Casa cheia na reunião do Conselho Universitário desta quinta-feira, 14 de março, no auditório do Parque Tecnológico, no Fundão. Com cartazes em punho, dezenas de técnicos-administrativos participaram do ato, deliberado pela assembleia da categoria, convocado pelo Comando Local de Greve para solicitar ao colegiado apoio ao movimento que é nacional.
Os servidores em greve reivindicam, além da reestruturação da Carreira e de recomposição salarial, recursos para que a UFRJ possa sustentar suas atividades de ensino, pesquisa e extensão de reconhecida excelência e garanta condições dignas nas suas instalações de trabalho e estudo. O movimento também reivindicou demandas do Colégio da Aplicação (CAP).
Em vídeo ao final do ato, coordenadores do Sintufrj e representante da Cap falam à comunidade
Apoio ao CAP
Por isso, estavam lá também dezenas de técnico-administrativo, docentes e familiares de estudantes numa manifestação contra a falta de professores e de infraestrutura adequada para centenas de estudantes da educação básica e da graduação.
A professora Graça Reis leu carta ao colegiado com as demandas do CAP. As aulas iniciaram há um mês faltando 28 professores de disciplinas regulares e 15 da educação especial. O colégio enfrenta redução do horário de aulas.
A Educação Infantil, desalojada do Fundão, se ressente da falta de sede adequada. O prédio da Lagoa sofre com problemas estruturais. Além de professores, são necessários servidores para atuar no apoio à educação especial, além da efetivação da contratação de substitutos iniciada em dezembro.
CLG se posiciona
“Estamos em greve. Não conseguimos avançar nas negociações com o governo. É por reajuste salarial, mas também por reestruturação da nossa carreira e por recomposição orçamentária da universidade, pauta que unifica o conjunto da educação federal”, disse Gabriel de Melo, técnico-administrativo da PR-3, integrante do Comando Local de Greve.
Ele explicou que a negociação com o governo estagnou. Que estão entre as pautas, a reestruturação da Carreira, a recomposição dos salários e a recomposição orçamentária das universidades federais que estão literalmente caindo aos pedaços.
Ele apresentou a proposta de uma reunião comunitária sobre a crise de orçamento da instituição com a participação de técnicos-administrativos, professores e estudantes e partir para atos públicos: “Se a gente está se sentindo sufocado, tem que externar este sufoco. Não adianta estarmos convencidos de que a universidade não tem como caminhar com este orçamento e guardar a opinião pra gente”, disse ele, apontando o apoio aos trabalhadores do CAP e à greve.
“Nenhum de nós gosta de fazer greve e, como em toda luta, sem saber de vamos ganhar ou perder. Mas entre a luta e o silêncio escolhemos a luta e contamos com o apoio de vocês”, conluiu.
Consequências graves
O representante técnico-administrativo no colegiado André Salviano pediu a fala para o Comando Local de Greve e fez uma denúncia: trabalhadores da limpeza =na Faculdade de Letras e vigilantes da Praia Vermelha seguem com salários atrasados. “Os terceirizados são parte integrante no nosso fazer”, lembrou.
A representante do DCE Camile Gonçalves alertou: “Precisa estar na ordem do dia, não só desse colegiado, mas de todos os demais, a questão da recomposição orçamentária da nossa universidade. Os desdobramentos estão fazendo com que fique completamente inviável a manutenção da nossa universidade. Nós, estudantes que não conseguimos estudar e não conseguimos nos manter na universidade, porque a gente está sem bolsa, os terceirizados mesmo servindo à comunidade acadêmica, não tem comida dentro de casa. E nada se faz sobre isso. Precisamos pressionar, para que a gente tome uma posição dura e pública. Os alunos de dança da Educação Física só vão conseguir usar o prédio um mês depois das aulas começarem, porque o escoramento não terminou. Tem matéria obrigatória da Faculdade de Letras que não está sendo ofertada, porque não tem professor. Os técnicos administrativos estão em greve. Nós, do DCE, vamos fazer assembleia com estudantes, assim que as aulas voltarem. Está insustentável e essa precisa ser a posição da Reitoria, dos conselhos. Não tem como a gente continuar dessa maneira insustentável”.
Juliany Rodrigues, diretora do campus Duque de Caxias, vários campi vivem em condições precaríssimas “A minha expectativa como professora do campus do Programa de Reestruturação da Universidade (Reuni), da UFRJ, é que viria um Reuni 2 com recursos para a consolidação dos campi avançados no interior pelo país, criação de novos cursos, desenvolver o que já foi construído. Foi celebrado nas redes sociais do MEC uma recomposição de R$ 250 milhões para as universidades federais. Pra gente aqui seria de R$ 5 milhões, que não dá nem sequer para pagar um décimo do que os nossos terceirizados precisam receber pra executar funções básicas para o funcionamento, que é a limpeza, a segurança. Sem limpeza e segurança, a gente devia fechar a universidade. A UFRJ precisa se posicionar frente ao MEC, ao governo. Quais são os planos do governo Federal para a Universidade Federal do Rio de Janeiro? O que a gente ouviu nas últimas semanas do nosso pró-reitor de Finanças é que a gente vai terminar com uma dívida em 2004 muito maior do que a gente recebe, sem nenhuma perspectiva de aumento do nosso orçamento. Não podemos viver mais de glória do passado”, disse ela, falando a oportunidade da greve dos técnicos administrativos, que os docentes deveriam aderir. “A gente tem que mostrar para o governo que nós somos essenciais”, concluiu.
Letícia Carvalho, docente do Colégio de Aplicação, explicou “Nós estamos atuando com uma precariedade enorme, porque temos crianças com necessidades especiais na nossa escola e que estão sem acompanhamento. A situação do CAP é crítica, a gente não pode esperar, esse edital está na rua, já foi lançado desde dezembro, nós estamos já em meados de março e não temos esses docentes, esses funcionários em nossa escola. A gente está há mais de um mês atuando sob pressão, desgastando o corpo docente e sem a possibilidade de oferecer uma educação de qualidade. É por isso que a gente veio aqui, é por isso que a gente está lutando”, concluiu.
A coordenadora-geral do Sintufrj Marta Batista alertou: “As universidades estão caindo aos pedaços e essa realidade não vai mudar se a gente não lutar para que o governo coloque dinheiro nos nossos cofres, para que a gente consiga funcionar e atender a população com qualidade. Nós também viemos aqui prestar a nossa solidariedade. Aos trabalhadores e trabalhadoras do CAP, os trabalhadores da Educação Infantil da UFRJ, que estão vivendo uma situação muito difícil na nossa universidade e não é de hoje”.
Francisco de Assis, da Fasubra apontou que a greve está dando resultado, com mais de 50 instituições, com um eixo que diálogo com toda comunidade na medida em que reivindica também a recomposição orçamentária das instituições, propondo um “tsunami” da educação.