Trabalho precário e perigo de evasão

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De acordo com a Unesco, a pandemia novo coronavírus afeta de 1,5 bilhão de pessoas, como, por exemplo, os estudantes que tiveram sua vida acadêmica suspensa com a paralisação de 91% do alunado mundial. No Brasil, se calcula algo em torno de 70 milhões de pessoas atingidas pela emergência educacional.

“Neste momento em que pranteamos quase 80 mil mortes no Brasil, muitas desnecessárias e que foram produzidas pela negação da ciência e das recomendações de profissionais, e pela incompetência e irresponsabilidade do governo neste momento tão grave”, afirmou a ex-reitora da UFJF e deputada federal (PT-MG), Margarida Salomão, após apresentar os dados da organização internacional, durante debate do qual participou no Festival do Conhecimento da UFRJ sobre “Gestão e pandemia”.

“Desses 70 milhões, 55 milhões estão na educação básica e 8,5 milhões nas universidades, fora educadores e as famílias duramente atingidas por essa mudança de rotina. Portanto, a educação deveria ser prioridade, mas o que vemos é um desgoverno. Em um ano e meio, tomou posse o quarto ministro da Educação (Milton Ribeiro), (a quem desejou sucesso), mas que, segundo a deputada, vai lidar com uma herança do efeito Weintraub (o que saiu) na desorganização da gestão da educação no Brasil., o que é desastroso”, disse ela. Situação, lembrou, que também se estende à saúde, com um ministro interino sem qualificação técnica enfrentando a situação gravíssima da pandemia.

Evitar evasão
Para a deputada, “é necessário garantir a segurança sanitária de todos os envolvidos da comunidade educacional: estudantes docentes, técnicos e suas famílias e não permitir que, por falta de condições, nossos alunos deixem a universidade”. Ela coordena a Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Federais e afirmou que o Brasil continua sendo o 15º país mais desigual do mundo, mas entre as mudanças ocorridas nas universidades no século XXI, permitiram que o país vivesse um processo de democratização.

“Temos que lutar pela permanência dos nossos estudantes, estes que agora têm uma cara muito mais parecida com a população brasileira”, disse citando levantamento feito pelo fórum de pró-reitores da Andifes: hoje, 51% dos alunos se declararam negras e negros, quase 75% do alunado das universidades e institutos federais, e pertencem à famílias que recebem até 1,5 salário mínimo. Então, o povo entrou na universidade e nós precisamos, a bem do avanço da academia e da ciência brasileira, manter esta diversidade; no fim da contas faz a diferença”, concluiu a parlamentar.

Vacina chinesa
“A universidade não parou, apesar da suspensão das aulas, e a instituição elaborou um Plano de Contingência para a Covid-19 e criou um comitê gestor formado por especialistas. A prioridade é salvar vidas”, resumiu Márcia Abrahão, reitora da Universidade de Brasília (UNB). Ela informou também que a pesquisa continuou e surgiram diversos projetos com foco no combate à Covid-19.

A UNB criou um fundo de doação (para doar basta acessar a página da Fundação Finatec) e recentemente passou a integrar uma rede de pesquisa que está testando a eficácia da vacina chinesa contra o coronavírus, coordenado pelo Instituto Butantan.

Também adorou medidas de acessibilidade para o estudo remoto e está previsto para 17 de agosto, o início do ensino remoto, com um período de ambientação até 4 de setembro para dar tempo aos estudantes apoiados pela instituição adquirirem computadores. Para a reitora, a pandemia evidenciou a importância da ciência, da educação e da tecnologia para superar as dificuldades e de termos políticas públicas consistentes, não só para as áreas da educação, mas também na saúde e urbanização.

Política econômica
O pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ e coordenador do GT Pós-Pandemia, Eduardo Raupp, que também participou do debate, disse que a pandemia cristalizou uma crise que as universidades já vinham sentindo há muito tempo e trouxe à tona questões como a ausência de uma liderança do ponto de vista da política do governo federal e de uma política nacional de Educação. A crise sanitária mostrou também o quanto é importante o conceito de autonomia universitária. E defendeu a necessidade de recursos que cubram o teto de gastos neste momento.

Ele também apresentou as medidas que a UFRJ tem adotado desde a criação do GT Multidisciplinar para a Covid-19, responsável por monitorar a situação e pensar medidas, como os investimentos na assistência, na testagem realizada no Fundão e mais recentemente no campus Macaé. Além das iniciativas que levaram a UFRJ a protagonizar, na assistência, o combate à doença.

Perdas
Raupp falou do Covidímetro, um aparelho criado por pesquisadores da UFRJ que mede a taxa de contágio em regiões do Rio de Janeiro, inclusive mapeou localidades de origem da maioria dos alunos e servidores da universidade, cujo resultado revelou que a contam inação nos campi da universidade ainda estão num nível alto, de 1,38, o que não recomenda atividade presencial.

Outro desafio trazido para as universidades públicas durante a pandemia, segundo o pró-reitor, foi o trabalho remoto. Para ele, quando se fala em atividade essencial é basicamente a realizada pelos servidores. “E aí temos uma série de desafios. As condições de trabalho já eram extremamente precárias em muitas partes da universidade. Num contexto de pandemias, isso se torna ainda mais sério. Um conjunto de intervenções precisa ser feitas, mas, afirmou, os servidores estão tocando a universidade de maneira remota com uma série de ameaças de cortes de adicionais, sem nenhum tipo de compensação pelos custos que estão trabalhando de casa, utilizando seus equipamentos, energia, etc.

Apelo
A reitora da UNB informou que técnico-administrativos e docentes dos grupos de risco tiveram sua insalubridade retirada por uma decisão do Ministério da Economia. “Gostaria de fazer um apelo para que essa decisão fosse revista pelo governo. Algumas pessoas que não podem estar no seu local de trabalho até para evitar disseminar da doença, acabam sendo prejudicadas. Tudo isso agrava a situação, inclusive da saúde mental da nossa comunidade”,disse.

“Realmente é necessária uma revisão das medidas que foram tomadas de corte de direitos e que ocorreram num momento ruim e de forma muito abrupta. Não houve discussão sobre isso, as pessoas que foram mais penalizadas não poderiam estar nos seu trabalho por estarem em situação de risco, uma situação total injusta, ao mesmo tempo estão sobrecarregadas de trabalho em cassa, com outras atribuições e não têm compensação ou estrutura. Precisamos discutir mais sobre o tema”, afirmou Raupp.

 

 

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