Um crime com suspeita de motivação política até hoje sem solução
Publicado: 14 Março, 2022 – Escrito por: Rosângela Fernandes, da CUT-RJ
Não são quatro meses, mas quatro anos. Um crime bárbaro até hoje cercado de mistérios e sem a resposta principal: quem mandou matar Marielle e Anderson? Esta é uma das perguntas que a família da vereadora e do motorista, brutalmente assassinados no Rio de Janeiro, têm feito diariamente e reforçam nesta segunda-feira (14), dia em que o crime completa quatro anos sem solução, em uma intensa programação de atos na cidade.
Na manhã desta segunda, a mãe de Marielle, Marinete Franco, a irmã, Anielle, e a viúva de Anderson, Agatha Arnau, foram ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ/RJ) pedir acesso aos autos do processo. As famílias têm sido impedidas de acompanhar as investigações e obter informações.
Os parentes decidiram protocolar hoje uma ação no TJ/RJ buscando romper o bloqueio. Dona Marinete Franco, que também é advogada, destacou a importância da família ter acesso ao processo. Disse ainda que nem o tempo ameniza a determinação de lutar por justiça:
“Apesar da dor imensa, nós vamos seguir na luta por respostas. Não vamos desistir até que o caso esteja solucionado”, afirmou.
O crime
O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes aconteceu em 14 de março de 2018. A parlamentar foi atingida por quatro tiros na cabeça, Anderson por três balas nas costas. Imagens revelaram que os criminosos acompanharam o carro de Marielle desde a saída de um evento no Centro do Rio até o bairro do Estácio, onde aconteceu a execução. Uma assessora que acompanhava a vereadora sobreviveu ao ataque.
As investigações
Entre os obstáculos para a solução do crime estão as sucessivas trocas de responsáveis pelas investigações. Os delegados responsáveis pelo caso na Polícia Civil têm sido substituídos sucessivamente. Já são cinco delegados em quatro anos. No Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também não há continuidade. Três grupos de promotores já passaram pelo processo. No ano passado, duas promotoras que acompanhavam as investigações desde 2018 entregaram os cargos e teriam alegado risco de interferências externas.
Segundo a força tarefa, os assassinos são Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz. Os ex-PMs estão presos. Durante as investigações, surgiram suspeitas de ligação dos dois com o presidente Jair Bolsonaro. Ronnie Lessa morava e foi preso no mesmo condomínio de Jair Bolsonaro e de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Na ocasião, um porteiro declarou à imprensa que o outro acusado, Élcio de Queiroz, foi ao condomínio no dia do crime e na portaria informou estar indo à casa de Bolsonaro. Posteriormente, voltou atrás, afirmando ter sido um erro mencionar o presidente. A promotora do MPRJ que participou da entrevista coletiva que classificou como falso o depoimento do porteiro era apoiadora do presidente e havia feito campanha há época da eleição presidencial.
No inquérito, foram citados os nomes do ex-vereador Cristiano Girão, que está preso por chefiar a milícia da Gardênia Azul e é suspeito de ser mandante de outro homicídio com a participação de Ronnie Lessa; e do conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão, acusado de obstruir as investigações.
Para o presidente da CUT-Rio, Sandro Cezar, a apuração do caso é fundamental para a democracia.
“Não podemos deixar que seja naturalizada qualquer forma de violência, mas há um peso maior quando há suspeita de um assassinato com motivação política. Até o momento não foi devidamente esclarecido o crime contra a vereadora e o seu motorista, logo cobramos que sejam apontados a motivação e os mandantes”.
Desde o início da manhã desta segunda-feira, estão sendo realizados atos pedindo transparência nas investigações e esclarecimento sobre os mandantes e as motivações do crime. Em frente à Câmara de Vereadores, na Cinelândia, Centro da Rio, foram estendidas faixas que lembram os quatro anos dos assassinatos e pedem justiça. A partir das 16h, no Circo Voador, será realizado o Festival “Justiça por Marielle e Anderson” com shows, rodas de conversas e atividades para as crianças. A programação completa está disponível em Março Por Marielle 2022 – Copy – Participe das ações pelos 4 anos sem respostas (institutomariellefranco.org).
#CRIMEDEMARIELLEEANDERSON 4 anos do assassinato