Em 11 meses de pandemia, Brasil tem um terço de todas as mortes de profissionais de enfermagem por covid-19 do mundo e situação pode se agravar em 2021
Matéria retirada do site da Rede Brasil Atual.
Trabalhadoras da enfermagem da capital paulista querem providências sobre situação dos profissionais do setor – que representam 60% dos profissionais de saúde – em meio à segunda onda da pandemia de covid-19. Em todo o país, foram registrados 47.335 casos de coronavírus entre enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem e obstetrizes. Destas, 525 morreram. Os dados são do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), até 31 de dezembro. “Decorridos 11 meses de pandemia no país, permanecemos ocupando a primeira posição entre os países que mais matam profissionais de enfermagem no mundo, alcançando a triste proporção de um terço dessas mortes”, diz a nota das trabalhadoras.
Os dados do Cofen mostram que a maior parte dos casos e mortes por covid-19 entre profissionais de enfermagem ocorreu em São Paulo. Desde março de 2019, foram 7.353 casos, com 86 mortes. Em seguida vem o Rio de Janeiro, com 5.058 casos e 59 mortes. “A pandemia fez emergir de forma abrupta e violenta as fragilidades de serviços públicos, que se encontravam no limite de sua capacidade de funcionamento, bem como evidenciou o abandono em que se encontravam os trabalhadores, em particular as de enfermagem”, dizem os profissionais.
A grave situação de 2020 pode piorar em 2021, com o agravamento da pandemia de covid-19 e cada vez menos profissionais de enfermagem em condições de atuar, tanto pelas mortes, quanto pela exaustão devido à carga de trabalho – muitas vezes com férias suspensas – e os afastamentos por problemas de saúde mental decorrentes dos meses de atuação na linha de frente dos serviços de saúde. E também por mecanismos cada vez mais violentos de exploração dos trabalhadores e redução de direitos.
“As difíceis condições de trabalho da enfermagem também são consequência da adoção plena pelo Estado brasileiro da perspectiva neoliberal, que acarretaram aumento das desigualdades, concentração de renda e pobreza. A flexibilização das leis trabalhistas e o desmantelamento do sistema de proteção ao trabalhador intensificaram o contexto já preocupante em 2013, no qual um terço das enfermeiras tinha mais de um vínculo empregatício, 41,5% trabalhava mais do que 40 horas semanais e 71,7% referia desgaste na atividade profissional”, ressaltam as trabalhadoras, que recebem o apoio da Associação Brasileira de Enfermagem e outras organizações.
A chegada das vacinas contra covid-19, apesar de trazer esperança, também traz temor aos profissionais de enfermagem, pois trará aumento significativo da carga de trabalho. “A sobrecarga das trabalhadoras de enfermagem será ainda mais potencializada, tanto pela intensificação do ritmo já extraordinário e preocupante de trabalho, quanto pela exposição a possíveis agressões por parte dos usuários, insatisfeitos com dificuldades previsíveis numa campanha dessa dimensão, em que é possível se antever filas de espera e intercorrências de várias ordens – falta de material ou de vacinas, de profissionais, entre outras”.
Entre as propostas das trabalhadoras estão: contratação emergencial; que a organização do trabalho seja planejada e não fique à mercê do ocasional; respeito ao número de horas contratadas para o trabalho diário na atenção básica; supervisão técnica, apoio psicológico às equipes e garantia de educação permanente, com capacitação para vacinação; garantia de máscaras descartáveis para a população na entrada do serviço; garantia de espaço físico adequado para a realização da vacinação, com disponibilidade de lavatórios para higienização das mãos e respeito às normas de biossegurança.