Teletrabalho nos moldes do governo é ruim para o servidor

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“O governo é extremamente covarde com os trabalhadores, pois toda responsabilidade, custo e ônus será do servidor. Aqui (na UFRJ) é produção de saber. Como quantificar isso numa estrutura tão complexa como a universidade pública?” A indagação é da coordenadora-geral do Sintufrj, Neuza Luzia, durante o debate promovido pela Decania do Centro de Tecnologia (CT) sobre teletrabalho, realizado nesta quarta-feira, 26, com transmissão digital.

A dirigente do Sintufrj não tem dúvidas: “o teletrabalho veio para ficar, mas sob condições bem adversas para o servidor.” Segundo a sindicalista, o assédio moral na universidade será intensificado. “Tenho a convicção de que o assédio moral se potencializará sob as condições do teletrabalho, pois se hoje é uma realidade na UFRJ, com o teletrabalho o servidor estará mais ainda subordinado e submetido às decisões de sua chefia”.

Ela defendeu que o debate sobre o teletrabalho deve envolver de forma intensa os técnicos-administrativos em educação, que devem “se apropriar da discussão para participar e propor a sua organização do trabalho”. Também apontou que a UFRJ deva se organizar institucionalmente, pois o que a universidade e seus trabalhadores produzem, que é o conhecimento, não pode ser mensurado por metas e resultados numéricos como prevê a IN 65.

“Nosso plano de gestão é o Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade (PDI). É ele que deve nos nortear, mas com a participação ativa dos técnico-administrativos respeitando-se a diversidade da categoria e reafirmando que o saber específico tem o seu valor, que vai do marceneiro ao professor”, concluiu Neuza.

Fórum

Nos dias 1, 2 e 3 de setembro, o 1º Fórum Técnico-Administrativo do Sintufrj vai aprofundar essa discussão ao iniciar o debate na universidade sobre a “Uberização” do Serviço Público. Cerca de 400 pessoas, a maioria técnico-administrativo, acompanharam o debate do CT.

Foram também debatedoras no evento, além de Neuza Luzia, a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da Universidade Federal de São Carlos (Sintufscar), Gisele Rosa, e a técnica em assuntos educacionais do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Ana Maria Ribeiro. A mediação coube ao superintendente do CT, Agnaldo Fernandes.

Alerta

Estudiosa sobre o tema, Ana Maria chamou a atenção sobre um aspecto do teletrabalho que poucos se preocupam, que é a segurança dos dados e a proteção de informações pessoais. Segundo ela, o técnico-administrativo da universidade não foi capacitado para lidar com a transição dos documentos físicos para o mundo eletrônico, e a Instrução Normativa nº 65 (do Teletrabalho), traz a dicotomias entre a realidade do trabalho atual do servidor e as diretrizes produtivistas impostas pela modalidade aos moldes do governo.

“O plano de gestão tem um viés produtivista. Metas de gestão gerenciais voltadas para resultados”, observou.

Gisele Rosa reforçou o caráter produtivista da IN 65, destacando principalmente o artigo 20, que autoriza ao ministro da pasta da qual a instituição faça parte, a alterar as normas de procedimentos gerais definidas na instrução normativa.

“Isso atinge a autonomia universitária. Temos de ter cuidado”, alertou. A dirigente também manifestou preocupação com a quantificação do trabalho do servidor: “Todo o trabalho desenvolvido é mensurado em horas. Isso muda a lógica do seu trabalho”, disse.

“Temos de enfrentar essa situação de forma coletiva”, resumiu Agnaldo Fernandes ao encerrar o debate sobre as novas formas de trabalho imposta aos servidores por conta da pandemia viral. Ele agradeceu a participação das convidadas, destacou o trabalho da equipe organizadora do evento formada por técnico-administrativos e convocou os trabalhadores que compõem a comunidade universitária a participarem do 1º Fórum Técnico-Administrativo do Sintufrj.

 

 

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