O Brasil já viu, e não gostou, o filme que a direita quer impor

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Por José Carlos Ruy é jornalista e escritor

 

• Cenário em que se opõe a busca pela democracia, contra tendências conservadoras que se afirmam e ameaçam a consolidação democrática. Historicamente eleições para presidente da República tem sido, no Brasil, momentos de crise política aberta. A ênfase, nestes confrontos, tem sido ora política, com a defesa da democracia e sua ampliação, ora econômica, com a busca do desenvolvimento nacional. Conflito dúplice que se acentuou nas últimas sete décadas quando a busca do fortalecimento e avanço da economia brasileira andou de mãos dadas com a necessidade de ampliação do protagonismo popular.

Este talvez seja um dos traços pelos quais a eleição deste ano venha a ser lembrada no futuro: aquela em que as dimensões democrática e econômica tiveram igual ênfase e peso. De um lado está o programa da retomada do desenvolvimento com valorização do trabalho e da renda, programa defendido por Fernando Haddad e Manuela d´Ávila, que preconiza o protagonismo do povo e dos trabalhadores.

Programa progressista e democrático que se opõe ao antidemocrático e de feição fascista dos direitistas Jair Bolsonaro e Hamiltom Mourão, que anuncia atentados aos direitos sociais, ao emprego e à renda, que só poderão ser implantados pela força e repressão – esta é a ameaça à democracia implícita na dupla fascista que disputa a presidência da República.

Ameaça que se apresenta já na campanha eleitoral, vista no acúmulo de notícias de violências cometidas por partidários do inefável Jair Bolsonaro em todos os cantos do Brasil: em Teresina, no sábado (6) um rapaz foi espancado por vestir uma camiseta vermelha; seus agressores o acusavam de “comunista”; em Curitiba, no domingo (7), um homem com a imagem do Lula na camiseta foi atropelado; em Salvador (BA), o mestre de capoeira Moa do Katendê (63 anos), foi morto a facadas por um direitista; no Recife, uma jornalista do Jornal do Commercio foi agredida e ameaçada de estupro por dois apoiadores do candidato da direita; no Rio de Janeiro, a irmã da vereadora Marielle Franco, Anielle, com sua filha de dois anos, foi agredida na rua.

Repetindo as experiências anteriores, do nazismo alemão e do fascismo de Mussolini, os direitistas brasileiros manifestam já na campanha eleitoral sua agressiva belicosidade contra os oponentes e mesmo aqueles que consideram “do outro lado”, e que não compactuam com seus métodos agressivos.

A eleição presidencial deste ano é também inusitada, entre as disputas eleitorais brasileiras, por um fato notório – a rejeição da política por uma parcela imensa de brasileiros. Que resulta da intensa campanha feita, há anos – e acentuada desde as manifestações de 2013 – pela mídia e setores conservadores, contra instituições representativas – partidos políticos, congresso nacional, direito de voto, e a criminalização de organizações do movimento popular.

Um dos instrumentos usados nessa campanha eleitoral, de maneira indiscriminada, e na maior parte das vezes, manipulatória, foram as redes sociais – com destaque para o WhatsApp, que escapa ao controle da lei, e sobre o qual existem fundadas suspeitas de difusão de notícias falsas e alarmistas por grupos de extrema direita.

Estes são fatores – o desencanto com a política, a “crise de representatividade” que adoece a democracia em nosso tempo, e o uso de ferramentas eletrônicas que acentuam o individualismo ante as ações coletivas.

Isso tudo talvez ajude a entender o fenômeno ocorrido no dia 7 de outubro, quando o candidato de um partido pequeno e praticamente desconhecido (o PSL) amealhou 49,2 milhões de votos.

Repetiu, de certa forma e em outro contexto histórico, o mesmo feito de outro aventureiro direitista, que – em 1989 – se apresentou como um outsider da política, Fernando Collor de Mello, e seu pequeno e até então desconhecido PRN – ele alcançou 20,6 milhões de votos no primeiro turno daquela eleição.

O filme de aventura funesta da eleição deste ano já foi visto pelos brasileiros, e terminou mal – o clima ameno em relação àquele presidente durou somente até o dia de sua posse (15 de março de 1990), quando o anúncio do confisco da poupança dos brasileiros derrubou a máscara do “caçador de marajás”.

Jair Bolsonaro anuncia confisco ainda mais grave, atrás de seu discurso moralista, por Deus e pela família – o mesmo que foi repetido à exaustão na fatídica e vergonhosa sessão de 17 de abril de 2016 da Câmara dos Deputados, que acatou o pedido de impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff.

Jair Bolsonaro acena com o confisco dos direitos do povo e dos trabalhadores; quer acabar com o 13º Salário, eliminar direitos do povo e dos trabalhadores; das mulheres, dos povos indígenas, dos negros, da comunidade LGBT; quer manietar os sindicatos. Enfim, anuncia o confisco da democracia tão duramente conquistada pelos brasileiros.

Um filme como este, que termina em confisco e acentua a divisão e a instabilidade política no Brasil, já foi visto e rejeitado pelos brasileiros. Que vão, com certeza, rejeitá-lo outra vez na votação do próximo dia 28 de outubro, quando escolherão Fernando Haddad e Manuela d´Ávila para protagonizar, com o conjunto das forças democráticas, outra história, mais feliz, encenada em nosso país – a história do crescimento com valorização do trabalho e da renda e o respeito altaneiro à soberania nacional. (Portal Vermelho em 10/10/2018)

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