Grupo de trabalho e SGAAD vão atuar juntos pelas pautas comuns de interesse da comunidade universitária
Antes do dia 20 de setembro, data da próxima reunião do GT Antirracista do Sintufrj, a direção sindical se reunirá com a Superintendência de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade da UFRJ (SGAAD) para discutir encaminhamentos de pautas comuns de interesse da comunidade universitária, que deverão ser reivindicadas à Reitoria com o apoio e a mobilização do grupo de trabalho.
Essa proposta foi aprovada na reunião do GT de 16 de agosto, que teve a participação da superintendente da SGAAD, Denise Góes. Outros temas importantes constaram da pauta, como a ampliação das cotas raciais, cuja Lei nº 5.384/20 foi renovada na Câmara Federal por mais dez anos; a defesa das comissões de heteroidentificação e institucionalização de carga horária para ampliar a participação de técnicos-administrativos e cursos sobre a população negra para os profissionais de saúde da universidade.
“A criação da superintendência é uma vitória dos movimentos antirracistas, e hoje esse órgão cumpre a missão de representá-los, tendo como tarefa fazer a conexão com as pautas e as ações nacionais necessárias para garantir a inclusão, diversidade e acessibilidade na UFRJ”, resumiu Denise Góes.
Debate e propostas
A reunião do GT Antirracista foi conduzida pelas coordenadoras sindicais Anaí Estrela, de Políticas Sociais, e Carmen Lucia, de Administração e Finanças, e pelo delegado sindical da PR-6, Hilem Moisés. O debate apontou para a necessidade de o Sintufrj pautar, junto com a Superintendência de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade, os assuntos que precisam ser levados à Reitoria.
Denise Góes defendeu que o Sintufrj, através do GT Antirracista, proponha uma “pauta racial contundente para a Reitoria”. Uma de suas propostas foi a realização do censo, que, segundo ela, é uma pauta comum e que o sindicato, via GT, deveria conversar com a superintendência a respeito. “Existem outros temas que podem ser discutidos neste GT, como a acessibilidade, e fazer a conexão com o movimento fora da UFRJ. Podemos, por exemplo, procurar saber o que está acontecendo com as universidades que têm Pró-Reitoria de Ações Afirmativas. Saber como funcionam e se está dando certo.”
Atualmente a preocupação da superintendência e dos movimentos contra a discriminação racial é garantir a existência das comissões de heteroidentificação nas universidades federais, cujos partidos de direita e contra as cotas, como Novo e PL, estão unidos para extinguir o que consideram “tribunais raciais”. “Temos que garantir a existência das comissões optantes para que as políticas raciais sejam aplicadas em quem for considerado pelas comissões com esse direito”, disse Denise.
“Vamos fazer uma retrospectiva histórica e caminhar juntos. Essa é uma política pública que tem que ser cumprida.” – Denise Góes
“Vamos às bases conversar com a categoria sobre nossas reuniões no GT Antirracista e abrir esses temas com as companheiras e companheiros”, comprometeu-se a coordenadora Anaí Estrela. Foi ela quem propôs o encontro entre o Sintufrj e a superintendência.
“Na Faculdade de Odontologia, negros eram poucos, agora o pessoal está chegando. Mas como somos pretos, sempre seremos discriminados”, observou Clério Rosa, um dos integrantes na década de 1990 do primeiro GT Antirracista do Sintufrj e militante de movimentos negros fora da UFRJ.
Na avaliação do coordenador de Comunicação da Fasubra, Francisco de Assis, a função do GT Antirracista é abrir o debate, reacender a discussão sobre assuntos de interesse geral, como garantir a função social das entidades sindicais. Mas, lembra que os temas são pautados pelo sindicato com a pressão das bases.
Para garantir a participação dos técnicos-administrativos nas comissões de heteroidentificação e nos grupos de discussão da superintendência, Assis propôs que esses espaços sejam considerados como carga horária de trabalho, para não se esvaziarem. Segundo Denise, essa é uma das reivindicações da superintendência para tratar com as pró-reitorias, porque, além dos servidores, a intenção é estender o benefício também aos estudantes.
“Queremos pautar também a institucionalização da participação dos aposentados na superintendência e nos colegiados, porque há decisões que podem ser tomadas em prejuízo deles”, acrescentou Assis.
Segundo a coordenadora Carmen Lucia, “a UFRJ precisa crescer e ser inclusiva”. Ela disse que ao fazer parte em 2005 da Comissão Interna de Supervisão da Carreira, que fazia à época o enquadramento da nova carreira, constatou que a maioria dos técnicos-administrativos tinha baixa escolaridade. “A realidade mudou, mas, apesar dessa constatação, são poucas as vagas oferecidas para cursos de capacitação, uma média de 20 para 8 mil servidores”, apontou a dirigente.
Luciene Lacerda, que faz parte de grupos de discussão na superintendência, propôs que fosse pautado no GT que o Sintufrj reivindicasse da Reitoria cursos para os profissionais de saúde da UFRJ sobre a população negra. “O sindicato precisa levar à Administração Central todas reivindicações que trouxermos aqui”, complementou a técnica-administrativa.
Mônica Gomes, da diretoria de Relações Étnicas Raciais da superintendência, sugeriu que o Sintufrj levantasse o total de negros sindicalizados na entidade e onde estão trabalhando. “O sindicato é uma potência e deve assumir a pauta pela formação desses servidores. A maioria dos brancos com o ensino fundamental se aposenta como auxiliares de laboratório; já os negros, nessas condições, como auxiliares de cozinha”, afirmou.
“É importante integrar todos os movimentos, debater pautas e trabalhar para manter as nossas conquistas”, disse Hilem Moisés. “Nosso movimento, que era forte e atuante, tem que renascer. Os aposentados deveriam ter uma pró-reitoria, assim como já era para existir a pró-reitoria de negros. Essa universidade é preconceituosa, mas os cotistas têm as maiores notas”, falou Boaventura Souza Pinto, aposentado.
“O racismo vive dentro da família”, afirmou o quilombola e aluno de mestrado na UFRJ, aos 61 anos, Nelson Morali Júnior, filho de pai branco e mãe preta.
Nota triste e revoltante
Na noite de quinta-feira, 17, a líder do quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia, foi assassinada no terreiro de sua comunidade. Há seis anos, seu filho Binho também foi morto no quilombo. Ato contra o genocídio do povo negro estava previsto para acontecer na sexta-feira, 18, na Praça da Piedade, em Salvador, pela manhã.