Não é nenhuma novidade para a comunidade universitária as agruras pelas quais passam os trabalhadores terceirizados na UFRJ, que sequer têm os mínimos direitos trabalhistas respeitados pelas empresas contratantes. Agora, em meio a pandemia viral e o consequente aumento do desemprego no país, a Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (Attufrj) vem a público denunciar demissões de trabalhadores por perseguição política. De acordo com a Attufrj, nos últimos 15 dias, cinco trabalhadores da limpeza da empresa Araúna – prestadora de serviço no campus da Praia Vermelha – foram demitidos sem motivo. Um deles é o diretor da entidade, Robson Carvalho, o Robinho, que trabalhava há 11 na universidade como servente de limpeza terceirizado.
A reitora Denise Pires prometeu providenciar a apuração dos fatos durante a sessão do Conselho Universitário de quinta-feira, 25, quando integrantes do colegiado repercutiram a denúncia da associação. A expectativa da Attufrj é que desta vez a UFRJ aja em favor dos terceirizados, porque a Pró-Reitoria de Governança, segundo a entidade, diz que “não é responsabilidade dela”, quando solicitada para intermediar diálogo para evitar, por exemplo, demissões em massa no bandejão conforme vem ocorrendo.
Perseguição
“Sou do grupo de risco, me colocaram de férias e depois fiquei afastado por indicação médica. Então fui chamado pela empresa e informado que estava de aviso prévio. Não há justificativa para isso. Os funcionários da UFRJ encarregados de fiscalizar o nosso trabalho e os superintendentes das unidades onde trabalhei só têm elogios a me fazer”, disse Robinho.
Segundo o terceirizado, há anos a encarregada da Araúna o perseguia pela sua atuação em defesa dos direitos de todos os terceirizados. Desde 2015 ele atual na linha de frente do movimento na UFRJ.
“Com essas cinco demissões, já passam de uma centena a quantidade de demitidos durante a pandemia. Mas esta é a primeira vez que vemos demissões acontecer por motivos políticos. Antes, as empresas se utilizavam do argumento do corte de custos, de pessoal ou deficiência de caixa para demitir. Agora, demitem por que os trabalhadores querem lutar”, diz a nota pública da Attufrj.
“É notório que é uma demissão política, porque não existe nenhuma reclamação quanto ao trabalho do funcionário Robinho. Pelo contrário, só elogios. Mais estamos felizes porque nossa denúncia surtiu efeito. A reitora está pedindo para apurar o que aconteceu”, afirmou a dirigente da Attufrj, Luciana Calixto.
Segundo a dirigente, foram feitas inúmeras denúncias contra a encarregada da Araúna, que não aceitava o trabalho de conscientização que Robson fazia com os terceirizados em relação a seus direitos. A empresa demitiu o sindicalista mesmo contra a vontade dos chefes e administradores do contrato na UFRJ, disse Luciana.
“O terceirizado tem o direito de reivindicar o mínimo, que é o pagamento do salário e dos benefícios em dia. Aonde vamos parar? Tenho a sensação de que estamos voltando à escravidão, quando era normal trabalhar sem direito a nada. Se reclamar, tá na rua. Assim como foi com Robinho pode ser com qualquer um de nós da associação. Fico indignada com isso, porque eu e Robinho já somos perseguidos há tempos. Várias vezes quase fui demitida por trabalhar na luta. Infelizmente aconteceu agora com Robinho. Nós, terceirizados, estamos muito indignados e pedimos às entidades que abracem a nossa causa. Essa demissão do Robinho é muito injusta”, reafirmou indignada a diretora da Attufrj.
Eficiência
Robson trabalhava como terceirizado em serviços gerais na UFRJ desde 2009. Durante seis anos prestou serviços no Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e sua atuação foi muito elogiada. Mas desde que passou a participar do movimento por direitos disse que as perseguições começaram.
“A encarregada da Araúna me tirou de lá (do Fórum) sem motivo profissional algum”, garante Robson. De lá, ele foi para o Condomínio de Salas na Praia Vermelha, onde novamente teve seu trabalho elogiado.
“Robinho junto com o Alonso, outro terceirizado da Araúna, sempre foi o nosso braço direito no FCC. Tiraram ele contra nossa vontade, o que resultou em descontentamento de todos no FCC e gerou muita briga e reuniões pedindo para ele voltar, sem resultado. Ele sem dúvida alguma é um funcionário diferenciado, que todos querem ter. Muito nos estranha esse atitude da Araúna. Só não estranho mais pelo que já foi feito conosco quando tiraram ele do nosso setor, nos deixando super insatisfeitos”, afirma Marcos Rodrigues dos Santos, administrador de edifício do FCC.
“O assédio moral é fato conhecido até mesmo pelas instâncias superiores, como a Decania e a Reitoria. O que tenho a dizer sobre o Robson é que ele é um excelente profissional”, atesta o administrador da sede do Condomínio de Salas e fiscal do contrato de serviços de limpeza da Praia Vermelha, Leonardo Fernandes da Rocha.