O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, foi exonerado do cargo para se candidatar a deputado federal por São Paulo. A exoneração saiu no Diário Oficial da União, nesta quinta-feira, dia 31. Se foi mais um preposto de Bolsonaro na sanha de destruir direitos e políticas públicas. Resta saber quem o substituirá.
A Fundação Cultural Palmares foi criada há 31 anos furto da luta do movimento negro para promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos originados da influência negra na formação da sociedade. Só que Camargo, presidente desde 2019, foi na contramão de tudo isso: militante de direita, nega a existência de racismo, contesta a necessidade de reparação histórica em decorrência da escravidão e critica, inclusive, o Zumbi dos Palmares que dá nome a fundação, um dos grandes nomes da história, líder do maior e mais duradouro quilombo que resistiu, durante quase 20 anos, às investidas dos portugueses.
“Mimimi”
Entre as dezenas de declarações ofensivas, avaliou que o racismo é um mimimi de vagabundos esquerdistas e a escravidão foi “benéfica”. Deixou frases como “orgulho de cabelo é ridículo para negro” e “máquina zero obrigatória para a negrada”.
Segundo a revista Fórum, a exoneração vinha sendo defendida por assessores de Bolsonaro como uma correção de rumo, como manobra para reduzir a diferença nas pesquisas de intenção de voto em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A gota d’água teria sido o ataque a Moïse Kabagambe (imigrante congolês agredido até a morte, em fevereiro, no quiosque Tropicália, na Barra) que, segundo ele, “era um vagabundo morto por outros vagabundos” e que sua vida indigna foi determinante para o assassinato.
“Ele (Camargo) é um parasita que se diz negro. Não é um ser humano. Se fosse, deveria ter um pingo de respeito e dignidade para falar assim sobre uma pessoa que foi brutalmente assassinada. Tem que expulsar esse parasita do cargo que está ocupando”, disse o presidente do grupo Comunidade Congolesa no Brasil, Fernando Mupapa.
Desserviço
“Esse sujeito foi um desserviço para o movimento negro. Ele foi a pessoa que criou a medalha para dizer que não existe racismo no Brasil e homenagear homens brancos, mas retirou a homenagem da Fundação a personalidades como Benedita da Silva e Gilberto Gil. Disse uma série de absurdos. E é essa pessoa que vai sair para concorrer a outro cargo público? A gente tem que denunciar. Nem a família reconhece a relevância dele para qualquer cargo, assim como o movimento negro”, apontou a coordenadora do Sintufrj, Noemi de Andrade.
Em dezembro de 2020, a Fundação Palmares publicou nota excluindo 27 nomes de personalidades de sua lista de homenageados, entre eles, além de Benedita e Gil, a escritora Conceição Evaristo e os cantores Elza Soares e Martinho da Vila.
O seu irmão, o músico Marcos Munrimbau, em entrevista à imprensa, em agosto de 2021, classificou como “perversidade” o posicionamento do irmão, falar em vitimização dos negros no Brasil, que não é um país de oportunidades para os negros”.
. E disse que quer ser lembrado pelo legado do pai e não por ser irmão de Sérgio. Eles são filhos da líder comunitária Florence Nascimento de Camargo e do escritor Oswaldo de Camargo. Grande nome da literatura brasileira, em 2020, Oswaldo de Camargo falou à TV Cultura sobre os posicionamentos do filho. “Essa atitude dele, de fato, me espantou. Eu tenho uma crença absoluta de que é necessário lutar pelo negro. Eu tenho convicção que meu dever, e o dever dos meus filhos, é se interessar pela questão negra porque, em alguns aspectos, eles foram beneficiados pela luta do pai”, disse.