Abordagem religiosa plural sobre o drama humanitário que atinge o planeta, e a UFRJ em particular, foi a marca do culto ecumênico virtual organizado pelo Sintufrj em memória das pessoas da comunidade universitária que se foram em consequência da Covid-19.
O evento foi aberto pela reitora Denise Pires de Carvalho, que, depois de lamentar perdas e recomendar atenção aos protocolos de saúde, deixou mensagem de esperança. Ela citou a expectativa das vacinas e a torcida para que a normalidade retorne no segundo semestre de 2021.
Um vídeo precedeu Denise Pires. O conteúdo destacava a importância da universidade e da ciência, denunciava o presidente “Bolsonaro genocida” e, numa imagem marcante, expunha fotos de trabalhadores da UFRJ mortos na pandemia.
A coordenadora do Sintufrj Noemi Andrade apresentou os convidados destacando a expressão de pluralidade religiosa ali representada pelo padre Ciro, pelo pastor Henrique Vieira, pela Mãe Adriana, pelo reverendo Daniel Rangel, pelo representante judaico Nelson Nisenbaum, pelo espírita Adriano Barros de Almeida e pelo budista Alcio Braz.
O pastor Henrique Vieira abriu a série de manifestações religiosas afirmando que a celebração estava em sintonia com a ética do evangelho de pluralidade. Depois de destacar a letalidade da Covid-19, disse que o impacto da pandemia no Brasil está sendo agravado pela desigualdade social.
Padre Ciro pontuou que jamais o povo brasileiro deve esquecer as vidas ceifadas na pandemia e responsabilizou o governo “sem compaixão e sensibilidade”. O religioso rezou o Pai-Nosso e invocou respeito e solidariedade aos mortos, e esperança de dias melhores para o povo e o país.
O depoimento de Mãe Adriana teve a marca da indignação contra a intolerância religiosa e a violência do estado contra pobres e negros. Ela se solidarizou com as famílias dos mortos pela Covid-19, e lembrou, também, que, além da pandemia, milhões são mortos pela fome e pela injustiça no mundo.
Adufrj
A presidente da Adufrj, Eleonora Ziller, em nome dos docentes, se solidarizou ao ato organizado pelo Sintufrj. Ela lembrou que aqui no Brasil “nós vivemos uma desgraça nacional particular [promovida] por um governo assassino”. E afirmou ser muito doloroso conviver com mortes que em outras circunstâncias seriam evitáveis.
“Vivemos um momento muito triste no Brasil, política e administrativamente, em consequência da má palavra (as fake news), das mentiras”, afirmou Nelson Nisenbaum, representante judaico no evento. Segundo o religioso, o conhecimento verdadeiro, o nosso saber nos dá humanidade diante do Universo, e o verdadeiro mundo não deixa que nos falte força e fé. ‘“Shalon’ significa ‘completude’, e a sociedade só estará completa se todos forem tratados iguais. Com essas palavras, homenageio todas as vítimas da Covid-19 e de injustiças neste governo maléfico”, finalizou.
Attufrj
Dirigente da Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (Attufrj), Waldinéa Nascimento: “A gente precisa de luz cada vez mais clara no fim do túnel, que é a vacina, para que possamos seguir com a vida, apertar as mãos, matar a saudade. Cada vez mais devemos estar juntos para superar o descaso dos governantes, que deveriam estar tomando conta da gente, mas não estão. As famílias que perderam seus entes queridos recebam todo o nosso carinho, e seguiremos com fé”.
Alcio Braz, sacerdote budista: “Oferecemos nosso respeito a todos e todas enlutados pela Covid-19 e pela opressão, violência e racismo sistêmicos por conta deste governo maléfico. Estamos presentes no aqui e no agora. Temos que encontrar forças para viver com os nossos votos e para aprender a cuidar uns dos outros. A gente tem que se cuidar, mas com um cuidado amoroso. E rezar para que possamos ter saúde e seguir na nossa caminhada”.
“A esperança está na ciência, e a UFRJ se destaca no combate e no tratamento da Covid-19, e, como militante de direitos humanos, sinto-me muito feliz por estar aqui no Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de dezembro) como um espectro dos governos Temer e Bolsonaro, que tiraram direitos dos trabalhadores, e hoje o que está acontecendo no país é um genocídio”, afirmou o reverendo Daniel Rangel, da Igreja Anglicana. “Este é um ato de resistência que lembra que a vida é mais importante que a economia, e os trabalhadores da UFRJ são heróis, assim como todos os funcionários da saúde do Rio de Janeiro.”
Espírita Adriano Barros de Almeida: “Qualquer um de nós pode adoecer nessa pandemia. Então, o que podemos extrair dessa dor? É necessário resgatar a esperança e lembrar cada um dos nossos irmãos pelo seu trabalho. Se aqui permanecemos, é para valorizar o legado dos mais de 180 mil que nos deixaram. Cada amanhecer é um novo dia de luta, e seguiremos esperançosos”.
Sintufrj
Com voz embargada pela emoção, a coordenadora-geral do Sintufrj Neuza Luzia encerrou o ato ecumênico dirigindo-se aos familiares dos trabalhadores da universidade que nos deixaram este ano:
“Vocês têm tudo para se orgulharem muito, porque eles ajudaram a construir essa universidade grandiosa que temos hoje e que está ajudando a combater a pandemia, e que enfrenta, com coragem, os ataques do governo federal contra a instituição universidade pública e seus trabalhadores, tanto do RJU quanto dos terceirizados, que sustentam o dia a dia de seu funcionamento.
Eu sei que a perda é insustentável e dolorosa, mas eles vão estar eternizados na história dessa universidade, como disse a companheira da Adufrj, professora Eleonora. Eles estarão para sempre em nossas vidas e na dos estudantes que passaram pela UFRJ.
E essa pequena homenagem que fazemos hoje é de coração, e vou encerrar esse evento recuperando ainda a palavra que mais foi dita pelos nossos religiosos: Esperança. E eles só nos derrotarão se conseguirem tirar da gente a esperança. E isso eles não conseguirão. A gente renova as esperanças a cada ataque do governo, quando a gente também percebe a necessidade de estarmos juntos. Essa, aliás, é a outra mensagem que este culto deixa para nós.
São 180 mil famílias enlutadas, que nós não temos tempo para pequenos problemas. Temos que ser mais tolerantes uns com os outros em todos os espaços da nossa vida, mais generosos e mais cuidadosos uns com os outros. Precisamos perceber que para renovar nossas esperanças, ter forças para superar a dor que essas perdas nos causam precisamos estar mais juntos e secundarizar pequenos valores, e perceber a necessidade de construir uma rede de solidariedade que venha de dentro e percebamos o outro como se fôssemos nós mesmos. Aí, sim, a gente vai estar forte de fato para combater esse governo que bateu muito na gente em 2020, menosprezou a sociedade brasileira, desrespeitou e debochou da dor das perdas, um governo que não tem nenhuma empatia com a população.”
ASSISTA AO CULTO NA ÍNTEGRA: