Ato contra transfobia nesta sexta, 26, no Centro

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Mulheres trans foram agredidas numa casa de samba na Lapa, o Casarão do Firmino. OAB investiga

O Levante contra LGBTI+fobia convoca para um ato contra a transfobia nesta sexta-feira (26), com concentração às 19h na Cinelândia e, às 20h, saída em direção ao Casarão do Firmino. O ato é em apoio a mulheres trans vítimas de agressão na Lapa.

O Casarão é um espaço de samba na rua da Relação, na Lapa. Na madrugada do dia 19 duas mulheres transgênero, designers de moda, as irmãs Zuri e Lua – acompanhadas de duas amigas cisgênero, sofreram intimidações e constrangimento na casa de samba: ao saírem, as irmãs e uma das amigas foram agredidas por mais de uma dezena de homens, segundo elas, inclusive alguns seguranças do local.

O que houve

Nas redes sociais Zuri e Lua compartilharam imagens com ferimentos pelo corpo e denunciaram nítida motivação transfóbica.

Um vídeo mostra o momento em que as mulheres tentam entrar em um carro de aplicativo, sem sucesso e depois tentam embarcar num taxi que foi cercado pelos homens. O motorista foi arrancado do veículo e as duas foram agredidas. Zuri conta que teve o nariz quebrado e os pertences furtados.

OAB entra no caso

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) e o escritório do advogado Djeff Amadeus defendem as vítimas. A Comissão solicitou que o caso – que está na 5ª Delegacia de Polícia – seja transferido para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância

“Fui espancada por um grupo de homens, dentre eles seguranças, ambulantes e motorista do aplicativo Uber. Que após me retirar agressivamente do samba iniciaram uma agressão verbal com falas transfóbicas como ‘pode bater que é tudo homem. Nos jogaram no chão e nos chutaram por todo o corpo, cabeça e rosto”, conta a vítima segundo matéria da Agência Brasil.

Nas redes sociais, o Casarão do Firmino, por sua vez, informou que quando o samba já havia terminado, um grupo já do lado de fora começou a arremessar garrafas em direção aos funcionários da casa, o que teria ferido dois seguranças que foram socorridos e teriam passado por exame de corpo de delito. E que o grupo se envolveu em briga com ambulantes.

Advogado denuncia violência

O advogado Djeff Amadeus, que também é diretor do Instituto de Defesa da População Negra, criticou o fato de que nota do Casarão informou que as mulheres não estariam dentro da casa de samba e que o problema ocorreu do lado de fora, além do fato de que se referiram às envolvidas no masculino, portanto, outro crime, de transfobia. Ele fará um novo registro desta ocorrência.

Agora a casa produziu outra nota, segundo ele, se desculpando e buscando diálogo. As mulheres agredidas esperavam que houvesse acolhimento por parte da casa com a postura de que a ação dos seguranças era um ato isolado, mas ao contrário, lamenta o advogado, recebem uma nota transfóbica informando que não estavam nem na casa.

Por conta disso, as vítimas receberam uma enxurrada de críticas nas redes de que estariam “querendo aparecer” e até mensagens violentas. A situação poderia colocá-las em risco grave.

“Nós acreditamos no trabalho da 5ª DP, especialmente após a divulgação de que várias testemunhas começaram a aparecer para noticiar a verdade dos fatos”, disse o advogado, acrescentando: “Não queremos que pessoas que não estejam envolvidas sejam punidas. Mas aquelas que efetivamente participaram sejam seguranças, ambulantes ou motoristas de aplicativo”.

O relato nas redes de ambas é dramático. Mas elas não estão sozinhas e por isso a importância de mostrar solidariedade e apoio com participação no ato desta sexta-feira, às 19h, no Centro do Rio contra a transfobia.

O Brasil é campeão de desrespeito

“Como mulheres trans, sobrevivemos às estatísticas que apontam que o país que a gente vive segue pelo 14° liderando o ranking de países que mais matam pessoas trans. Renascemos”, desabafou uma das vítimas.

O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo pelo décimo quarto ano seguido. Foi o que mostrou relatório da Antra, Associação Nacional de Travestis e Transexuais de janeiro de 2023, apontando que foram 131 trans e travestis assassinados no país em 2022.

Em 2023, o Brasil continuou sendo o mais letal por homotransfobia no mundo: registrou 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ (os números podem ser maiores porque em muitos casos é omitida a orientação sexual ou identidade de gênero da vítima), denta vez de acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), baseado em dados coletados na mídia, em sites de pesquisa da Internet e em correspondências enviadas ao GGB.

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