O chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ, Amílcar Tanuri, informou que o seu grupo de pesquisadores está desenvolvendo uma vacina contra a Covid-19 e espera receber recursos do Ministério da Saúde para dar continuidade às pesquisas. E embora seja um projeto para 12 meses, ele espera obter bons resultados na metade desse tempo.
Em linhas gerais, o especialista explica que o princípio da vacina que está sendo desenvolvida pela universidade é parecido com a vacina da multinacional Pfizer (com uma versão sintética do material genético do vírus para acionar o sistema imunológico). Mas com uma diferença: os cientistas da UFRJ trabalham para que esta vacina possa ser armazenada na temperatura de -4 graus e não -80 graus como exige a do laboratório multinacional.
“É uma alternativa tecnológica para que o país não fique dependente do exterior”, define Tanuri.
Irresponsabilidade
Sobre a polêmica envolvendo o governo Bolsonaro e governadores, Roberto Medronho, epidemiologista e coordenador do GT da Covid-19 da UFRJ, considera absurda a exploração política de uma tragédia sanitária e lembra que nunca houve na história uma vacina em período tão curto disponível para a população.
Como o governo federal não tem um plano concreto para iniciar a vacinação, Medronho propõe a realização de audiências públicas com a participação de secretários de saúde e a sociedade para discutir a melhor estratégia de vacinação no país, quando houver vacina disponível para os brasileiros. Ele se preocupa com as expectativas das pessoas e chama a atenção para o seguinte:
“Em primeiro lugar é preciso produzir milhões e milhões de doses para atender a demanda. Além disso, é também necessário produzir outros tantos milhões e milhões de seringas, agulhas e vidros para envasamento da vacina, mas hoje a capacidade instalada no Brasil para produção desses insumos em tão curto prazo não existe. Tem ainda a organização da logística de distribuição, a cadeia de chegada das doses aos postos de saúde. Então, não será da noite para o dia que teremos a população imunizada”.
Ele calcula que “levará todo ou grande parte do próximo ano para o Brasil atingir a cobertura vacinal e ter a proteção coletiva. Daí a afirmação de que, em 2021, mesmo com a vacinação, ainda conviveremos com problemas decorrentes da Covi-19”, e acrescenta: “Está todo mundo achando que chegou a vacina e pode sair por aí. O grave é que para quem adoecer e morrer da doença, a chegada da vacina não vai fazer diferença. É preciso redobrar os cuidados, porque agora os casos estão aumentando e novos leitos hospitalares ainda não foram oferecidos”, frisa.
O epidemiologista também critica a tentativa do MEC de retomar aulas nas universidades em 1º de março, e afirma que isso só poderá ocorrer se houver uma mudança radical no quadro epidemiológico atual. Ele lembra que adultos transmitem a doença muito mais que crianças: “Se juntar todo mundo em março, como quer o ministro da Educação, não há dúvidas de que aumentará muito o número de casos entre alunos, técnicos-administrativos e docentes da UFRJ”.