“A autonomia do Banco Central é uma farsa, porque a instituição é subserviente ao capital financeiro”, denunciou Fabio Marinho, dirigente do Sintufrj
O primeiro ato público reunindo sindicatos e o movimento social, organizado pela CUT-Rio, Conlutas e CTB, entre outras centrais sindicais, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, aconteceu nesta terça-feira, 13, em frente à sede do Banco Central, na Avenida Presidente Vargas, 730, no Centro do Rio. E a palavra de ordem era “Não aos juros altos!” e “Fora Campos Neto!”.
A manifestação foi uma iniciativa das entidades sindicais dos trabalhadores do ramo financeiro, em vários estados, e teve como objetivo denunciar os juros altos impostos pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em dissonância com a política do atual presidente da República de reconstrução do país, que se encontra mergulhado na fome e sem emprego para a população em idade adulta.
“A autonomia do Banco Central é uma farsa, porque a instituição é subserviente ao capital financeiro, que é uma minoria de bilionários”, resumiu em sua fala na manifestação o coordenador de Organização e Política Sindical do Sintufrj Fábio Marinho. Nas faixas das entidades lia-se: “Menos juros e mais empregos”.
Números absurdos
“Atualmente, a Selic, taxa básica, está em 13,75%, a mais alta do mundo, e o BC sinaliza que a manterá nesses patamares elevados pelo menos até dezembro”, apontou Nilton Damião Esperança, Presidente da Fetraf RJ/ES. Ele lembrou que o atual presidente do BC fez campanha para o governo Bolsonaro e também estava em grupos de WhatsApp dos ministros do ex-presidente. “Queremos um Banco Central que participe do governo atual”, afirmou o dirigente.
Segundo a presidenta da Federação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, Adriana Nalesso, “a economia é uma ciência social e se o mercado ficou nervoso, nós, trabalhadores, estamos agitados com os juros de 400% no cheque especial e 300% no cartão de crédito”.
“A questão da autonomia do Banco Central é fundamental para entender a nossa conjuntura. O BC é de fato autônomo? Não. Hoje ele está tutelado por representantes dos grandes bancos e do grande capital. Na prática, Campos Neto não dirige o BC pensando nos interesses do povo trabalhador brasileiro, mas na manutenção da estrutura de lucros dos grandes bancos. Quando você observa a taxa de inflação e a taxa de juros, há um gigantesco descompasso que não existe em lugar nenhum do mundo”, analisou o secretário-geral do Sindicato Intermunicipal das Servidoras e Servidores, Empregadas e Empregados Públicos nos Municípios do Rio de Janeiro, Raul Bittencourt, acrescentando:
“A taxa hoje poderia cair substancialmente, mas isso não ocorre porque ela é usada como referência para todas as cobranças de juros, seja nos juros do cartão de crédito pessoal ou na habitação. Com essa taxa elevada, eles justificam a elevação do superavit primário, que é uma grana que a gente tira do orçamento para pagar os juros da dívida pública, que são calculados com base na taxa Selic. Além disso, a autonomia do BC e a política de juros são praticadas para manter arrochados os salários dos servidores”.
Autonomia do BC foi um golpe
A regra que prevê a autonomia formal do Banco Central foi aprovada em 2021 estabelecendo mandatos fixos para o presidente e a diretoria da instituição. Desde então, houve sucessivas elevações da taxa de juros, chegando atualmente a 13,75%.
O patamar elevado tem incomodado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem elevado o tom das críticas ao BC. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que em nenhum país do mundo esse patamar é tão alto. Ele endossou as críticas do presidente à política monetária do BC e disse que os juros no Brasil são completamente “fora de propósito”.