Acredito que não faria sentido fazer ciência sem a compreensão de alguns problemas da sociedade em que estamos inseridos.
Kabengele Munanga
Nesta terça-feira, 25 de maio, Dia Internacional da África, a UFRJ fez história ao conceder o título de Doutor Honoris Causa ao cangolês-brasileiro, Kabengele Munanga, pela sua luta contra o racismo e as desigualdades sociais no país. Cerca de duas mil pessoas assistiram a cerimônia remota, que encontra-se disponível no canal WebTVda UFRJ, no Youtube.
Aos 80 anos de idade, o homenageado, professor titular aposentado da USP e autor de diversas obras, continua realizando pesquisas e atuando junto aos movimentos antirracistas e na defesa das ações afirmativas nas instituições públicas de ensino e das populações pobres e oprimidas, em consequência do descaso do Estado brasileiro para esta realidade cada vez mais cruel.
“Recebi a notícia da homenagem com muita surpresa, porque nunca sonhei com ela, e com alegria, porque aquilo que defendo foi reconhecido por outras pessoas”, disse Kabengele Munanga.
“Não sou o primeiro nessa luta, pois há muitos nomes e grandes intelectuais, brancos e negros, homens e mulheres e grandes militantes negros e negras que me antecederam e com quem muito aprendi”.
“Mas o que eu teria dito de especial para merecer esse título? É uma pergunta que algumas pessoas com toda a razão podem fazer. Mas creio que não teria sentido eu contar o que fiz. Mas ele contou – Munanga referiu-se ao professor Jadir Brito, do Núcleo de Direitos Humanos do Centro de Filosofia e Ciências Humanas que apresentou a trajetória do homenageado na sessão solene do Conselho Universitário –, pois as pessoas que decidiram me conferir esse título sabem melhor do que eu porque tomaram essa sábia decisão”.
“No entanto”, continuou o homenageado, “algumas palavras da minha parte são necessária em respeito a algumas pessoas que nos acompanharam nesta cerimônia. Acredito que não faria sentido fazer ciência sem a compreensão de alguns problemas da sociedade em que estamos inseridos. E a verdadeira consciência não aceita o silêncio e a indiferença diante de qualquer forma de injustiça que anulam os direitos humanos fundamentais de um cidadão ou de uma cidadã e pouco importa a cor de sua pele, seu sexo, classe social e religião, entre outras diferenças”.