Sintufrj manifesta apoio à greve dos trabalhadores dos Correios

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Funcionários da estatal em nove estados estão parados desde o dia 7 de agosto por reajuste de salários, em resposta a proposta da empresa e do governo federal de reajuste zero para a categoria. Eles lutam também por redução nos custos do plano de saúde, além de concurso já para suprir a grande falta de pessoal, que leva à precarização do serviço e à superexploração, e contra o sucateamento da empresa.

Os trabalhadores dos Correios não são a primeira nem a única categoria a se deparar com a proposta de 0% de reajuste pelo governo esse ano. Foi assim com os trabalhadores das universidades federais, que protagonizaram uma greve dura de três meses, bem como servidores do INSS, IBAMA e ICMBio, que neste momento lutam também por reajustes.

 

Ato e solidariedade

No quinto dia da greve dos trabalhadores dos Correios do Rio de Janeiro, 12 de agosto, a mobilização iniciou com força total, paralisando diversos setores e demonstrando a determinação da categoria.

Desde as primeiras horas da manhã, a greve ganhou corpo, com um crescente número de adesões que reforçam a importância das reivindicações dos trabalhadores.

Houve ato em frente ao Edifício Sede, na Cidade Nova, e a direção do Sintufrj manifestou seu apoio através de seu coordenador-geral, Esteban Crescente. O dirigente falou da greve dos trabalhadores das universidades que também lutaram contra o reajuste zero e por melhorias salariais e investimentos nas instituições de ensino, e cuja mobilização logrou vitórias.

“Viemos de uma greve de três meses que se encerrou no dia 2 de julho. Nós enfrentamos o arroxo em cima do trabalhador principalmente nos últimos sete anos do governo Temer e Bolsonaro. Nosso salário foi congelado e teve seu poder de compra muito corroído. As universidades sofreram com a falta de investimento. Trabalhadores terceirizados ficaram sem pagamento. Mas com a nossa greve conquistamos melhorias salariais e conquistamos recomposição de parte do orçamento as universidades. Por isso estamos aqui, porque entendemos a luta das trabalhadoras e trabalhadores dos Correios.”

O dirigente discorreu sobre a ausência de concursos, o advento do e-commerce, a sobrecarga dos trabalhadores dos Correios e o lucro das multinacionais, manifestando o apoio do Sintufrj à greve.

“O pior é que desde 2011 não tem concurso e muita gente do povo não sabe que nesse mesmo período explodiu o negócio do e-commerce, serviço de entregas, e a sobrecarga aumentou para os trabalhadores dos Correios. Várias agências Brasil afora foram fechadas tendo que se trabalhar por três. Já as multinacionais que fazem as transações de e-commerce ganharam bilhões. Quanto o trabalhador dos Correios ganhou desse lucro? Inclusive um lucro que a empresa ganhou parte dele. Por isso nós do Sintufrj nos solidarizamos com a luta das companheiras e companheiros dos Correios nos somando a esse enfrentamento.”

Esteban Crescente chamou os trabalhadores dos Correios para somar ao ato da educação nessa quarta-feira, 14, informando que o governo contingenciou parte do orçamento da educação, fruto do Arcabouço Fiscal, e que isso vai estourar no funcionamento das universidades.

“Infelizmente continuamos nossa luta. Chamamos os companheiros para o nosso ato contra o contingenciamento de parte do orçamento da educação que consequentemente reduz o orçamento das universidades para poder cumprir o chamado Arcabouço Fiscal que serve aos interesses dos banqueiros. A mesma política que a gente enfrentou na gestão Temer e Bolsonaro. Queremos acabar com essa política de vez. E para enterrar essa política não podemos esperar as coisas acontecerem, é ir para a rua, com luta diária, fazendo greve. Parabéns as trabalhadoras e trabalhadores dos Correios”, finalizou Esteban.

 

Reivindicações

A greve dos trabalhadores dos Correios vem após se mobilizarem contra as ameaças de privatização durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). São Paulo e Rio concentram cerca 40% do efetivo de quase 80 mil funcionários da estatal e 60% do fluxo postal do país, de acordo com a Federação Interestadual dos Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Findect).

Douglas Melo, diretor de Comunicação da Findect, disse que a paralisação foi a última alternativa para os trabalhadores, após meses de negociação e 14 reuniões com representantes da empresa e governo. “Chegamos no limite”, resumiu.

Os trabalhadores reivindicam 5% de reajuste salarial pago ainda neste ano, mais R$ 300 de aumento igualitário para todos os funcionários. “Esse aumento linear é para reduzir a diferença salarial entre os que menos e os que mais ganham na empresa”, explicou Melo. “Nos Correios, o maior salário é 30 vezes o menor.”

Segundo ele, outra reivindicação diz respeito a mudanças no plano de saúde corporativo da estatal. Os trabalhadores pedem que o desconto do salário mensal referente ao plano seja recalculado e que a coparticipação por consultas e exames caia de 30% para 15%.

“Cerca de 20 mil funcionários já deixaram o plano de saúde”, relatou. “São quase 1 mil desligamentos do plano por mês.”

 

Proposta do governo

Os Correios propõem um reajuste de 6,05% nos salários dos funcionários, mas só em janeiro de 2025. Além disso, reajuste de 4,11% nos benefícios a partir deste mês.

Outra proposta inclui o aumento de 20% na função dos empregados “motorizados” – ou seja, motociclistas e motoristas.

A empresa informou ainda que o plano de saúde dos funcionários está em processo de alteração para redução da coparticipação, conforme o solicitado pelos trabalhadores.

Os Correios lembraram que, até o final do governo Bolsonaro, a empresa estava em processo de privatização “o que gerou incerteza e insegurança para empregadas e empregados”. “Além disso, o governo anterior havia retirado mais de 50 cláusulas do acordo coletivo dos Correios, extinguindo direitos históricos”, acrescentou.

Os Correios lembrou também que Lula retirou a empresa do programa de desestatização. Também “reabriu as portas para os sindicatos, retomou o diálogo, resgatou mais de 40 cláusulas do acordo coletivo e fechou um acordo em mesa de negociação, o que não ocorria há sete anos”.

 

Posição dos trabalhadores

Melo, do Findect, reconheceu os avanços promovidos pela nova gestão da empresa. Segundo ele, eles ocorreram principalmente no ano passado. Este ano, porém, eles cessaram. A empresa e os trabalhadores sentiram isso.

No ano passado, os Correios tiveram prejuízo de R$ 597 milhões. No primeiro trimestre deste ano, esse prejuízo chegou a R$ 800 milhões.

“Isso tem a ver com a demora da empresa em expandir atividades para novas áreas, como comércio eletrônico e telecomunicações, e com a terceirização de serviços”, avaliou Melo.

Os Correios informaram que, entre 2023 e 2024, a atual gestão está investindo R$ 580 milhões em obras para melhoria das unidades, mais R$ 430 milhões em segurança para empregadas e empregados e mais de R$ 850 milhões na compra de novos veículos.

A Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) declarou que está acompanhando com apreensão “a falta de rumo da empresa, a falta de perspectiva de investimentos para melhorias das condições de trabalho, necessidades urgentes de modernização e também o conflito com as representações dos trabalhadores neste momento”.


Com matéria do site do Brasil de Fato

 

 

 

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