Número de manifestantes aumentou em todo o país, assim como a radicalização de parte deles
A violência que marcou as manifestações contra a reforma das aposentadorias é a principal manchete dos jornais franceses nesta sexta-feira (24/03). O número de manifestantes aumentou em todo o país, assim como a radicalização de parte deles.
Em Paris, depois de um início pacífico, a manifestação descambou para a violência no final da tarde, no bairro da Ópera, onde 1.500 black blocs, de acordo com o ministro do Interior, Gérald Darmanin, incendiaram lixeiras e alvejaram policiais com pedradas e coquetéis molotov. As mesmas cenas de guerrilha urbana foram vistas em Rennes, Lyon e Bordeaux, que teve a porta da prefeitura, uma relíquia do século 18, incendiada. Em todo o país, a polícia deteve 472 manifestantes; 441 policiais e militares ficaram feridos.
Vinte e quatro horas depois de o presidente Emmanuel Macron dar uma entrevista à televisão, que deveria ter sido usada para apaziguar os ânimos, o que se viu foram centenas de incêndios em todo o país, e policiais em uniforme de Robocop, descreve o Le Monde.
Vinte e quatro horas depois de o presidente Emmanuel Macron dar uma entrevista à televisão, que deveria ter sido usada para apaziguar os ânimos, o que se viu foram centenas de incêndios em todo o país, e policiais em uniforme de Robocop, descreve o Le Monde.
Longe de perder adesão, o movimento social republicano leva novos manifestantes às ruas. A revolta não se limita mais ao conteúdo da reforma da Previdência, analisa o editorial do Libération, e visa agora o presidente da República. Jornalistas que cobriram os protestos em todo o país, inclusive da RFI, constataram uma aversão à personalidade de Macron, por sua escolha em adotar a reforma à força. “A entrevista desastrosa do presidente”, prossegue o editorial, “vista por 10 milhões de franceses, agravou o clima social no país por afirmações belicosas e comparações duvidosas”. Os franceses condenam o presidente de centro-direita por sua “arrogância, prepotência e desdém” em relação aos grevistas e opositores em geral. Outro fator maior de agravamento da crise é a violência policial contra os manifestantes, que ao ser negada pelo governo faz com que se torne sistemática e permaneça impune, adverte o Libération.
Não avaliação do conservador Le Figaro, essa “modesta reforma, baseada em uma constatação demográfica implacável, fez a França mergulhar em uma crise existencial na qual tudo vascila: o governo, a Assembleia e as ruas”. Esse descontentamento não pode ser atribuído apenas à impopularidade do presidente e ao espírito “refratário” dos franceses. Segundo o Figaro, trata-se de um mal-estar muito mais profundo que está vindo à tona. “O de um país assombrado por seu declínio econômico, sua fragmentação cultural e seu envelhecimento”, diz o editorial de primeira página.No futuro imediato, Emmanuel Macron, mais isolado do que nunca, precisa resolver uma crise social recrudescente e uma crise política que deixa o presidente sem meios de agir, por falta de maioria na Assembleia. Os sindicatos já anunciaram um novo dia de protestos, o décimo: terça-feira, dia 28.