Vinte anos sem Horácio Macedo, expressão de autonomia universitária e de democracia na UFRJ
No dia 24 de fevereiro completam-se 20 anos do falecimento de Horácio Macedo. Ele marcou a história da UFRJ pela grande relevância que teve na universidade. Iniciou sua liderança elegendo-se pela comunidade acadêmica decano do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), de 1982 a 1985, e a consolidou quando, em 1985, foi o primeiro reitor eleito, ainda na ditadura, pela maioria absoluta de professores, funcionários e estudantes.
Horácio Macedo, quando ainda era decano do CCMN, apoiou inúmeros movimentos e atuou em momentos importantes na luta pelas eleições diretas para reitor, contra os aumentos no bandejão, pelo ensino público e gratuito, além de ajudar a construir a participação de estudantes e técnicos-administrativos nos colegiados da universidade. Não é por acaso que o Centro Cultural do CCMN, do qual faz parte o auditório Roxinho, palco de lutas históricas dos movimentos docente e sindical, leva seu nome.
Já reitor, foi o grande defensor da autonomia da universidade. Faz parte da história do movimento da UFRJ o apoio que deu ao envio de 40 ônibus para a votação, na Constituinte de 1988, do artigo 207, que trata da autonomia universitária. O próprio Horácio ajudou a construir o texto do artigo.
Em sua gestão, a UFRJ passaria a ter papel de destaque na esfera política, posicionando-se sobre grandes temas nacionais e internacionais, realizando articulações com os movimentos organizados, como o Conselho de Reitores e a Andifes, compondo alianças com outras reitorias progressistas e apoiando lutas populares.
Horácio chegou a ser reeleito, também por maioria absoluta e em primeiro turno, pela comunidade em 1989, mas não pôde exercer a segunda reitoria por causa de um parecer jurídico que declarou inconstitucional qualquer reeleição.
Ex-dirigente do Sintufrj, Carlos Maldonado reconhece que ele “foi, de fato, uma figura histórica. Indispensável no processo de redemocratização do país e de defesa da universidade pública”.
Ainda segundo Maldonado, o peso de Horácio pode ser medido pelo fato de ele, um comunista conhecido, ter sido nomeado por um governo conservador. “Isso dá a dimensão do seu peso político”.
Horácio Macedo tinha coragem de enfrentar a justiça, destaca Maldonado. “Um dos marcos da ação dele foi, logo no início da redemocratização, construir a anistia dos cassados na UFRJ. Hoje a universidade precisaria de uma pessoa como ele. Trabalhava o enfrentamento. Catalisava a defesa da universidade”.
Dinamismo explosivo
“Seu mandato de 4 anos caracterizou-se por um dinamismo explosivo na UFRJ. Tirou a Universidade do “vestibular de cruzinhas” da ditadura. Aprimorou a graduação e a pós-graduação. Criou atividades de extensão que expandiram as fronteiras do campus e envolveram as comunidades carentes vizinhas. Ampliou os programas de saúde já existentes no Hospital Universitário e criou muitos outros. Resgatou, reformou e construiu prédios diversos. Abriu concursos docentes em várias áreas, regularizou a situação trabalhista de centenas de funcionários, corrigiu o enquadramento de professores anistiados, aumentou as vagas discentes e criou cursos novos e áreas novas. Procurou reparar a penúria a que haviam sido relegadas pela ditadura as ciências humanas e as artes, apoiando-as abundantemente. Lutou do começo ao fim pela autonomia da Universidade, para que se tornasse realidade concreta sua existência como autarquia”, escreveu a professora e viúva Annita Macedo.
“A cada momento de aparente derrota, Dom Quixote aparecia mais forte, porque ele não aceitava a derrota. Horácio era assim, e temos que ser assim. Temos que usar essa lembrança para construir um novo campo de luta”, afirmou o reitor Aloísio Teixeira (falecido em 2012) quando da inauguração do Centro Cultural Horácio Macedo, em 2006, comparando a determinação e persistência de Horácio Macedo à do personagem Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.