Oitenta e quatro por cento (84%) dos brasileiros e brasileiras defendem maior tributação dos mais ricos para assegurar saúde, moradia e educação. Essa é uma das conclusões do levantamento sobre qual é a percepção da população do país sobre as desigualdades no Brasil, realizada pela Oxfam Brasil em parceria com o Instituto Datafolha.
A pesquisa foi realizada com 2.079 pessoas, em 130 municípios de pequeno, médio e grande porte — incluindo metrópoles e cidades do interior. O período de aplicação das entrevistas presenciais foi de 7 a 15 de dezembro de 2020. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
A pesquisa “Nós e as desigualdades”, em sua terceira edição (a série histórica foi iniciada em 2017), foi lançada em maio e apurou como a sociedade entende as desigualdades de renda, de raça, gênero e regionais, especialmente em um ano tão difícil como 2020, em que a pandemia causou tantas mortes e tristeza.
A Oxfam Brasil é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos e independente, criada em 2014. Faz parte de uma rede global, a Oxfam, que tem 20 membros que atuam em cerca de 90 países no total, por meio de campanhas, programas e ajuda humanitária.
Redução de desigualdade é condição para o progresso
O documento revela o que a equipe chama de uma foto da opinião pública no fim de um ano marcado pela pandemia e pelo segundo ano do governo Bolsonaro. Os resultados apontam para a importância da redução das desigualdades como condição para o progresso, percepção presente em quase nove em cada dez brasileiros.
E, a despeito do crescimento do discurso conservador que ganhou expressão política após as eleições de 2018, a pesquisa mostra uma sociedade com opiniões mais firmes e conscientes sobre o peso do machismo e racismo sore mulheres e pessoas negras. Há compreensão de que mulheres ganham menos por serem mulheres e de que a cor influencia negativamente na renda e nas chances de contratação, embora aumentem chances de abordagem policial e as diferenças no sistema de Justiça.
Porém, reduziu-se o sentimento de otimismo individual sobre o futuro com a percepção majoritária de que o Brasil não reduzirá desigualdades em um futuro próximo.
Mas há a consolidação do apoio da população para reformas tributarias justas e solidárias, capazes de reduzir impostos sobre bens e serviços. A pesquisa apresenta a percepção da sociedade sobre a desigualdade no contexto da pandemia do coronavírus com destaque para o papel de programas de transferência de renda com o auxílio emergencial instituto no primeiro semestre de 2020.
A importância do Estado
“Para enfrentar essa desafiadora realidade, além das medidas emergenciais de resposta aos efeitos da pandemia do coronavírus no país e a implementação do Plano Nacional de Imunização (PNI) com celeridade e efetividade, é necessário pensar e implementar políticas sociais fortes e inclusivas, financiadas por um sistema tributário justo e solidário, que garanta ao Estado condições de efetivar os princípios de redução das desigualdades sociais e regionais previstos na Constituição Federal de 1988”, diz a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Drager, na apresentação do documento.
A expectativa, segundo ela, é que a pesquisa contribua para o debate sobre a importância do Estado no enfrentamento das desigualdades, “ainda mais em um contexto de desafios adicionais graças à pandemia, a partir da percepção da sociedade, fomentar o debate sobre a urgência da construção de um Brasil mais justo, solidário e humano”.
Resumo dos resultados
Saúde como prioridade:
62% dos brasileiros acreditam que “ter acesso à saúde” é uma das três principais prioridades para uma vida melhor, ao lado de “estudar” e “fé religiosa”.
73% defendem universalidade para atendimento em postos de saúde e hospitais, ante 72% em 2019.
Para 9,5, investimento público em saúde está entre as medidas prioritárias para a redução da desigualdade (nota média: 9,5 em uma escala de 0 (menos importante) a 10 (mais importante).
Apoio à tributação
56% concordam com o aumento dos impostos em geral para financiar políticas sociais, ante 31% em 2019.
84% concordam com o aumento dos impostos de pessoas muito ricas para financiar políticas sociais, ante 77% em 2019.
94% concordam que o imposto pago deve beneficiar os mais pobres.
Sem redução de desigualdades não há progresso
86% creem que o progresso do Brasil está condicionado à redução de desigualdade entre pobres e ricos.
85% concordam que é obrigação dos governos diminuirem a diferença entre muito ricos e muito pobres, ante 84% em 2019.
Otimismo individual em queda, ceticismo social em ascensão
64% acreditam que estarão na “classe média” ou “classe média alta” em cinco anos; em 2019, eram 70%.
64% não acreditam que as desigualdades diminuirão nos próximos anos; em 2019, eram 57%.
Mérito não resolve
60% duvidam que o trabalho sirva como equalizador das chances dos mais pobres, ante 58% em 2019.
52%não creem que a educação das crianças pobres equaliza suas chances de uma vida bem-sucedida; em 2019, eram 51%.
Gênero e raça impactam renda
67% concordam que o fato de ser mulher impacta a renda, ante 64% em 2019.
58% concordam que negros ganham menos por serem negros, ante 52% em 2019.
A cor da pele define
76% acreditam que a cor da pele influencia a contratação por empresas; em 2019, eram 72%.
84% acreditam que a cor da pele influencia a decisão de uma abordagem policial; em 2019, eram 81%.
78% concordam que a Justiça é mais dura com negros, ante 71% em 2019.
Transferência de renda e pós-pandemia
62% apoiam a manutenção, após a pandemia, do auxílio emergencial para as pessoas que têm direito hoje.
As principais prioridades para a redução das desigualdades
9,6 foi a nota média para “combater corrupção”; “investimento em educação”; e “garantir direitos iguais entre homens e mulheres”.
9,5 foi a nota média para “aumento da oferta de emprego”; “investimento público em saúde”; e “combater o racismo”.