Gestão do local será oferecida à família do congolês assassinado; quiosque ao lado vai empregar refugiados africanos
Redação Deutsche Welle (DW). 7 de Fevereiro de 2022 às 12:08
A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou nesse sábado (5) que os quiosques Tropicália e Biruta, próximos aos quais o congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, foi brutalmente assassinado, serão transformados em um memorial em homenagem à vítima e em alusão à cultura africana. A gestão de um dos espaços, na Barra da Tijuca, será oferecida à família de Moïse.
O anúncio foi feito pelo secretário de Fazenda e Planejamento do Rio de Janeiro, Pedro Paulo, e confirmado pelo prefeito, Eduardo Paes. A ideia é que os dois quiosques empreguem refugiados africanos.
“A transformação do local busca ser uma reparação à família, uma oportunidade de inserção socioeconômica de refugiados, além de um ponto de transmissão da cultura africana”, disse Pedro Paulo no Twitter.
Segundo ele, o memorial representará “uma lembrança para que não seja fácil esquecer e que jamais se repita a barbárie que o vitimou”.
“O que aconteceu foi algo brutal, inaceitável e que não é da natureza do Rio. É nosso dever ser uma cidade antirracista, acolhedora e comprometida com a justiça social”, escreveu no Twitter.
Foto em memória de Moïse
O projeto será desenvolvido em parceria com a concessionária Orla Rio, que administra os quiosques na região, e deve ser executado o mais brevemente possível. No entanto, uma data ainda não foi divulgada.
Está prevista, também, a instalação de um painel entre os dois quiosques, com a foto de Moïse. Segundo a prefeitura, o novo layout do local e a montagem do memorial ficarão a cargo de profissionais negros. Além disso, Sesc e Senac vão oferecer capacitação aos trabalhadores dos quiosques para atuar no setor de alimentação.
No futuro, o local também poderá sediar exposições de arte, apresentações musicais típicas e feiras de artesanato.
A prefeitura do Rio de Janeiro informou que o contrato de concessão com os atuais operadores dos dois quiosques está atualmente suspenso, enquanto ocorrem as investigações do crime.
Caso comprovado que os atuais operadores não têm relação com o assassinato, será discutida a transferência deles para outro espaço. Do contrário, eles terão as licenças canceladas.
Moïse foi espancado até a morte em frente ao quiosque Tropicália no dia 24 de janeiro. Três homens foram presos suspeitos do crime – um deles era funcionário do quiosque Biruta.
Protesto no Rio
Centenas de manifestantes fizeram um protesto neste sábado em frente ao quiosque Tropicália. O ato reuniu familiares de Moïse e dezenas de entidades defensoras da causa negra e dos direitos humanos, além de organizações políticas.
A mãe de Moïse, a congolesa Ivana Lay, discursou rapidamente, em cima do carro de som, e pediu justiça.
Para o babalorixá Ivanir dos Santos, representante da Articulação das Populações Marginalizadas, a violência contra os negros é centenária no Brasil.
“A nossa luta não começou agora. Esse é mais um passo na busca pelos nossos direitos”.
No início da manifestação, um pequeno grupo tentou depredar o quiosque, mas foi prontamente reprimido pelos organizadores do protesto.
Após a concentração do ato, os manifestantes seguiram em passeata pela Avenida Lúcio Costa, na orla da praia.
Morte bárbara
Segundo relatos de familiares, Moïse, que vivia no Brasil desde 2011 na condição de refugiado, foi ao quiosque Tropicália e acabou sendo espancado até a morte no local. O corpo dele foi encontrado amarrado.
Segundo os familiares, Moïse foi ao quiosque para cobrar duas diárias atrasadas por serviços prestados ao estabelecimento, onde ele costumava trabalhar como atendente. O dono do quiosque nega que houvesse pagamentos atrasados e também disse à polícia não conhecer os agressores. O dono declarou que não estava no quiosque no momento do crime e que apenas um funcionário estava no local.
Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) indicou que a causa da morte do jovem congolês foi traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, causada por ação contundente.
Imagens divulgadas pela imprensa brasileira mostram um grupo de agressores dando murros, pontapés e até golpes com um pedaço de madeira no congolês na noite do crime. Momentos depois, com a vítima já desmaiada no chão, os mesmos homens tentam, com a ajuda de outras pessoas, reanimá-la.
As imagens também mostram que os agressores chegaram a amarrar as mãos e os pés de Moïse, já deitado no chão, após as agressões.
Com informações da Agência Brasil.