A terceira maior causa de licenças médicas na UFRJ é por adoecimento mental, segundo levantamento da Coordenação de Políticas de Saúde do Trabalhador (CPST), setor da Pró-Reitoria de Pessoal (PR-4). Assédio moral, conflitos no ambiente de trabalho e lógica produtivista são alguns dos fatores que provocam sofrimento psíquico nos servidores da UFRJ, docentes ou técnicos-administrativos.
Para discutir o tema e buscar soluções conjuntas, a PR-4 promoveu o debate “Relações de Trabalho na Universidade e Adoecimento Mental”, dia 28 de junho, no auditório Horácio Macedo, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Foram palestrantes Alzira Guarany (Escola de Serviço Social/UFRJ), Tatiana Magalhães (Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas/UFF) e Simone Silva (Núcleo de Bioética e Ética Aplicada da UFRJ – Nubea), tendo como mediadora Luciene Lacerda (Nubea).
Apesar de os técnicos-administrativos terem conseguido conquistar reconhecimento institucional na UFRJ – fruto de muita luta do movimento e do Sindicato –, as relações de poder continuam oprimindo funcionários e com isso causando adoecimento mental, de acordo com a pesquisadora Simone Silva. Ela destacou como fatores para o adoecimento mental dos técnicos-administrativos as relações de trabalho, a natureza do trabalho exercido e a hierarquia.
Carga de trabalho
“Tenho quase 30 anos de universidade e me orgulho muito de ser técnica-administrativa. Muitos técnicos se sentem inferiorizados, mas tem que saber de sua importância para a instituição. Se param de trabalhar, a universidade não funciona!”, afirmou Simone. Segundo ela, existe ainda uma carga de trabalho física e psíquica que sobrecarrega os servidores.
A pesquisadora chamou a atenção para o aumento dos casos de assédio moral e defendeu que a instituição tem de construir espaços livres de violência e dar condições de trabalho que não gerem adoecimento.
As pesquisadoras Alzira Guarany e Tatiana Magalhães apresentaram os resultados de seus estudos, tendo como base o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), instituído em 2007 pelo governo do PT.
Alzira fez sua pesquisa com docentes da UFRJ e Tatiana, com técnicos-administrativos da UFF. As duas pesquisadoras atribuíram ao Reuni a precarização das relações de trabalho nas Ifes devido à lógica produtivista do programa.
No debate, alguns participantes relataram sua experiência pessoal, e outros destacaram como falha institucional a ausência de uma política voltada para o acolhimento do servidor. Eles chegaram a criticar a falta de estrutura da CPST.
O pró-reitor de Pessoal, Agnaldo Fernandes, ao final do debate, explicou que a instituição tem procurado criar mecanismos para dar conta da saúde mental dos funcionários e que está promovendo os debates para construir com a comunidade universitária uma política para fazer frente à demanda.
“Toda e qualquer denúncia de qualquer pessoa é acompanhada pela PR-4 e apurada, mas precisamos tratar disso coletivamente. Por isso estamos contando com a colaboração dos profissionais e discutindo com a comunidade. Vamos ter outros espaços para criar mecanismos para ver que política teremos. É nosso papel cuidar de quem trabalha na universidade”, afirmou Agnaldo.