Ministros, parlamentares e entidades cobram “combate sem descanso” à cultura do ódio em redes sociais que pode estar por trás de ataque na zona oeste de São Paulo
Publicado: 28 Março, 2023 – 12h11 | Última modificação: 28 Março, 2023 – 16h51
Escrito por: RBA
“Mais um caso de violência expõe o abandono das escolas estaduais”, define o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), sobre o ataque a faca da manhã de segunda-feira (27). Uma professora morreu e cinco pessoas ficaram feridas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo. O ataque de um menino de 13 anos repercutiu em todas as esferas da sociedade. A intolerância e ódio repercutiu entre parlamentares, ministros e entidades da sociedade civil que lamentaram a violência e cobraram ações.
A bancada da Federação Brasil da Esperança na Assembleia Legislativa divulgou nota, assinada por seu líder em exercício, deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT). O texto faz referência a uma cultura de ódio, intolerância e violência disseminada na sociedade. “Estudos apontam o aumento de distúrbios em saúde mental entre adolescentes, alicerçado pela cultura do ódio, difundido e ou minimizado e naturalizado nas redes sociais.”
Ressaltamos que não adianta apenas estratégias tecnológicas em sala de aula enquanto o convívio humanizado é relegado pelo governo do Estado. É preciso lembrar que o governo de São Paulo vetou projeto de lei que instituía um grupo multidisciplinar de mediação de conflitos. A Federação vai, inclusive, questionar a secretaria estadual de Educação sobre os programas da área psicossocial”, completa.
Abandono
A Federação ainda destaca a fragilidade do sistema de aprendizado nas escolas públicas do estado. “A atual realidade das escolas públicas estaduais é de falta de professores e infraestrutura de aprendizado inadequada. Há ausência de uma grade curricular que ofereça escola em tempo integral que de fato garanta uma formação e qualificação aos nossos estudantes.”
A Apeoesp reforça o ponto de vista dos parlamentares. “Faltam funcionários nas escolas. O policiamento no entorno das unidades escolares é deficiente e, sobretudo, não existem políticas de prevenção que envolvam a comunidade escolar para a conscientização sobre o problema e a busca de soluções”, critica a entidade. A Apeoesp ainda reforça a recomendação da Federação sobre a criação de grupos de mediação de conflitos em cada escola.
“O programa de mediação escolar, criado em 2009 pela Secretaria da Educação a partir de proposta da Apeoesp, em que professores trabalhavam na solução de conflitos e harmonização do ambiente escolar, foi virtualmente abandonado. As consequências se fazem sentir no crescimento do número de casos”, argumenta.
Complexidade do ataque
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) classificou a situação como “estarrecedora e absolutamente complexa”. Não se trata, de acordo com a entidade, de um caso puramente de segurança pública. “Ataques violentos em escolas, espaços por excelência de diversidade e tolerância, nos indicam a falência moral desses princípios basilares da convivência humana em sociedade. Por isso que a violência escolar nunca deve ser vista e tratada como uma questão meramente de polícia.”
Entre os pontos que contribuem para um ambiente intolerante nas escolas, segundo a entidade, estão as políticas educacionais capitaneadas pela extrema direita. “Projeto educacional que fomenta a militarização de escolas e as práticas de deduragem dos estudantes contra professores em sala de aula, como forjado pelo movimento ‘Escola sem Partido’, bem como aqueles que incentivam a educação domiciliar, atacando o espaço da escola como necessário e imprescindível para a formação de nossas crianças, jovens e adultos, não pode mesmo eleger a escola como importante.”
Reação dos ministros
Diferentes integrantes do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestaram consternação com o caso. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, destacou a cultura do ódio presente neste tipo de ataque. “Ao que tudo indica, trata-se de ataque ligado aos efeitos da radicalização de jovens, conectados por redes de incitação ao ódio e à violência. Há anos, especialistas vêm alertando para o crescimento deste fenômeno e de como as autoridades ainda se encontram perplexas”, disse.