Mais uma operação policial surpresa na Maré com mortos e uma população apavorada

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UFRJ suspende aulas e as vias expressas são fechadas

Desde a madrugada desta segunda-feira, 26, intenso confronto entre policiais e traficantes aterrorizou os moradores do Complexo da Maré e parou as vias expressas da cidade: Linha Vermelha e Linha Amarela. A troca de tiros obrigou os passageiros dos ônibus e quem estava em automóveis a se esconderem atrás dos veículos e das muretas do acostamento.

A recomendação do Centro de Operação do Rio foi evitar passar pelos locais e utilizar a Avenida Brasil. As vias permaneceram parcialmente fechadas durante todo o dia. Logo cedo, a Reitoria da UFRJ emitiu nota suspendendo as aulas da manhã na Cidade Universitária. O prefeito da universidade, Marcos Maldonado, informou que a Coordenação de Segurança estava fazendo rondas no campus, mas, até ao meio-dia, não havia registro de reflexos do conflito no Fundão. Às 11h23, em novo comunicado, a Reitoria informava que as atividades acadêmicas daquele dia estavam suspensas, porque a operação policial no Complexo da Maré, segundo as autoridades,prosseguiria.

No início da tarde o número de mortos na operação policial aumentou para cinco e, segundo a Polícia Militar, havia ainda três feridos e19 pessoas foram presas. De acordo com a PM, a operação conjunta do Batalhão de Operações Especiais (Bope), com 120 homens, e a Coordenadoria de Operações de Recursos Especiais (Cores), com 60 homens, se concentraram nas comunidades da Vila do João e dos Pinheiros.

Segurança pública

para quem?

Nas redes sociais se multiplicavam relatos de pânico por parte de motoristas e moradores da área. Postos de Saúde e 35 escolas ficaram fechados. Um ônibus chegou a ser atravessado no entroncamento da Linha Amarela com a Linha Vermelha.

“Parecia que os tiros eram dentro de casa. Não tem como sair. Minha vida vale mais que o meu trabalho. Bala voando baixinha. Um desrespeito com a gente.” publicaram nas redes.

“A situação está bem difícil. Até agora temos registro de três pessoas mortas confirmadas, duas feridas por arma de fogo e uma pessoa pisoteada, porque aos domingos a Maré tem alguns eventos na rua, pagode principalmente”, contou a coordenadora do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré (organização da sociedade civil, fruto da mobilização comunitária a partir dos anos 1980), Liliane Santos.

“Há muito tempo a polícia vem desencadeando essas ações, que não têm resultados práticos eficazes a longo prazo. Nesses anos todos dessas práticas, o que efetivamente mudou no debate da segurança pública no Rio de Janeiro? Segurança pública para quem? Se quem eles dizem estar protegendo, moradores e moradoras da Maré estão nessa situação com familiares mortos, feridos ou hospitalizados?”, indaga Liliane.

Comunidade não se cala

Mais uma madrugada e um dia de desespero e terror para as milhares de famílias, embora, segundo Liliane, existe uma Ação Civil Pública conquistada há alguns anos pela entidade, em articulação com a Defensoria Pública e o Ministério Público e outras instituições atuantes nas favelas do Complexo da Maré, que prevê medidas para diminuir os riscos e os danos durante os recorrentes confrontos armados, incluindo as operações policiais, que acontecem na região. Além disso, está em análise no STF a ADFP 635 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635), conhecida como ADPF das Favelas, iniciativa popularpara enfrentar a violência policial.

“Então, qual a validade jurídica que isso tem tido sobre o que está acontecendo?”, pergunta a coordenadora, sustentando que outro ponto importante é a responsabilização do Ministério Público: “É o único órgão capaz de realmente intervir de alguma maneira, mas até aquele momentonão havia se posicionado”, denunciou a jovem.

 

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