No 2º maior colégio eleitoral do país, terra de Paulo Freire, Rachel de Queiróz e João Cabral de Melo Neto, entre outros, Bolsonaro tem 13% das intenções de voto, contra 61% dos que pretendem votar em Lula
Publicado: 14 Fevereiro, 2022 – Escrito por: Marize Muniz
Líder do “gabinete do ódio” que se instalou no Palácio do Planalto desde que tomou posse, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dissemina a intolerância contra os nordestinos, com ofensas racistas, preconceituosas e xenofóbicas e ignora a contribuição de milhares de brasileiros da região ao país.
A resposta da população do segundo maior colégio eleitoral do país é rejeição e desejo de mudanças urgentes no comando do Brasil. Nos nove estados do Nordeste, Bolsonaro tem apenas 13%, que ironia do destino, das intenções de voto, contra 61% dos que pretendem votar no ex-presidente Lula.
Mas, o ódio ou a ignorância brutal de Bolsonaro e sua trupe se sobrepõem até aos desejos de permanência no poder. Enquanto vomitam suas agressões, desconhecem que os nordestinos têm orgulho da sua região e dos conterrâneos ilustres e também dos desconhecidos que muito fizeram para o desenvolvimento do país e em áreas como economia, educação, cultura, arte e tantas outras.
Entre os ilustres que saíram do Nordeste para o mundo estão nomes como o do educador pernambucano Paulo Freire, escritores como Jorge Amado (BA), Rachel de Queiróz (CE), João Cabral de Melo Neto (PE), Lêdo Ivo (AL), João Ubaldo Ribeiro (BA), Josué Montelo (MA) e Torquato Neto (PI), além de artistas como Catulo da Paixão Cearense, que na verdade, era maranhense, o cantor e compositor João do Vale (MA) e Ariano Suassuna (PB), dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, professor, advogado e palestrante brasileiro, entre tantos outros.
No 2º maior colégio eleitoral do país, popularidade de Bolsonaro desce a ladeira
A resposta do povo nordestino aos desaforos do presidente é a rejeição silenciosa e fatal para quem quer se releger. Mais da metade dos nordestinos reprova Bolsonaro, o xenófobo.
O termo xenofobia, ao contrário do que muitos pensam, não se refere apenas a aversão ou rejeição a pessoas ou coisas estrangeiras, também pode ser usado por quem tem preconceito contra pessoas que migram de um estado para o outro dentro do Brasil.
Em suas lives semanais ou em seus passeios pelo país, Bolsonaro já insultou a população dos nove estados do Nordeste usando termos como pau de arara (transporte precário que trazia nordestinos que migravam para o Sudeste), cabeçudo ou cabeça chata e todo tipo de estereótipos construídos ao longo dos anos em torno dos migrantes da região, como o de um ser humano inferior, ignorante, feio e sem capacidade de exercer atividades laborais intelectualizadas.
De acordo com pesquisa realizada pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), até a palavra “nordestino” está impregnada de preconceito e de construções sociais que levam alguns brasileiros de outros estados a enxergarem os migrantes do Nordeste como “seres inferiores” – crença totalmente infundada e que remete aos piores episódios de perseguição da história, tendo por base a ideologia eugenista de que supostamente a biologia poderia selecionar os “melhores” membros da raça humana, como o nazismo, regime que matou seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Bolsonaro deveria se preocupar com isso, pois em ano de eleição, e com sua pretensão de se reeleger, a baixa popularidade entre os eleitores do segundo maior colégio eleitoral do país – 40.654.818 (27,01% do total), segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -, pode ser um enorme empecilho.
61% dos nordestinos reprovam Bolsonaro
De acordo com a pesquisa Genial/Quaest divulgada nessa quarta-feira (9), 61% dos nordestinos reprovam o trabalho de Bolsonaro como presidente. O mesmo percentual (61%) diz que vai votar no ex-presidente Lula, que tem 45% das intenções de voto em todo o país e pode vencer no 1º turno.
“As formas pejorativas que Bolsonaro continua utilizando para se referir aos nordestinos só demonstra o preconceito e o descaso histórico das elites com o desenvolvimento econômico e social da região”, diz o Wil Pereira, presidente da CUT Ceará.
Segundo ele, Bolsonaro dificulta o repasse de recursos da União para os nove estados da Região, “ataca as nossas principais lideranças e ainda acha engraçado debochar do nosso povo”.
“Não vamos mais aceitar essa situação, em outubro daremos uma boa resposta nas urnas”, conclui Wil.
O secretário-ajunto de Comunicação da CUT, o pernambucano, Admirson Medeiros Ferro Junior, mais conhecido como Greg, concorda com a avaliação de Will. A resposta a Bolsonaro será dada na eleição de outubro deste ano.
“O nordestino já deu a sua resposta aos comentários preconceituosos e fascistas de Bolsonaro na eleição passada. O percentual de votos nele foi pífio por aqui, mas ele não aprendeu a lição e continua sem reconhecer o valor daqueles que construíram São Paulo, Brasília e o Brasil. Prefere insultar. A resposta este ano será mais dura ainda”, avalia Greg.
“Vamos responder nas urnas aos constantes ataques que o povo nordestino vem sofrendo. Vamos eleger mais uma vez um nordestino, o primeiro a dar visibilidade a região, a respeitar o povo, investir pesado para desenvolvimento local, gerando emprego e renda. É por tudo isso que o Nordeste vai votar em Lula”, conclui o dirigente CUTista.
“No Nordeste até Bolsonaro é 13, número do PT, como o povo brinca se referindo ao resultado da última pesquisa Genial/Quaest, que deu Lula com 61% das intenções de voto na região e Bolsonaro com apenas 13%”, conclui Greg.