Luis Miranda afirma que presidente não respondeu mais os contatos após apresentar denúncia
O deputado Luís Miranda (DEM-DF) apresentou pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro “provas contundentes” de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. Em entrevista à CNN, nesta quarta-feira (23), o parlamentar afirmou que o “presidente sabia que havia crime” no processo de aquisição.
O deputado é irmão de Luis Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde. Segundo ele, Bolsonaro tinha conhecimento dos problemas e ficou “convencido”, após a denúncia de Luis Miranda, que se comprometeu a acionar a Polícia Federal.
O contato de Miranda com Bolsonaro foi feito no dia de 20 de março. Apesar de levar “provas documentais” da corrupção, Miranda diz que não recebeu retorno sobre o caso. No dia 24 de março, ele relata que foi novamente atrás do presidente, que não respondeu mais aos contatos. “Não tinha motivo para o presidente não ter gostado da informação, estou protegendo nosso país”, disse Miranda à CNN.
Mensagens
Ao jornal Metrópoles, o parlamentar encaminhou as mensagens enviadas a um secretário do presidente Bolsonaro, com os alertas de uma possível corrupção no processo de compras da Covaxin. A conversa mostra Luis Miranda insistindo na apresentação da denúncia a Bolsonaro, mas o integrante do governo enviava a bandeira do Brasil como resposta.
“Avise o PR (presidente da República) que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Ministério da Saúde. Tenho provas e as testemunhas. Sacanagem da porra… A pressão toda sobre o presidente e esses FDPs roubando”, escreveu o parlamentar, no dia 20 de março.
Ele insistiu no assunto. “Não esquece de avisar o presidente. Depois, não quero ninguém dizendo que eu implodi a República”, escreveu Miranda, que novamente não recebeu uma resposta.
O deputado federal e seu irmão devem ser ouvidos pela CPI da Covid-19 na próxima sexta-feira (25). O requerimento de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi aprovado nesta quarta-feira (23), durante despachos da comissão.
Corrupção na compra da Covaxin
O Ministério Público Federal (MPF) identificou indícios de crime em compra da vacina indiana Covaxin pelo governo Bolsonaro. A aquisição feita pelo Ministério da Saúde foi de 20 milhões de doses da vacina indiana. O MPF pediu que o caso seja investigado na esfera criminal. Até então o caso vinha sendo apurado dentro de um inquérito que tramitava na esfera cível. O contrato para a compra da Covaxin totalizou R$ 1,6 bilhão, segundo reportagem do jornal O Globo.
De acordo com informações da Folha de S. Paulo, o servidor da área técnica do Ministério da Saúde afirmou, ao MPF, que “sofreu pressão atípica” da gestão do general Eduardo Pazuello para tentar garantir a importação dessa vacina mais cara. O funcionário declarou que o tenente-coronel Alex Lial Marinho era um dos responsáveis por pressionar a equipe. General da ativa do Exército, Marinho era homem de confiança do ex-ministro da Saúde, conforme a reportagem, e foi exonerado após a saída de Pazuello.
Em depoimento ao MPF, Luís Ricardo disse que o governo fez pressão para a compra da vacina indiana e para favorecer a Precisa Medicamentos, empresa que intermedeia o processo de aquisição do imunizante. Nesta quarta, estava previsto o depoimento do sócio-administrador da empresa, Francisco Emerson Maximiano, que intermediou a compra da Covaxin, mas a oitiva foi adiada após ele alegar estar cumprindo quarentena obrigatória em razão de ter voltado de uma viagem à Índia.