Com bravatas típicas de redes sociais, presidente da extrema direita mantém discurso de campanha como cortina de fumaça para esconder a violência do retrocesso econômico e social
“É melhor Jair se acostumando”. O trocadilho que virou bordão entre apoiadores de Bolsonaro ganhou novos contornos com a posse do presidente eleito. A verborragia ideológica, o tratamento truculento aos que não seguem a mesma cartilha do governo e os retrocessos revezam-se no topo da pauta das ruas e redes, criando um ambiente tóxico: desde a recepção aos jornalistas que cobriram o ato de posse, submetidos aos mais diversos níveis de constrangimento, passando pela inexplicável invasão e revista de gabinetes de deputados do PT, PSOL e PCdoB, o autoritarismo fez-se presente.
O discurso de Bolsonaro é um capítulo à parte: pela primeira vez, desde o fim da ditadura militar, um presidente nem sequer menciona o combate às desigualdades sociais. Não faltaram, no entanto, espantalhos e bravatas políticas, como o “combate à ideologia de gênero” e outras invenções useiras e vezeiras das correntes de WhatsApp.
Na sequência, uma enxurrada de medidas retrógradas, anunciadas em tempo recorde, sempre acompanhadas de discursos em tom de campanha eleitoral: a máxima “vamos limpar o país do marxismo” foi a cortina de fumaça perfeita para a garfada de 8 reais no valor do salário mínimo aprovado pelo Congresso; a transferência da demarcação de terras indígenas e quilombolas da Funai para o Ministério do Agronegócio, abrindo margem para a grilagem de terras e o assassinato dos índios; uma reforma da Previdência que pode acabar com a aposentadoria; o anúncio da privatização da Eletrobras, entre outros retrocessos.
O governo já assume também descumprindo promessas de campanha: a redução de ministérios para 17 e o combate à corrupção. Na prática, Bolsonaro extinguiu apenas os Ministérios do Trabalho e da Cultura. De um lado, acena aos patrões, acabando com o espaço de mediação entre capital e trabalho; do outro, mantém sua perseguição aos artistas e o seu menosprezo às políticas culturais. Além disso, pelo menos um terço dos novos ministros é investigado ou responde a algum processo na Justiça, e desde o final de 2018 paira sobre a família do presidente a nuvem do “Caso Queiroz” (o motorista e capanga cuja movimentação financeira milionária é incompatível com a própria renda).
Por fim, o PSL, partido de Bolsonaro, já anunciou um acordão para reeleger Rodrigo Maia, do DEM, como presidente da Câmara. Reorganiza-se, sob “novo” comando, o velho arco de ruralistas, empresários, corruptos e demais inimigos da classe trabalhadora, prontos a passar nossos direitos na faca e entregar o país aos interesses dos EUA e das empresas estrangeiras.
Se este é o rumo do novo governo, nós não vamos nos acostumar. Nem hoje e nem nunca. Em defesa da democracia, da educação pública, das conquistas históricas da classe trabalhadora, pela liberdade e contra a desigualdade social e todas as formas de preconceito, seremos resistência solidária e luta incansável.