15M entrou para a história de lutas da educação pública

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Na sexta-feira, 15 de maio de 2020, completa um ano do movimento da educação, puxado pelos estudantes, que paralisou o país e marcou o maior ato de massa contra o governo Bolsonaro. O motivo foi o corte de verbas nas universidades federais e os ataques à educação pública. Foram às ruas 1,5 milhão de pessoas.

De lá para cá, a conjuntura econômica, política e social brasileira mudou e foi agravada com a pandemia do Covid-19, a maior crise sanitária da história mundial. A dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Regina Brunet, e o ex-diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor titular Wilson Madeira Filho, fazem um balanço do 15M.

 “Tsunami estudantil”, segundo Regina Brunet

“Acreditamos que toda a movimentação que a gente traça desde o início do governo Bolsonaro, tem uma marca muito forte da manifestação da educação de maio de 2019. Ela começou com uma resposta firme da juventude e dos estudantes a um projeto de desmonte do ensino público do Brasil por parte do ministro da educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, e parte também de uma resposta dos estudantes sobre o que deve ser a universidade pública e o ensino público no Brasil.

Na época, o presidente e o ministro da Educação chamaram os estudantes de idiotas úteis, manipulados e sem capacidade para saber o que é uma universidade. Nossa resposta se deu tanto nas assembleias de cada curso realizadas nas universidades, quanto nos grandes atos que conseguimos construir no primeiro semestre. Foram muito contundentes, o que inclusive nos deu forças para no segundo semestre continuar os tsunamis da educação e desmontar o projeto Future-se – de privatização e sucateamento da universidade e da pesquisa públicas – em todos os conselhos universitários nos quais o projeto foi colocado. Mas, nós, da UNE, pela tradição de nossa organização que têm 83 anos, consideramos que esse movimento dos estudantes não se iniciou em maio.

Acho que durante o último ano nós tivemos uma força incrível do movimento estudantil que, com certeza, veio de nossas bases, dos centros acadêmicos e dos DCEs, que atuam hoje diretamente nas universidades, com uma participação grande para dar uma resposta ao que para nós é o mais importante: a defesa da universidade pública. Muita coisa mudou, mas com certeza o balanço que fazemos é que a organização dos estudantes tem um potencial muito grande para a mudança de nossa realidade, do nosso cotidiano. E a partir dessa organização e da participação dos estudantes que a gente consegue promover mudanças sociais.

Nesta sexta-feira, 15 de maio, faremos uma ação conjunta da UNE, UBES (secundaristas) e ANPG (pós-graduandos). Será  um dia nacional de mobilização pelo adiamento do Enem. É o “Adia Enem”. E organizaremos também o “Tsunami da Solidariedade”. Em cinco regiões do país, inclusive no Rio de Janeiro, entregaremos máscaras nas filas da Caixa Econômica Federal para as pessoas que estão necessitando do auxílio emergencial, mas que o governo está sendo incapaz de viabilizar. Educação, saúde, alimentação é um direito de todos. E a solidariedade é um dever nosso, daqueles que podem criar esses laços, essas redes.”

 

“Mensagem de resistência”, diz Wilson Madeira

“Um ano do 15M que paralisou o país de forma expressiva e nas principais cidades levando uma mensagem de resistência dos estudantes, professores e servidores, sobretudo das universidades públicas. A avaliação que faço é que dali foi ganhando robustez um pensamento crítico e uma resistência a um governo que não tem compromisso algum com a educação!

Na UFF isso ficou simbolizado no ano passado, quando, em outubro, nós pela Faculdade de Direito junto com a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, realizamos um evento chamado “Moro Mente”. Esse evento foi ajuizado pelo Ministério Público quanto por um deputado do PSL. Conseguimos liminar na Justiça para garantir o evento que foi um sucesso. Foi televisionado, mais de 40 juristas do país teceram comentários a época do envolvimento do então ministro Sérgio Moro, enquanto ainda era juiz, com o Ministério Público na figura do procurador Deltan Dallagnol.

Enfim, essa universidade que é uma universidade crítica ela estava se fortalecendo por ações cada vez mais robustas. Mas o isolamento social causado pelo coronavírus, na prática, fez com que não tivéssemos o início do primeiro semestre letivo de 2020. Ele ainda nem iniciou. E migrou-se então para as redes sociais – não houve outra alternativa – uma série de ações que eu acredito que teriam movimentado todo o corpo estudantil, pesquisadores, servidores novamente.

Aliás, já estava marcado o 8M desse ano, depois haveria o 15 de março, enfim todo um calendário que teve que ser desmobiliza do em razão do isolamento social. Mas uma série de outras questões ficam patentes. Então, o protesto que tem sido feito nas redes sociais é pelo adiamento do ENEM. Porque nenhuma estrutura, aonde as aulas, sobretudo da rede privada, passam necessariamente por computador, ele não pode se dar na universidade pública que tem que garantir a acessibilidade universal. Sabemos que boa parte dos alunos não tem condições de acompanhar por computador pelo simples fato de não ter computador!

E agora, com a fragmentação do governo federal, distribuindo cargos para o Centrão para se manter no poder e evitar o impeachment, só revela a ausência completa de política em todas as áreas. Na área da saúde está patente. Porque é escandaloso tudo o que tem ocorrido, para não dizer que é criminoso, o motivo de que estaremos consignando apoio a medidas de impeachment ao presidente da República.

E mais. Na Educação se revela simplesmente que o objetivo não é levar educação de forma plural para todos os cidadãos brasileiros. Mais uma vez se trata de fazer um trabalho voltado à elite, voltado aos grupos empresariais que procuram privatizar toda a educação.

Por isso, entendo que cada estudante, cada pesquisador desse país, cada servidor crítico e atento está se mobilizando pelas redes sociais, está batendo panela nas janelas. Enfim, que num momento de solidariedade como esse a gente tem que entender de onde não vem o apoio. E lutamos para que a gente volte a ter um governo minimamente consequente.”

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