No dia em que conclama seus seguidores a comemorar o golpe de 64 – 20 anos de tortura e morte, cassação das liberdades coletivas e individuais, de desemprego, ausência de políticas públicas, entre outras atrocidades cometidas pelos generais e as elites brasileiras contra o povo –, Bolsonaro leva para dentro da comunidade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) seu autoritarismo e desrespeito à democracia e à autonomia universitária, ao nomear para reitor o terceiro nome da lista tríplice.
Estudantes, professores e técnico-administrativos escolheram, em 2020, na eleição interna, Ricardo Berbara, o primeiro nome da lista tríplice aprovada pelo Colégio Eleitoral. Mas, na quarta-feira, 31, portaria publicada no Diário Oficial da União, nomeia para o cargo de reitor da instituição, de 2021 a 2025, Roberto de Souza Rodrigues, o terceiro na lista enviada ao Ministério da Educação.
O reitor imposto por Bolsonaro foi pró-reitor de Planejamento durante o mandato anterior de Ricardo Berbara na reitoria, que terminou no dia 27 de março. Esta é mais uma entre tantas decisões do presidente da República genocida que desconsidera os anseios da comunidade das instituições federais de ensino no país.
Comitê pela
posse do eleito
No dia 29 de março, ainda sem posição do governo, em ampla reunião com presença de dirigentes da Associação de Docentes (ADUR), do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintur), da Fasubra, do Andes, de centros e diretórios acadêmicos e de representantes dos colegiados superiores, a comunidade universitária da UFRRJ lançou o comitê: Reitor eleito, reitor empossado.
Interino por um dia
Na terça-feira, 30 de março, com o fim do mandato de Ricardo Berbara, o Conselho Universitário referendou Joecildo Francisco Rocha, pró-reitor de graduação (aquele com mais tempo de casa, como manda o estatuto), para responder temporariamente pela Reitoria, até que fosse publicada a portaria de nomeação do novo reitor.
Só que a portaria divulgada na quarta-feira, 31 de março, repetiu o desrespeito que se viu em muitas outras instituições do país: o governo Bolsonaro ignorou a autonomia universitária e a vontade da comunidade universitária.
Como lembra o site da Associação de Docentes da Rural (Adur), em cerca de 20 Instituições de Ensino Superior o MEC nomeou para reitor nomes que não foram os apontados pelas comunidades universitárias, demonstrando o caráter antidemocrático do governo.
Um mapa produzido pela Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pelotas (ADUFPel) mostra as universidades, institutos e Cefets que tiveram nomeados como reitores docentes que não foram escolhidos pelas respectivas comunidades acadêmicas.
Como foi o processo
“Importante ressaltar que tanto a Consulta Pública com a comunidade acadêmica da UFRRJ quanto a eleição ocorrida no Conselho Universitário que enviou a lista tríplice ao MEC ocorreram com transparência, lisura e integridade. Os processos foram respaldados pelas duas chapas concorrentes e seguiram todas as exigências legais e jurídicas”, diz a Adur.
A consulta pública, no final de novembro, contou com as chapas Rural de todxs e UFRRJ é a gente, compostas respectivamente por José Antônio Veiga e Pedro Paulo (como reitor e vice-reitor) e Ricardo Berbara e César Da Ros (também como reitor e vice). Segundo o site da Adur, a chapa de Berbara, conquistou 3.993 votos e a de José Antônio de Souza Veiga, 3.182 votos Num total de 7.175 votantes.
Em dezembro, na sessão dos Conselhos Universitário e de Ensino, Pesquisa e Extensão, a lista tríplice foi composta por Ricardo Luiz Louro Berbara, Cesar Augusto Da Ros e Roberto de Souza Rodrigues.
Plenária vai definir a posição da comunidade
No mesmo dia (quarta, dia 31), representantes dos movimentos docente, discente e técnico-administrativo realizaram uma plenária aberta para definir a posição conjunta da comunidade. Até às 19h15, quando fechamos esta edição do boletim da categoria, a comunidade da Rural ainda não havia encerrado às discussões.
Elisa Guaraná, professora do Departamento de Ciências Sociais e representante docente no Conselho Universitário explicou que a lista tríplice foi formada no colegiado por consenso, sem discordância dos três nomes possíveis. “Mas independente disso, temos a atitude autoritária de não se respeitar a indicação do conselho, de quem seria nosso futuro reitor, o vencedor na consulta à base da comunidade universitária”, disse ela.
Ivanilda Reis, coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRRJ explicou que o terceiro da lista participou da consulta democraticamente como pró-reitor na chapa eleita em primeiro lugar. “Os nomes foram encaminhados conforme determina a legislação. E o nome escolhido pelo Bolsonaro foi o terceiro da lista, mas não o mais votado que é Berbara. Fizemos uma grande reunião anterior (dia 29) e tiramos posição de que falaríamos conjuntamente pelo Sintur, pela Adur e DCE. Ontem, no Conselho, tiramos posição em defesa da democracia, e de que o reitor eleito seja empossado. Defendemos o primeiro nome da lista”, diz ela, chamando atenção a plenária que se realizaria a seguir, no dia 31.
A coordenadora reitera: “Foi um desrespeito à comunidade, ao conselho e todos que colocaram Berbara como o primeiro. Mas a plenária vai definir e acataremos. Nossa posição foi sempre reitor eleito, reitor empossado. Embora o terceiro colocado seja da comunidade, já era pró-reitor de Planejamento no mandato anterior, participou do processo, então ele não é interventor. Mas é o terceiro nome, não foi escolhido democraticamente para reitor. A questão é a afronta à autonomia. Não foi a comunidade que escolheu. Foi Bolsonaro. E isso é um absurdo”, afirmou a dirigente sindical.
Ela também pediu que se aguardasse o resultado da plenária que definirá uma posição comum da comunidade a respeito.