj a coordenadora de Aposentados e Pensionistas da entidade, Ana Célia. Em seguida, ela propôs uma dinâmica diferente para as próximas reuniões. “Nosso grupo no  WhatsApp está aberto para sugestões de temas para discutirmos aqui”.

A convite da coordenadora, a aposentada Vânia Guedes, que participa do GT Carreira-Sintufrj e foi delegada ao XXIV  Confasubra e à última plenária da federação, informou sobre as negociações com o governo e sobre a mobilização contra a adesão da UFRJ à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

“Não temos bons informes desta vez”, iniciou ela. “O governo não tinha proposta para apresentar na reunião dia 10 de agosto com o Fonasefe – Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Federais, do qual a Fasubra faz parte. “Porque condicionou o valor que será destinado à Educação e que entrará na LOA (Lei Orçamentária Anual), à aprovação do Arcabouço Fiscal, que substituirá o Teto de Gastos. Nessa data, o Sintufrj realizou um bonito ato e caminhada no centro do Rio como forma de pressão. A mobilização foi nacional,” acrescentou.

O arcabouço fiscal, explicou Vânia, tira dinheiro da saúde e da educação para os banqueiros. “A LOA”, disse, “terá que ser aprovada pelo Congresso Nacional até o dia 31 de agosto e o governo chamou uma mesa de negociação com o Fonasefe para três dias antes dessa data”.

“Queremos o reajuste da tabela, com piso de três salários-mínimos e step de 5% (step é a diferença percentual entre um padrão de vencimento e outro)”, detalhou a aposentada. Ela lembrou que os cargos de nível A, como de faxineiro, foram extintos pelo golpista Temer e genocida Bolsonaro, impondo à UFRJ a terceirização desses trabalhadores.

Segundo Vânia, os terceirizados ganham um salário-mínimo, mas saem mais caro para o governo, porque o dinheiro maior vai para as empresas, cujos donos muitas vezes são deputados, senadores ou empresários amigos do poder.

“A UFRJ é a única universidade federal que não aderiu à Ebserh”

Os informes sobre a luta do Sintufrj e parte da comunidade universitária contra a adesão da universidade à Ebserh rendeu muita discussão. A maioria dos servidores do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) se manifestou. Vários disseram que está faltando informações a respeito do que ocorrerá com os trabalhadores se a gestão da unidade passar para a empresa.

Houve proposta de o Sintufrj elaborar um documento à população  expondo o que significará a privatização das três maiores unidades de saúde da UFRJ – HUCFF, Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e a Maternidade Escola –. “Precisamos chamar a atenção da mídia e convocar as associações de moradores do Complexo da Maré para nos ajudar na mobilização contra a Ebserh. As pessoas precisam saber que o número de atendimento irá diminuir”, defendeu Vânia.

“Os servidores do HU precisam ser esclarecidos sobre a Ebserh. Eles acreditam que com a empresa terão melhorias salariais e no plano de cargos”, reivindicou a aposentada Diná. “Existe a gratificação por chefia, mas a Ebserh pode contratar até profissionais pela CLT para ocupar esses cargos. É a empresa que escolherá seu pessoal de confiança. Vai ter cartão de ponto, inclusive,” alertou Vânia.

Reunião dos aposentados UFRJ.
Rio, 23/082023
Reunião dos aposentados UFRJ.
Rio, 23/082023

Nós não podemos esperar as instituições do Estado que nos mata, trazer soluções pro mal que é produzido por eles.

A vida da população negra só irá mudar, se a gente se organizar, como sempre fizemos desde os nossos ancestrais.

Se você não percebeu, nossa vida é uma luta. Temos de ter um plano coletivo!

A jornada negra quer contar com você, nessa luta pela vida.*

Vamos à luta organizada! ✊🏾

Terça-feira – 22/08 
7h – Ato na porta do HUCFF

9h – Visita setorial: HUCFF

13h – Visita setorial Ippmg.

Quinta-feira – 24/08

9h – Participação no Consuni

10h – Visita setorial na Maternidade Escola

Vamos mobilizar nossa resistência em defesa dos hospitais universitário!

SINTUFRJ EM DEFESA DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS

Os nove hospitais universitários da UFRJ têm funções determinantes para a sociedade brasileira, cumprindo o papel de ensino, pesquisa e extensão, além de garantir um atendimento especializado de alta complexidade à população do Estado do Rio, em especial à população de menor renda.

As trabalhadoras e trabalhadores dos hospitais são altamente qualificados e têm garantido o papel destas unidades com muito esforço e dedicação, mesmo em um cenário dramático de corte de recursos, fruto de anos de políticas contra o serviço público.

