O intervalo recomendado pela organização e pela empresa é de 21 dias, enquanto Brasil estabelece 3 meses
Caroline Oliveira-Brasil de Fato | São Paulo (SP) |4 de Maio de 2021
O Ministério da Saúde orientou que estados e municípios respeitem um intervalo de 12 semanas entre a primeira e a segunda aplicação da vacina da empresa farmacêutica estadunidense Pfizer em parceria com a alemã BioNTech.
O recomendado pela Pfizer, no entanto, é de 21 dias; o mesmo defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo a pasta, as diretrizes adotadas seguem as mesmas estabelecidas no Reino Unido, com base em dados que revelam uma reação imune alta em idosos logo após a aplicação da primeira dose, de acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet, do consórcio UK Coronavírus Immunology, formado por especialistas de aproximadamente 20 instituições.
A pesquisa utilizou amostras de sangue de 76 idosos britânicos entre 80 e 99 anos. Do universo amostral, 93% dos imunizados, com apenas uma dose da Pfizer, criaram anticorpos em um intervalo de cinco a seis semanas após a aplicação.
“Até onde sabemos, esse estudo é o primeiro do tipo a comparar as respostas de anticorpos e células T após uma única dose da vacina Pfizer em determinada faixa etária”, afirmou Paul Moss, professor de hematologia da Universidade de Birmingham e líder do estudo, ao jornal britânico The Guardian.
A pesquisa mostra que a decisão do governo britânico de aplicar a segunda dose na 12º semana após a aplicação da primeira é segura. Anteriormente, o período era de três semanas.
“É importante entender como a resposta imunológica gerada pelas vacinas contra a covid-19 varia com a idade, o atraso entre as doses e o tipo de vacina administrada. (…) As descobertas são tranquilizadoras porque muitos países, incluindo o Reino Unido, optaram por adiar a administração de segundas doses”, afirmou Moss.
Segundo a Pfizer, “as indicações sobre regimes de dosagem ficam a critério das autoridades de saúde e podem incluir recomendações seguindo os princípios locais de saúde pública”, informou em nota ao G1.
Também afirmou que a bula registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orienta um intervalo de 21 dias, preferencialmente.
“A segurança e eficácia da vacina não foram avaliadas em esquemas de dosagem diferentes, uma vez que a maioria dos participantes do ensaio recebeu a segunda dose dentro da janela especificada no desenho do estudo”.
Já de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “pesquisas adicionais são necessárias para entender a proteção potencial de longo prazo após uma única dose”.
Para a organização, “os países que vivenciam circunstâncias epidemiológicas excepcionais podem considerar adiar por um curto período a administração da segunda dose como uma abordagem pragmática para maximizar o número de indivíduos que se beneficiam com a primeira dose, enquanto o fornecimento da vacina continua a aumentar. A recomendação da OMS no momento é que o intervalo entre as doses pode ser estendido até 42 dias (6 semanas), com base nos dados de ensaios clínicos atualmente disponíveis”.
Recomposição do orçamento para Versamune
O governo federal estuda recompor o Orçamento 2021 para viabilizar a produção da Versamune, o imunizante contra a covid-19 desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Farmacore Biotecnologia e a estadunidense PDS Biotechnology.
Ao sancionar o orçamento, o presidente Jair Bolsonaro vetou R$ 200 milhões que seriam destinados ao desenvolvimento da vacina.
Segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, “o corte à produção não estava explícito no veto. Estão em estudos procedimentos para recompor dotações. A produção de vacina brasileira é um assunto prioritário, temos alternativas”, afirmou durante audiência da comissão temporária do Senado Federal destinada a acompanhar as ações de combate à pandemia da covid-19, na segunda-feira (3).
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, classificou o corte, que está ligado à sua pasta, de “estrago”.
“Estamos tanto trabalhando para o orçamento do ano que vem, quanto vendo o que vamos fazer com o orçamento deste ano, com o estrago, vamos chamar assim. Realmente, foi muito comprimido esse orçamento”, afirmou Pontes.
Antes do veto, Pontes já demonstrava preocupação com os cortes ligados ao Orçamento de 2021. “O nosso desafio aqui é justamente o Orçamento. Esse custo é um investimento muito bom para o país. São R$ 30 milhões para essa fase 1 e 2, um ensaio clínico com 360 pacientes, e depois são mais R$ 310 milhões com a fase 3, com 25 mil pacientes. Tenho esperança agora que isso entre no Orçamento”, afirmou o ministro.