DEPOIMENTOS: O SENTIMENTO DE QUEM ESTÁ NA LINHA DE FRENTE

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‘Neste momento, estamos todos supertensos e preocupados’

Tainá Souza, enfermeira

“Sou enfermeira do IPPMG (Instituto de Puericultura Martagão Gesteira), onde atuo como servidora há quase três anos, mas fui residente de enfermagem e extraquadro nesta mesma instituição. Neste momento, estamos todos supertensos e preocupados. Felizmente nosso público, como é infantil, não está sendo ferozmente acometido por esse vírus, mas muitos dos profissionais que trabalham aqui também trabalham em outras instituições, então nos preocupamos em nos contaminar com os próprios colegas de trabalho. Estamos essa semana recebendo treinamento, reuniões, tudo para nos deixar preparados para enfrentar a situação. A maior preocupação dos profissionais é se teremos EPIs, onde esses pacientes (com Covid-19) e seus acompanhantes ficarão internados. A estrutura do nosso instituto é bastante antiga, o que complica muito esse fluxo. Moro com minha mãe, idosa e hipertensa. Então, estamos tomando todo cuidado necessário para minimizar a exposição dela. Os sentimentos que nos dominam são medo, insegurança. Somos profissionais da linha de frente, e muitas vezes nos faltam acolhimento e informação.”

 

‘O sentimento que tenho é um grito de socorro’

Marília Barreiro, técnica de enfermagem do HUCFF

“Graças a Deus, equipamentos e vestimenta não têm faltado para nós. Estamos bem abastecidos. Mas, em relação ao fluxo do processo, foi muito corrido e a carga horária é muito pesada: entrou no fluxo do Covid-19, só pode sair quando for embora. Estamos tentando conversar para ver se fazem escala de seis horas. Não é fácil ficar com o equipamento 12 horas, limitado para beber água, ir ao banheiro. Ganhamos dois kits, para quando entramos e quando voltamos do almoço. O sentimento que tenho é um grito de socorro. Sempre fui uma pessoa muito ativa. Mas moro longe (em Resende e tem dificuldade no transporte). Desde segunda à noite tive que dormir no hospital, não tive como voltar. Hoje (terça) voltei de carona. Quando saio, nem sei quando volto. Fico triste e cansada. Mas é uma coisa que tento não absorver. A gente está na linha de frente. Não tem para onde fugir. Tenta seguir o que o Ministério da Saúde orienta para evitar contágio dentro de casa. Ando com máscara para evitar ao máximo me contaminar e as pessoas que estão a meu redor. Mas tento driblar o medo, porque sempre tem.”

 

‘Isso muda a vida de todos nós’

Luciana Ferreira, psicóloga da Maternidade Escola

Tem sido um período difícil para profissionais, pacientes, todos com muito medo. Os profissionais estão muito angustiados de saber do falecimento de colegas (em outros hospitais), medo de contágio, de levar Covid-19 para suas famílias. Tem sido uma tensão e uma preocupação muito grande.

Eu estou afastada socialmente das pessoas da minha casa, dormindo no escritório, comendo em horários diferentes, evitando o mesmo ambiente. Isso muda a vida de todos nós. Tenho uma filha adolescente, sou casada e tenho minha mãe, idosa, de 82 anos, morando comigo, que é minha maior preocupação, pois é do grupo de risco, apesar da boa saúde. Com ela, temos tido ainda mais cuidado. Falo a distância. E ontem, depois do atendimento a uma paciente com suspeita, passei a falar por vídeo. Até que tenha segurança, nem perto vou chegar.

Não tenho perspectiva de voltar a ter vida familiar mais usual tão cedo. Imagino que isso tudo deva melhorar para agosto, setembro. Vemos muitas pessoas sofridas, adoecendo, entristecidas por estarem privadas do contato com a família, com ar livre, se ressentindo da privação. Vamos aguar e torcer para que tudo passe e que as coisas melhorem com perspectiva de tratamentos que permitam evitar mortes.”

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