Porém, neste momento o papel dos hospitais está ameaçado. Querem terceirizar a gestão dos hospitais, abocanhando o orçamento que hoje é de responsabilidade da UFRJ. Equipes da famigerada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), uma estatal de direito privado, estão visitando as unidades para formular proposta de adesão da universidade.

Vale lembrar que a decisão da Reitoria que aprovou esta situação ocorreu de forma atabalhoada e sem debate com a comunidade acadêmica em dezembro de 2021(durante a situação de pandemia) em duas sessões virtuais do Conselho Universitário, na contramão de todo o histórico de discussões na UFRJ que rejeitou a empresa. Então vejamos:

2013 – Proposta de adesão à Ebserh é rejeitada na comunidade acadêmica por meio de plebiscito organizado por Adufrj, Sintufrj e DCE Mário Prata. Um protesto com mais de mil pessoas ocupou o auditório do CT para repudiar a tentativa de entrega do patrimônio.

2014 – O médico Eduardo Cortez é eleito diretor do HUCFF com uma campanha contra a adesão à Ebserh.

2015 – O professor Roberto Leher é eleito reitor com uma campanha de resistência à Ebserh.

2019 – A professora Denise Pires de Carvalho é eleita reitora, realizando um vídeo no qual deixa claro que em sua gestão não seria aprovada a Ebserh.

2020 – O professor Roberto Medronho é eleito dizendo que não aprovaria a Ebserh sem um debate científico sobre as consequências e resultados da adesão em outros hospitais Brasil afora e que, para tal, definiria uma comissão paritária sobre o tema.

Toda esta cronologia mostra a decisão consciente da maioria da comunidade acadêmica em rejeitar esta medida, que fere princípios dos hospitais universitários. Além disso, desde 2012 (ano de criação da Ebserh) os hospitais têm se mantido de pé com esforço e dedicação de seus dirigentes, trabalhadores técnico-administrativos em educação, terceirizados e extraquadro. Soluções criativas, como um grande volume de emendas parlamentares com verbas para os hospitais, compensaram os cortes, fruto da política de governos como Temer e Bolsonaro.

 

CONTRA A EBSERH

DEFENDER AUTONOMIA, MAIS VERBAS E CONCURSOS

 

ENTENDA POR QUE O SINTUFRJ É CONTRÁRIO À ADESÃO DA EBSERH

Seguindo as decisões congressuais da Fasubra – federação dos trabalhadores das universidades públicas contrária ao modelo Ebserh –, bem como a experiência acumulada dos trabalhadores e das entidades sindicais nas bases, sintetizamos os seguintes problemas:

1 – É uma empresa tercerizadora dos recursos diretos da universidade aos hospitais e do Ministério da Saúde e SUS. Ou seja, é uma intermediadora que vai usar parte destes recursos em seu gasto administrativo. Consideramos que a solução orçamentária é a recomposição das verbas do MEC, MS e SUS para os hospitais.

2 – A empresa funciona cortando custos e buscando lucro, algo incompatível com o preceito constitucional da saúde pública, que prima pela garantia universal de acesso à saúde para a população. Hoje em dia o modelo é de autarquia (gestão direta pelo Estado) nos hospitais universitários.

3 – A Ebserh contrata por meio da CLT, criando um conflito de vínculo com o regime estatutário vigente na força de trabalho. Sabemos que em outros locais isso não deu certo. A solução de fato é a reposição de quadros dos hospitais por via de concursos públicos.

4 – O número de leitos funcionando não cresceu significativamente. Pois este problema somente é resolvido com a reposição de pessoal.

5 – A questão dos extraquadro não será resolvida, pois a Ebserh contratará outros funcionários.

6 – Fim da autonomia e gestão da UFRJ sobre os hospitais. O trabalhador não poderá votar em seus chefes, pois estes serão indicados pela empresa. Como questionar gestores que não elegemos?

7 – A UFRJ conta com os melhores cursos de MBA em gestão hospitalar, por que não aproveitar? Não precisamos de gente de fora.

8 – Os relatos das relações de trabalho nos hospitais que adotaram a Ebserh mostram sobrecarga de trabalho, assédio e até mesmo cessão compulsória de servidores para a tutela da empresa, fato que coloca em risco a própria qualidade do trabalho vital para a população.

9 – Direitos dos trabalhadores RJU conquistados na luta, a exemplo das 30 horas, estão ameaçados.

10 – A tabela de gratificações da Ebserh é exorbitante, e nenhum TAE será indicado. Os que tocam o barco perdem a possibilidade de ascensão à chefia.

11– Todo o patrimônio de equipamentos médico-hospitalares passa para a Ebserh.

 

 

Autorizar negociação não significa adesão!