Tragédia em Petrópolis: a culpa não é da natureza

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DRH do HUCFF também é ponto de coleta de doações para os desabrigados, que serão entregues pelo Sintufrj

Bairro Castelânea em Petrópolis, após fortes chuvas que atingiram a região Serrana do Rio | Tânia Rêgo/ Agencia Brasil

Onze anos após a maior catástrofe climática da história do Brasil na Região Serrana, a Cidade Imperial se viu debaixo de lama. A tragédia de 15 de fevereiro de 2022 em Petrópolis provocada por um volume de chuva que não se via há 90 anos veio de forma avassaladora deixando um rastro de mortes, uma legião de desabrigados, muita destruição e muita dor. Até quinta-feira, 17, dois dias após o temporal, o número de mortos já passava de 100 e de desabrigados chegava a 700. A população permanecia sem água, luz e transporte urbano. 

Mas a destruição e mortes no município serrano não se deve apenas a natureza — no planeta a crise climática vem produzindo desastres em escala mundial. No Brasil, no Rio de Janeiro, em 11 anos, o estado teve cinco governadores e nenhum deles desenvolveu e colocou em prática um plano de prevenção eficiente para evitar que as chuvas que frequentemente caem na Região Serrana se tornassem grandes tragédias nacionais, protegendo assim a população e mitigando seu sofrimento.

Triste repeteco

O ano de 2011 marcou a maior catástrofe climática do país, quando uma forte chuva devastou vários municípios serranos, cujo saldo foi mais de 900 mortos e quase 100 desaparecidos. Petrópolis estava entre as cidades mais atingidas. Na opinião de especialistas, de lá para cá pouco foi feito para resolver questões determinantes como: recuperação de encostas; reflorestamento das margens dos rios; demolições de casas em locais de risco; e realocação de moradores que vivem em terrenos instáveis.

Na avaliação de geógrafos, ações como essas poderiam reduzir os danos causados por chuvas como a da última terça-feira, 15, em Petrópolis. Em 1981 houve uma chuva torrencial, enchente e mortes em Petrópolis. Em 2013, dois anos após a grande catástrofe de 2011, o município foi novamente castigado pelas fortes chuvas e pouco se fez. Estamos em fevereiro de 2022 e outra tragédia acontece de forma avassaladora. Os mortos passaram de 100, dezenas de casas foram destruídas e ruas devastadas. Os desabrigados, segundo informou a Secretaria Estadual de Defesa Civil nesta quinta-feira, 17, 700 ao todo, foram encaminhados para os pontos de apoio montados nas escolas. Contabilizava-se mais de100 desaparecidos. 

As regiões do primeiro distrito foram as mais afetadas, sendo o Alto da Serra uma das localidades mais devastadas e o Morro da Oficina o mais atingido. Sob ele calcula-se que há o maior número de vítimas. O Centro Histórico virou um grande lamaçal. Estado de calamidade pública foi decretado pela Prefeitura.

Buscas desesperadas  

As buscas chegaram a reunir mais de 500 pessoas, entre moradores que usaram suas mãos, pás e enxadas para revirar os escombros na tentativa de encontrar familiares, e equipes dos Bombeiros, Exército e Defesa Civil.

Negligência

Relatório final da CPI da Alerj que investigou a atuação dos órgãos públicos diante da tragédia de 2011, indicou 42 recomendações para evitar novas catástrofes naturais. Passados 11 anos, muito pouco foi colocado em prática. Essa tragédia poderia ter sido evitada e ou diminuída. O resultado é muita dor e desespero para as famílias atingidas que perderam entes queridos e seus lares. Foram filhos, mães, pais, avós e crianças arrastados pela enxurrada, soterrados. No fim quem sempre paga é o povo.

Segundo Thiago Amparo, professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP, em artigo na Folha de São Paulo, as mortes em Petrópolis decorrem igualmente da negligência estatal em adaptar cidades para o novo normal climático: extremos.

“A crise climática corta as veias desiguais das cidades, expondo a quão paupérrima tem sido a implementação local de mecanismos de adaptação à crise climática ou mitigação de seus efeitos. A crise climática é global, mas as mortes são locais e, dolorosamente, desiguais. Não é com hashtags e voluntarismo privado em doações – embora cruciais– que vamos evitar novas tragédias como a de Petrópolis: é pelo reconhecimento de que a tragédia não é natural, mas humana, tal como a negligência estatal que deixou que dezenas morressem, de novo.”

Solidariedade

Mas a solidariedade é o sentimento que impera nos brasileiros e vem a galope. Pessoas e instituições se unem numa corrente de ajuda e apoio solidariedade à população de Petrópolis. 

O Sintufrj está junto nesta corrente de solidariedade, ainda mais que entre os moradores de Petrópolis encontram-se parentes e amigos de servidores da UFRJ. As doações podem ser feitas até o dia 24 de fevereiro, nos seguintes horários: na sede da entidade, no Fundão, das 9h às 17h; na subsede da Praia Vermelha, das 10h às 15h; e na subsede do HUCFF, das 10h às 15h.

A Divisão de Recursos Humanos (DRH) do HUCFF também está recolhendo doações que serão entregues pelo Sintufrj em Petrópolis. As contribuições devem ser feitas das 8h às 15h, de segunda a sexta, no 1º andar, Sala 1D42, em frente à Direção-Geral.

 

 

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