Especializado em história da África, o professor Jorge Nascimento sustenta a tese que identifica o racismo como uma criação para subjugar os negros e legitimar seu genocídio. “O racismo antes de tudo é um sistema de poder que visa o extermínio da população negra no mundo”, diz ele.
Nascimento participou do debate “A história do racismo e seus impactos na contemporaneidade” no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), uma das atividades do Mês da Consciência Negra, organizado pelo Sintufrj. Mediou o encontro a coordenadora do Sindicato Noemi Andrade.
Rodrigo Santos, o outro debatedor convidado pelo Sindicato, é pesquisador do tema na UFRJ. Ele chamou a atenção para o reforço do racismo de acordo com o pensamento intelectual tradicional, que desqualificou e renegou a população negra.
Segundo Santos, em textos registra-se que os negros não têm sentimentos, não têm talento, e de tão matraqueiros deveriam ser dispensados a pauladas.
Eurocentrismo
No debate, Jorge Nascimento destacou que a visão oficial eurocêntrica – a partir dos brancos europeus – destituiu o real valor do continente e de seu povo para a história da humanidade.
Segundo ele, o eurocentrismo exibiu, por exemplo, a civilização egípcia como sendo a de um povo branco, sendo ela reverenciada, mas os historiadores revisionistas comprovaram que se tratava de povos de pele negra – constituídos da mistura de vários povos africanos existentes ao sul e ao norte do vale do rio Nilo.
O professor explicou que a África é um continente antigo, e nela existiram grandes reinos africanos. Algumas grandes chefias, consideradas Estados tradicionais, são conhecidas desde o século IV, mas desconstruiu-se a história desses povos através de uma visão pejorativa e preconceituosa sobre o continente africano. E isso prepondera até hoje.
“O negro não sabe da sua história, a não ser pela visão do europeu. Suas contribuições na filosofia, na medicina, na matemática são colocadas na conta dos gregos”, diz.
Nascimento afirma que a história oficial torna os negros invisíveis, quando não inferiores, o que fragiliza sua autoestima. Conhecer a história africana, disse, é também saber os caminhos que foram tomados para se chegar à liberdade.
“Nós africanos fomos alijados de conhecer nossa própria história. Digo que nenhum branco foi responsável pela nossa libertação, coube isso a nós negros”, sublinhou.
Ódio e medo
O pesquisador Rodrigo Santos afirma que o racismo é um poder que mobiliza as energias do corpo e está relacionado ao ódio e ao medo. “Um ódio que gera impulsos de assassinatos, de destruição e violência. Um medo que leva o povo ariano ao massacre pela existência da diferença”.
De acordo com Santos, o capitalismo se apropriou desses sentimentos para justificar o massacre para a expropriação. E tem no racismo estrutural o alicerce para as políticas econômicas e sociais excludentes e predatórias.
Rodrigo Santos afirma que não há o desejo de se reverter essa situação na nossa sociedade, mas que cabe àqueles que defendem a igualdade a luta pela mudança. “Corpos negros são alvo. Estão na mira do fogo. É o racismo instituído. Por isso, o combate ao racismo precisa acontecer em todas as frentes, com as associações, grupos culturais, universidades e sociedade civil, defendeu. “Não podemos esperar da institucionalidade e dos governos qualquer medida que nos contemple”, finalizou.