Mulheres negras em luta

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Ontem, hoje, nos quilombos, nos terreiros, nos campos, nas periferias, nas  favelas, nas cidades contra o racismo, pelo bem viver!

As cores vibrantes da África, as saias brancas e os brilhos em reverência aos orixás, os tambores dos terreiros e das rodas de samba e de maracatu realçaram a beleza da pele e deram ritmo às milhares de mulheres negras de todas as gerações, que no domingo, 28, ocuparam a orla de Copacabana e foram protagonistas absolutas das suas pautas.

Pelo 10º ano, a Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro, organizada pelo Fórum Estadual de Mulheres Negras, foi um dos atos políticos de rua que mais mobilizou pessoas. Segundo a organização do evento, representações de 52 dos 98 municípios do Rio de Janeiro estavam presentes. A enorme faixa que abriu a passeata anunciava: “Mulheres negras unidas contra o racismo e o bem viver”.

A manifestação deste ano teve como um dos focos mobilizar para a Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem viver, que acontecerá em novembro de 2025, em Brasília, quando é esperada a participação de mais de um milhão de mulheres negras de todas as partes do país. Gratidão às ancestrais guerreiras pela cultura, história e pelas raízes da luta por igualdade de direitos, dignidade e o combate ao racismo estavam presentes em todas as falas.

“Saudação as nossas ancestrais pelo ar que respiramos, pelo chão que pisamos” — agradeceu uma ativista antirracista

“Quando uma mulher negra se movimenta e luta por seus direitos e reconhecimento, ela não só transforma sua própria realidade, mas também desencadeia um impacto um impacto mais amplo que influencia e mobiliza a sociedade em direção a uma maior justiça e igualdade para toda a população”, diz um trecho do manifesto lido na manifestação. Conceição Evaristo, 78 anos, professora e autora de uma produção literária que combate a opressão do povo negro, leu parte do documento.

Denúncias

Ao longo da marcha, faixas de todos os matizes e tamanhos de diversas coletivos de mulheres negras, de várias partes do estado e da cidade, identificam as denuncias históricas da população negra, que é 56% dos brasileiros, tais como:

. Abusos, violência, omissões e morosidade nos processos jurídicos e nas ações policiais; encarceramento em massa e o genocídio da população negra, em especial da juventude negra e a letalidade policial; o subemprego e o desemprego da população negra e a falácia do empreendedorismo e o sucateamento das políticas públicas; a violência obstétrica, a violência doméstica e o feminicídio que atingem com maior impacto as mulheres e jovens negras; crianças e adolescentes negras são cerca de 40% dos casos registrados de estupro no Brasil, o dobro da incidência em comparação com as meninas brancas deste país; a luta contra o golpe e contra as políticas fascistas que tentam desqualificar e invisibilizar as lutas, conquistas e direitos, com práticas e discursos de ódio, mentiras, racismo, LGBTfóbico, misógino, sexista e o racismo que se renova a cada dia e a resistência contra os retrocessos, o que reflete a complexidade e s múltiplas batalhas que as mulheres negras enfrentam diariamente.

“Nós, mulheres negras unidas movimentam esse estado e vão movimentar esse país para que não haja nenhuma mulher chorando pela perda da sua cria” – Fórum Municipal das Mulheres Negras

Parlamentares negras de  partidos progressistas estavam presentes na marcha. “A nossa luta é cotidiana. Temos que lutar pela nossa fé que acreditamos e para ficar viva. Por isso é que temos que ocupar os espaços que decidem sobre nós. Vamos eleger mulheres negras nesta eleição. Minha participação da política é para estimular e encorajar outras mulheres negras a se candidatarem”, afirmou Benedita da Silva, deputada federal (PT-RJ).

Sintufrj, presente!

Servidoras da UFRJ, sob a liderança do Sintufrj, formaram uma ala na marcha. “Essa reunião de mulheres negras é muito importante, porque não nos sentimos sós, há um coletivo de lutadoras”, observou a aposentada Ivone Gabriel. “Muito lindo de ver essa multidão de mulheres de todas as cores, pintadas, de turbantes, lutando pela sua liberdade”, constatou a coordenadora sindical, Marli Rodrigues. “Estamos aqui mostrando a nossa força para vencer a violência racial em todos os níveis, o feminicídio e a exclusão social”, afirmou Fátima Rosane, também coordenadora do Sintufrj.

“Essa marcha nos dá visibilidade, mostra que nós, negras, temos voz, somos fortes e estamos prontas para a luta contra o racismo e a violência obstétrica, doméstica, policial…”, pontuou Selene de Souza. “Nós, mulheres índias e pretas participamos da marcha para mostrar nossa força nessa sociedade machista, que ainda não nos dá valor”, destacou Alzira das Neves.

“A marcha é um encontro maravilhoso de mulheres negras, nos enche de energia para a luta antirracista, por respeito e pela igualdade racial”, disse a aposentada Norma Santiago. “Essa marcha expõe o que está ocorrendo na vida das mulheres negras. E os valores culturais, como samba e a batucada, criados pelo povo negro e que foram absorvidos pelos brancos”, concluiu a aposentada Débora Ferreira. (Fotos: Elisângela Leite)

Marcha da Mulheres Negras em Copacabana.
Rio, 28/07/2024
Foto Elisângela Leite

 

 

 

 

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