Mais de 100 escolas municipais no Rio de Janeiro estão com casos de Covid-19 e esse número pode aumentar com o novo levantamento que o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) esperava concluir na terça-feira, 24, à noite. Diante do quadro, o sindicato reivindica a imediata suspensão das atividades pedagógicas presenciais.
O levantamento foi resultado de denúncias de profissionais, estudantes, país e responsáveis. Na segunda-feira, 23, a direção da entidade enviou ofício à Secretaria Municipal de Educação (SME) com os nomes das unidades reivindicando o fechamento imediato de toda a rede e a suspensão das atividades presenciais, visando diminuir o risco de transmissão da Covid-19.
Riscos não foram considerados
A Secretaria Municipal de Educação definiu a volta às aulas presenciais para alunos do Ensino Fundamental do 9º ano e do último ano do Programa de Educação de Jovens, nas escolas públicas municipais cariocas no dia 17 de novembro. Essa decisão envolveria 61 mil alunos em 427 unidades escolares. Mas, segundo o Sepe, a Prefeitura do Rio informou à entidade que somente 5% dos alunos voltaram às aulas.
O Sindicato encaminhou à Secretaria Municipal de Educação a relação das 103 unidades escolares de todas as Coordenadorias Regionais de Educação (CRE) do município que foram fechadas, devido a casos comprovados ou com suspeita de Covid-19. Diante do quadro grave de contaminação, exposto pelo número de escolas fechadas e determinadas a realização de reuniões presenciais com profissionais da educação e responsáveis nas unidades escolares, o sindicato solicitou o imediato fechamento e a suspensão de atividades presenciais.
Esse foi o terceiro ofício enviado à SME nos quais o Sepe denuncia a situação e pede providências contra a má estrutura da rede e a exposição de profissionais e estudantes ao risco de contaminação pelo novo coronavírus.
Segundo Izabel Costa, da Coordenação-Geral do Sepe-RJ, a lista só aumenta, porque estão chegando na entidade novas denúncias da categoria. E a situação atinge todas as regiões, da Zona Sul à Zona Oeste.
Ao todo, o município conta com 1.540 unidades. Com a lista que seria divulgada nesta terça-feira, 24, Izabel previa que se chegasse a 10% das escolas com casos ou suspeita de vítimas do vírus. “Levando em conta que só 427 escolas abriram para atender ao 9º ano, então o percentual é maior ainda. Mesmo assim tem casos de Covid-19 em escola com educação infantil que não tem alunos, mas professores e funcionários foram chamados para cumprir horário. É desastroso, Realmente um quadro absurdo”, constata a dirigente sindical.
Assembleia
Desde o dia 10 de agosto, os profissionais de educação estão em greve contra o retorno presencial às escolas, mas mantém as aulas remotas. Nesta terça-feira, 24, a categoria realizou nova assembleia. Segundo Izabel, a assembleia da rede municipal é virtual e acontece em duas partes: na primeira ocorrem os debates (etapa que conta com participação expressiva da categoria) e, na segunda, à tarde, na plataforma de votação.
“Houve (na primeira etapa) um relato de toda pressão que estamos fazendo. Temos mais de 100 escolas fechadas na rede municipal por conta de suspeita ou de casos de Covid-19, desde que voltaram a acontecer reuniões presenciais e a entrega ostensiva de materiais, como tênis, apostilas e livros para os responsáveis. Há relatos de casos como não houve durante todo período da pandemia”, contou Izabel. Segundo a sindicalista, uma semana depois do início das atividades presenciais, “pipocaram” casos nas escolas. “Não são profissionais que estavam em casa e pegaram a Covid-19, mas os que estavam trabalhando”, denunciou.
A assembleia pôs em votação a continuidade da greve em defesa da vida, contra o retorno presencial, mas mantendo as atividades remotas. “Continuamos atendendo nossos alunos porque nossa greve é contra o retorno presencial. Não estamos nos negando a continuar o trabalho com alunos”, fez questão de reafirmar a coordenadora do Sepe-RJ.
A votação estava prevista para acontecer até às 20h e Izabel acreditava que seria aprovada a manutenção da greve e a continuidade da pressão sobre a SME para a negociação do abono dos dias de fechamento das escolas.
“Estamos pressionando todos os dias. Entramos em contato com juristas e com o Ministério Público para que tenham uma posição. Não é possível mais a omissão diante do quadro da pandemia no Rio”, afirmou Izabel. Ela também informou que o Sepe-RJ levou à entidades científicas como a Fiocruz e a UFRJ, dados demonstrando que mesmo que os níveis da pandemia estivessem baixos, boa parte das escolas da rede não teriam condições de reabertura e que também não há fiscalização.
Rede privada
Segundo Izabel, que também é diretora do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Simpro-RJ), as aulas presenciais na rede particular foram autorizadas pela Prefeitura do Rio em outubro. Mas, depois de mais de 100 dias de greve, os profissionais aprovaram em assembleia unificada a suspensão do movimento no dia 28 de outubro, com manutenção de “estado de greve e alerta sanitário em vigilância pela vida”. Os professores, conta Izabel, resistiram o quanto puderam, mesmo assim o Simpro mantém visita às escolas e intensificou o envio de denúncias sobre as irregularidades ao Ministério Público e à Vigilância Sanitária.