A partir dos próximos concursos para professores na UFRJ haverá reserva de vagas para negros, pardos e pessoas com deficiência em todas as unidades acadêmicas. Essa decisão foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni) em outubro ampliando a ação de políticas afirmativas na universidade.
“As modificações dão maior efetividade às cotas”, afirma a professora Cristina Miranda, representante dos Professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Consuni. Segundo ela, porque permitem que as cotas nos concursos docentes atinjam todas as unidades e não apenas aquelas onde havia maior número de vagas para concurso.
A decisão, acrescenta Cristina, contempla especialmente as unidades onde é menor o percentual de professores negros e negras, e com deficiências. O Colégio de Aplicação (CAp) foi citado por ela como exemplo. A unidade incluiu as cotas em seus editais de acesso de alunos nos últimos anos, mas ainda não havia conseguido aplicar a política de cotas nos concursos docentes.
Reparação histórica
“A Resolução do Consuni é um passo bastante importante para a UFRJ na reparação histórica necessária aos negros e negras, e no caminho de uma política efetivamente inclusiva. Sobretudo num momento de governos negacionistas e de ações como a do presidente da Fundação Palmares de apagamento da história”, afirma Cristina.
De acordo com o representante dos estudantes no Consuni e diretor do Diretório Acadêmico Mário Prata, João Pedro Paula, a política de cotas na UFRJ para professores negros era inexistente. “Estava escrito, mas era uma lei para inglês ver. Agora, com essa mudança (Resolução aprovada no colegiado máximo da instituição) temos de fato uma política efetiva, porque serão consideradas todas as vagas do edital para poder fazer o cálculo das cotas, com prioridade para as unidades com menor número de pessoas negras”.
Combate ao racismo
O líder estudantil fez parte do grupo de trabalho que elaborou as propostas de modificação da política de cotas em vigor na universidade e, com o apoio técnico da Procuradoria Federal, o Consuni aprovou a nova Resolução.
“Em outros momentos o Consuni já vinha pautando essa questão do racismo devido a um comentário infeliz da Reitoria de que não existia racismo na UFRJ. Eu questionei afirmando que era só olhar para os integrantes daquele colegiado para ver o quanto o racismo estava presente na universidade: o Consuni só possui cinco conselheiros negros, num total de 50 pessoas”, conta
Censo
Segundo João Pedro, há a intenção se fazer um censo tanto de pessoas negras quanto de pessoas com deficiência na UFRJ. “Hoje não temos nenhum dado a respeito”, observa.