Universidade lança campanha UFRJ Antirracista organizada pela Superintendência de Ações Afirmativas. Dirigente do Sintufrj reconhece avanços na pauta racial, mas observa que passos terão que ser dados nessa caminhada
Pela segunda vez a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, mas desta vez para a abrir as atividades do Novembro Negro na UFRJ e prestigiar o lançamento da campanha “UFRJ Antirracista – Nem um passo atrás: a Universidade está mudando”.
O evento foi organizado pela Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) – que tem à frente Denise Góes – na sexta-feira 27 de outubro, no Salão Pedro Calmon, Praia Vermelha.
A deputada federal Benedita da Silva – que foi convidada por Anielle – entrou de braços dados com a ministra que celebrou o crescimento de mulheres negras em espaços de poder.
A ministra citou como exemplo desse novo quadro a presença de Denise Góes à frente da criação da Sgaada e da maior presença de outras mulheres em cargos de visibilidade.
Ela citou a sua própria experiência. “A Maré produziu vereadora, ministra, deputada, como muitas outras favelas. Mas continuamos sendo tratadas como se não fôssemos merecedoras. Mas a política não vai nos mudar!”, disse.
Anielle saudou o lançamento da campanha da UFRJ antirracista e lembrou que as ações não sejam apenas parte de um discurso, mas se transformem em práticas efetivas.
Emoção no evento
Houve momento de consternação no evento por causa do falecimento da professora da Faculdade de Educação e participante do Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ, Marinalva Oliveira, que veio a falecer naquela sexta-feira. Foi lembrada e homenageada.
“Difícil estar aqui, mas também é um momento de honrar a memória da nossa companheira, uma professora negra tão comprometida com a defesa de uma universidade publica gratuita, de qualidade comprometida com a luta das pessoas com deficiência, e com a pauta da educação de um modo geral”, disse emocionada a coordenadora-geral do Sintufrj, Marta Batista, em sua fala no evento.
Em seguida, abordou o avanço da pauta racial na UFRJ já observando que a superintendente da Sgaada, Denise Góes, é uma técnica administrativa, ex-dirigente do Sintufrj e militante.
“Na UFRJ essa superintendência é um passo importante, mas ainda temos muito a caminhar, pois temos na história de nosso país uma democracia recente e uma ausência de democracia racial”, afirmou.
Marta destacou ainda o corte racial dos servidores na UFRJ. “Na nossa universidade temos menos de 13% de docentes autodeclarados negros e cerca de 35% de técnicos. Achamos importante trazer esses dados porque eles expressam que tivemos sim avanços muito importantes, que precisamos continuar lutando em relação a política de cotas, mas que esses avanços precisam caminhar mais”.
Ela finalizou sua fala ratificando a luta geral do movimento.
“Uma universidade antirracista é uma universidade também com recomposição orçamentária, uma universidade com uma efetiva política de permanência dos estudantes, do combate a todo tipo de assédio e violência, uma universidade financiada pelo orçamento público.”
Revolução silenciosa
A superintendente da Sgaada, Denise Góes, militante do movimento negro, identificou conquistas na luta antirracista.
“Após mais de um século de existência, este ano a universidade avançou para a institucionalização de pautas outrora silenciadas e negligenciadas. Ao movimento negro se deve a mudança de perspectivas com as pautas raciais e hoje chegam a espaços como esse”, disse.
Denise enfatizou que a política de cotas na UFRJ permitiu o aumento de 71% do número de estudantes negros promovendo uma “revolução silenciosa” e modificando o perfil étnico-racial.
“Podemos afirmar sem medo de errar que a política de cotas tem promovido uma revolução silenciosa na composição dos espaços de produção de conhecimento. O perfil étnico-racial da maior universidade federal da América Latina mudou, e a existência do Ministério da Igualdade Racial demonstra que a atenção que a agenda do governo federal tem para este tema”, observou.
O reitor da UFRJ, Roberto Medronho, anunciou que a Universidade precisa deixar evidente que não há mais espaço para o racismo. Segundo ele, ações como a criação da Sgaada e a campanha UFRJ Antirracista são passos para garantir espaços mais plurais. “Não haverá democracia neste país enquanto houver racismo”, afirmou.